terça-feira, 25 de novembro de 2008

149 anos e um dia

Publicava-se em Inglaterra a mais fascinante obra da ciência de sempre.
Continuo sem perceber como é que não é de leitura obrigatória em todos os cursos de Biologia, não sei como é lá fora, mas choca-me encontrar colegas que se consideram biólogos sem nunca terem lido uma só linha da Origem.
Não tenho pejo nenhum em dizê-lo.
Com o título: On the Origin of Species by Means of Natural Selection, or the Preservation of Favoured Races in the Struggle for Life, foi mais que um golpe de génio, foi o resultado do trabalho de um cientista reservado e muito pouco dado a aventuras. Essa é uma das características que mais me espanta na personalidade de Darwin a sua modéstia quase a roçar a falta de coragem onde prevalecia uma resistência gigante às mudanças bruscas e, ao mesmo tempo, é nesta mente que germina e nasce talvez a maior mudança de paradigma da humanidade: A teoria da Evolução por selecção natural.
Ele coloca a Biologia de pernas para o ar, como deve estar, iluminando um mundo que assim teria uma matriz puramente empírica para o explicar.
Como é belo ver o Homem pensar sobre o mundo e, sem desculpas fáceis e demasiadas vezes falsas, explicar e compreender o que está fora dele. O Homem pode muitas vezes bastar-se a si próprio, sentimo-nos grandes quando isto acontece. Darwin observou, compilou e integrou uma montanha de factos para chegar às conclusões que expôs na Origem das Espécies.
Muitas vezes nos perguntamos e se não fosse ele... Bom, se não fosse ele, com certeza que viria outro, lembremo-nos que Wallace chegou a conclusões quase idênticas de uma forma completamente independente. Seria outro a descobrir os mesmo processos, mas o espantoso não é que pudesse ter sido outro, o mais espantoso é que não tenha sido outro!
Sempre foi um candidato quase impossível. Não corresponde a nenhum dos nossos estereótipos de cientista genial, nem a Newton, nem a Einstein, nem a Galileu, nem a Humboldt ou Lineu e muito menos a Aristóteles ou Leonardo. Nada disto, Darwin é o mais modesto e acanhado de todos, um banal cidadão Britânico em meados do século XIX. Competente, trabalhador, bem integrado e bem relacionado. Nada mais que isso. E foi até isso que mais deve ter chocado a sociedade Britânica na altura. Que um deles, um entre iguais, estivesse a dizer e a provar que mais não somos que feitos da mesma massa que todos os outros povos e culturas, temos a mesma origem: somos os mesmos. Foi um vulgar que revolucionou o mundo e a forma de nos vermos a nós mesmos.
Não somos mais que todos os outros animais e plantas, todos descendemos da terra, a mãe Terra. Todos somos irmãos e não há povos nem gentes superiores, nem em géneros nem em cores nem em espécies, todos evoluímos em conjunto e foi essa mesma dança que produziu e continua a produzir tantas e tão diversas formas de vida.
Darwin revelou a uma amigo em 1954 que expor a sua Teria da Evolução era "like confessing a murder". Esta expressão seria impensável na boca de qualquer outro revolucionário nas ciências. Darwin é, também ele, um de nós, um entre iguais. Foi um génio, mas bem mais próximo de nós do que dos excêntricos e incompreensíveis vultos da Física, da Matemática, da Química ou de todas as outras artes dos espectáculo.



Publicado simultaneamente no Lusodinos

As cabeças cheia de ar

Irra, que só deves ter vento na cabeça!
A expressão não podia vir mais a calhar já que dois professores de anatomia da Universidade do Ohio (EUA) publicaram este mês mais um trabalho sobre a os seios paranasais de dinossauros. O estudo "The paranasal air of predatory and armored dinosaurs (Archosauria: Theropoda and Ankylosauria) and their contribution to cephalic architecture." foi publicado na revista Anatomical Record por Larry Witmer e Ryan Ridgely e devo confessar que é do melhor que a paleontologia de dinossauros tem feito nos últimos anos. [Para um europeu como é estranho que o americanos ponham paleontólogos a ensinar anatomia humana aos seus futuros médicos.] E se há uma coisa que estes senhores não têm na cabeça é: ar.

Bom, para dizer a verdade até têm, todos temos! Reparem na figura abaixo e vejam quantidade de ar que a nossa cabeça contem. O azul escuro representa o nosso cérebro, todas as outras cores são preenchidas por ar.

























No que diz respeito aos dinossauros, esses, tinham necessidades realmente ciclópicas e para poderem perder algum do peso da cabeça (cerca de 8% para ser mais específico) acabaram por desenvolver (como eu detesto este verbo aqui) cavidades pneumáticas muito maiores que as nossas. Esses espaços preenchidos por ar são uma solução económica que certos animais, no decurso da sua história evolutiva, acabaram por explorar. A razão é simples, conseguimos aumentar o tamanho atenuando o aumento proporcional do peso sem comprometer a resistência. Experimentem abrir uma placa de cartão e vêm o que quero dizer, já que, o cartão canelado não é mais do que papel e ar! Se o ar existente no interior dessas mesmas placas fosse preenchido por papel teríamos algo mais parecido a madeira que a cartão, claro que seria resistente mas o peso seria muito superior. Muitas vezes é preferível perder 5% da resistência para podermos livrar-nos de 80% do peso.


Claro que para quem tinha uma cabeça que pesava 515 kg qualquer emagrecimento é bem vindo, não dá jeito nenhum ser tão cabeçudo.
No caso dos dinossauros, era extremamente "inteligente" ter a cabeça cheia de ar.




A Evolução é um processo fascinante e muitas outras utilidades poderiam ser extraídas destas cavidades: ressonância para vocalizações e consequente comunicação entre os animais, ou mesmo a amplificação de sons mais difíceis de ouvir, ou até mesmo a termorregulação através do ar respirado... Tudo isto pode ser estudado com o recurso a técnicas de Tomografia Computorizada e de processamento dos dados em software de manipulação 3D. O resultado final são crânios virtuais mais parecidos a esculturas pré-colombianas do que a fósseis do Mesozóico.
Um mundo está ainda por explorar para quem pensava que ter a cabeça cheia de ar não tinha interesse nenhum.




Publicado simultaneamente no Lusodinos

terça-feira, 11 de novembro de 2008

O que é que os alemães se lembraram

É claro que o Smilodon nunca matou nenhum Tyrannosaurus nem nós descendemos de gorilas mas quero lá saber dos puristas. Está giro e basta.








E sim, a mulher é o futuro.



Encontrei o vídeo aqui.

sábado, 8 de novembro de 2008

Brilhante

No céu brilhou mais uma estrela a 7 de Novembro de 1913.
E, se me tivesse lembrado de escrever isto ontem, teriam feito 95 anos desde então.

Sempre que falamos em Teoria da Evolução recordamos sempre um só nome e nem nos apercebemos que a publicação que fundou essa mesma teoria foi assinada a quatro mãos.

Sobre a Tendência das Espécies formarem Variedades; e sobre a Perpetuação de Variedades e Espécies por Meios de Selecção.

Foi apresentada à Linnean Society a 1 de Julho de 1858 e deu o pontapé de saída para uma mudança na forma de pensar o mundo natural. A biologia nunca mais foi a mesma.

Obrigado Wallace por tudo.





Aqui a página Alfred Russel Wallace.






Publicado simultâneamente no Lusodinos