sábado, 6 de janeiro de 2007

Déjà vu?

São inúmeras as coincidências (?) que se encontram ao navegar pela Net. Dei de caras com o site www.euvotosim.org pertencente a uma organização que faz campanha pela legalização do aborto, o Movimento Liberal Social (MLS). O MLS define-se como «…uma associação política que acredita na liberdade e na livre interacção entre indivíduos. Acredita que o Ser Humano é dotado de razão, consciência e responsabilidade e que a intervenção do Estado deve ser mínima, conduzindo a sociedade a uma existência pacífica e sustentável.(…)Acima de tudo, o MLS defende a liberdade.»
Até aqui tudo muito lindo e “moderno”, vejamos o que dizem sobre o aborto:




«
Perspectiva liberal

De um ponto de vista liberal, não se pode tolerar que o Estado imponha aos cidadãos um qualquer ponto de vista moral. Os cidadãos devem ser livres de agir de acordo com as suas consciências, enquanto a sua actuação não fizer diminuir a liberdade dos outros cidadãos.
Não podemos admitir que o Estado imponha aos cidadãos o seu julgamento moral sobre o que se pode ou não pode fazer.

A sociedade portuguesa está dividida no seu julgamento moral acerca do aborto: enquanto que muitos portugueses consideram o aborto imoral, muitos outros não partilham dessa opinião -- ou, pelo menos, agem em contradição com ela. Não cabe ao Estado intervir, decretando que qualquer destes grupos de pessoas tem razão.

Alguns tentam fugir ao argumento anterior, argumentando que, quando uma mulher aborta, estará a ofender as liberdades, nomeadamente o direito à vida, de outrem - do embrião abortado. Mas muitos portugueses não compartilham desta posição, uma vez que não consideram que um embrião seja um ser humano, provido de todas as liberdades e de todos os direitos de um ser humano. Mais uma vez, não cabe ao Estado intervir, impondo à sociedade um julgamento sobre quem é um ser humano e tem os inerentes direitos.(www.euvotosim.org/argumentos-do-sim)»




Parece uma argumentação inatacável não é? Quem pode ser contra a liberdade? Como podemos impor a nossa noção de liberdade aos outros?
Como comentário a este texto transcrevo um outro (da autoria de José Sampaio) que encontrei em 1998 e que, pelos vistos, continua extremamente actual. Reparem como o primeiro parágrafo que se segue, poderia ser incluído no texto do MLS sem qualquer alteração:





«A citação seguinte resume a posição dos que advogam a despenalização do aborto: «
O princípio supremo é o direito que cada um tem de julgar e decidir por si sobre a rectidão ou o erro, sobre os benefícios ou malefícios, de um acto. E o direito de agir livremente, o direito à liberdade de pensamento, de livre análise das questões, é o nosso direito mais querido (...) É preciso deixar que as pessoas decidam por si próprias.» Para eles, a liberdade de escolha individual é o princípio fundamental que não pode ser limitado pela lei. Não advogam o aborto como um bem. Segundo eles, não se quer forçar ninguém a abortar. Mas acham intolerável que a lei proíba ou penalize quem, baseado nesse princípio, opte pelo aborto: quem não quer abortar, não o faça; mas não imponham a sua moral aos outros. Propugnam a tolerância total em nome da liberdade.

Talvez se ignore que esta foi exactamente a argumentação usada pelos esclavagistas nos USA.
A citação inicial, de facto, é um discurso (1858) de S. Douglas, um dos maiores defensores da sociedade esclavagista. Nele se advoga que quem não quer escravos, não os tenha; mas não imponha a sua moral aos outros. Ele aliás nem os tinha.

Como muitos que eram pela manutenção da sociedade esclavagista, não era sequer 'a favor' da escravatura. Mas achava intolerável a existência de leis que proibissem os escravos: a decisão de os ter ou não, era, como hoje se diz, 'uma questão de consciência'.

Recorriam ainda a ditos imbecis afirmando que os escravos não eram seres humanos, ou que, sendo humanos, não eram pessoas, não tinham os mesmos direitos que as outras. Também neste aspecto as teses abortistas, contra toda a racionalidade, negando que o feto seja um de nós e dotado de igual dignidade, percorrem o caminho repugnante do esclavagismo.

Abraham Lincoln derrotou Douglas mostrando que os direitos naturais e universais têm de ser sempre respeitados e que a sociedade nunca pode aceitar os actos que contra eles atentam, devendo proteger-se com leis que os proíbam; mostrando que quem, 'em consciência' escraviza outro ser humano, comete um crime - enfim, combatento aquela que é hoje a argumentação abortista. Se vivo, Lincoln, lideraria a campanha pelo NÃO, no referendo do aborto. (José Sampaio)»




Curioso, não acham?

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2 comentários:

Anónimo disse...

Um embrião, nas primeiras semanas, nem sistema nervoso tem. Aconselho quem vota não, a tornar-se vegetariano, pois só aí seriam coerentes. Dado ser dotada de sistema nervoso, o que faz com que sintam dor e eventualmente até tenham alguma forma mais básica de consciência, uma vaca ou um porco deverão ter bastantes mais direitos que um embrião. Inclusive o direito à vida.

Misturar seres humanos com consciência, com embriões, é um absurdo.

Anónimo disse...

Um absurdo não. Má fé!