segunda-feira, 8 de janeiro de 2007

Anónimo

Como comentário ao post Déjà vu? (6 de Janeiro) um anónimo escreveu:

«Um embrião, nas primeiras semanas, nem sistema nervoso tem. Aconselho quem vota não, a tornar-se vegetariano, pois seriam coerentes. Dado ser dotada de sistema nervoso, o que faz com que sintam dor e eventualmente até tenham alguma forma mais básica de consciência, uma vaca ou um porco deverão ter bastantes mais direitos que um embrião. Inclusive o direito à vida.
Misturar seres humanos com consciência, com embriões, é um absurdo. »
7 de Janeiro de 2007 17:47

Gostaria de me debruçar sobre estas frases.

«Um embrião, nas primeiras semanas, nem sistema nervoso tem

Por favor, lhe peço que me diga onde leu isso. Onde? Ouviu alguém dizer isso, foi um amigo que lhe disse? Ou informou-se com algum médico?

Um embrião com 10 semanas é praticamente uma miniatura de um adulto, com é óbvio não está completamente formado, mas qualitativamente a diferença entre um embrião ás 10 semanas e um bebé recém-nascido é mínima. Sim, tem sistema nervoso, os órgãos estão todos formados, o coração bate, os dedos fecham-se quando estimulados, reage a estímulos exteriores, etc. Veja as fotos no meu blog ou pergunte a qualquer médico, mas informe-se.

Até pode continuar a defender que matar um ser humano às dez semanas não deve ser crime mas por favor não fundamente a sua posição no boato, no “diz-que-disseou no “mas isso toda a gente sabe!”. Isso sim, seria um absurdo.

«Aconselho quem vota não, a tornar-se vegetariano, pois seriam coerentes. Dado ser dotada de sistema nervoso, o que faz com que sintam dor e eventualmente até tenham alguma forma mais básica de consciência, uma vaca ou um porco deverão ter bastantes mais direitos que um embrião. Inclusive o direito à vida.»

Não percebo onde quer chegar (?!). Será que quer dizer que não problema em abortar um ser humano com 10 semanas, porque este tem menos consciência que uma vaca ou um porco e que, como estes não têm direito à vida, um embrião de 10 semanas também não terá? Isso é perigoso, que, com esse tipo de argumento (baseado no direito à vida pela consciência) não haveria oposição ao aborto depois das 10 semanas, e agora depois das 12, e depois das 24, e até depois de nascer (um porco ou uma vaca têm uma consciência muito superior a um bebé acabado de nascer). Mas nesta fase do desenvolvimento todos nos arrepiamos, não é? Então o que mudou? Qual é a diferença que faz com que um bebé acabado de nascer tenha direito à vida e um que está dentro do corpo da mãe não tenha? De certeza que não é a consciência.

Quando defendo que o embrião deve ter o direito à vida defendo-o porque é um ser humano, com dignidade própria, e é por isso mesmo que não sou vegetariano mas é também por isso que (comendo carne) não somos canibais. Nós, os seres humanos, atribuímos mais valor e direitos aos indivíduos da nossa espécie tenham eles 10 semanas, 8 meses, 5 anos ou 100 anos. Todos eles são seres humanos iguais em dignidade e direito a viver.

«Misturar seres humanos com consciência, com embriões, é um absurdo

É de facto um absurdo se estivermos a falar de outros direitos como a liberdade de expressão, direito a votar, etc. Mas o direito à vida é o mais básico de todos sem esse não se pode ser nada, nem se pode ser.

Seres humanos com consciência e Seres humanos sem consciência (embriões, fetos, bebés, deficientes profundos, pessoas em coma, etc) são sem dúvida diferentes, mas têm todos em comum uma coisa: direito viver.
Não se está a misturar nada.

que falou e vegetarianismo, deixo-o com um excerto (com o qual eu espero que não concorde) do filósofo utilitarista Peter Singer:

« que reconhecer que estes argumentos se aplicam tanto ao bebé recém-nascido como ao feto. Um bebé de uma semana não é um ser racional nem autoconsciente. Por outro, muitos animais (não humanos) cuja racionalidade, autoconsciencia, sensibilidade à dor, etc., ultrapassam em muito a dos bebés humanos nascidos uma semana, um mês ou até um ano (sic).» Conclui dizendo que, como não se pode atribuir o direito à vida a um feto, «(...)o recém-nascido tem menos valor que um porco, um cão, ou um chimpanzé (sic).»

(Peter Singer, Taking life: abortion, - Pratical Ethics, London: Cambridge University Press, 1981. p.118)

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1 comentário:

Anónimo disse...

bom comeco