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segunda-feira, 9 de março de 2009

À conversa com...

Vale a pena ver as declarações de um padre católico sobre a Evolução.
Num ano em que se discute tanto a teoria proposta por Darwin e Wallace em 1958, não poderia estar mais de acordo com todas as frase proferidas por este Jesuíta.
Uma lição de humildade e sabedoria comum à ciência e ao cristianismo.



Enormes são as críticas que se podem fazer, mas neste aspecto, somos usualmente muito ignorantes sobre a posição da Igreja. O resultado é, normalmente, colocar todos os religiosos no mesmo saco. Infelizmente somos assim...
Por favor, não percam o resto da entrevista que está disponível no youtube!





Publicado simultaneamente no Lusodinos

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Obrigado aos "sábios" de Roma

23.01.2008, Rui Ramos

No dia em que não pudermos ouvir Bento XVI, seremos mais obscurantistas e menos livres

"Há dias que quase toda a gente os anda a condenar. Parece-me que chegou a altura de lhes agradecer. Falo dos "sábios" que a semana passada, guiados por um velho estalinista e apoiados pela polícia de choque da "antiglobalização", dissuadiram o Papa de visitar a Universidade "La Sapienza" de Roma. No fim, deram-nos a todos um pretexto para rever matéria sobre teoria e história da tolerância. Não era esse o objectivo? Foi esse o efeito. E permitam-me que também aproveite a boleia. Quem sabe? Talvez os "sábios" tenham aprendido alguma coisa e não nos proporcionem tão cedo outra oportunidade.
Parece que há gente, na Europa, a quem as religiões voltaram a meter medo. Depois do 11 de Setembro, a religião tomou o lugar que o nacionalismo tinha no tempo da guerra da Jugoslávia. Não havia então semana sem mais um livro a denunciar o perigo do nacionalismo, a desconstruir o seu insidioso apelo, e a examinar as suas sinistras raízes. Agora, é a vez da fé em Deus. Subitamente, vemos andar novamente por aí as velhas casacas e chapéus de coco do anticlericalismo. Acontece que, em vez de marcharem contra o jihadistas, ei-los a avançar contra as igrejas cristãs, e especialmente contra a católica. Enganaram-se de século? É por hábito? Ou dá-lhes mais jeito mostrar contra o Papa a coragem que lhes falta perante os jihadistas? Pois: morrer pelas ideias, mas de morte lenta.
Sim, na Europa, até ao século XIX, as igrejas de Estado resistiram ao pluralismo e à sua expressão. Mas a intolerância e a perseguição que milhões de europeus sofreram nos últimos duzentos anos não se ficaram a dever às religiões tradicionais, mas às modernas ideologias laicas. Os deuses dos que não acreditam em Deus foram sempre os mais sedentos. Em nome do Ente Supremo, da ciência ou do racismo pagão, republicanos jacobinos, marxistas-leninistas e fascistas "moralizaram", proibiram e abasteceram largamente cemitérios e valas comuns. Os que prezam a liberdade de "errar" (e não apenas a de pensar "correctamente") têm uma dívida para com quem criticou os velhos dogmas, como Voltaire, mas também para com quem resistiu aos novos, como João Paulo II. Neste mundo, a liberdade de pensamento não tem pais exclusivos.
O fundamentalismo laicista trata toda a convicção religiosa como o vestígio absurdo de uma idade arcaica, intolerável fora do espaço privado. Mas a fé não é fácil, não é uma opção primitiva nem simplesmente um preconceito. Ou antes: pode ser tudo isso, mas pode também corresponder à mais forte exigência intelectual e à disponibilidade para enfrentar profundamente as mais difíceis de todas as dúvidas. Exactamente, aliás, como o ateísmo: há quem o viva como um dogma beato, muito contente consigo próprio, ou quem o tenha adoptado como a forma mais conveniente de não pensar. Muitos são hoje ateus pelas mesmas razões por que teriam sido beatos no século XVII. E se mandam calar Bento XVI é porque, há quatro séculos, teriam mandado calar Galileu.

As campanhas contra a religião como um óbice à concórdia e à modernidade erram frequentemente de alvo. A Irlanda e a Palestina são confrontos de nacionalismos com origens seculares. O jihadismo, como argumentou John Gray, deve tanto ou mais às ideologias laicas europeias do que à tradição islâmica. E na última década, partidos de inspiração religiosa contribuíram muito mais para a modernização e liberdade da Índia e da Turquia do que os seus adversários laicos. Nos EUA, a religião pertence ao espaço público, sem que o Estado deixe de continuar separado de qualquer igreja.
Hoje em dia, é nos crentes que certos princípios fundamentais para a nossa liberdade encontram a voz mais desassombrada. Por exemplo, a ideia da dignidade e da autonomia da pessoa como limite para experiências políticas e sociais. Numa cultura intoxicada pela hubris da ciência e das ideologias modernas, certas religiões conservaram, melhor do que outros sistemas, a consciência e o escrúpulo dos limites. O mesmo se poderia dizer da questão da verdade, que a ciência pós-moderna negou, sem se importar de reduzir o debate intelectual ao choque animalesco de subjectividades.
Não, não é preciso fé para perceber que das religiões reveladas (e doutras tradições de iniciação espiritual) depende largamente a infra-estrutura de convicções e sentimentos que sustenta a nossa vida. O seu silenciamento no espaço público não seria um ganho, mas uma perda. No dia em que não pudermos ouvir Bento XVI, seremos mais obscurantistas e menos livres. Obrigado aos "sábios" de Roma por nos terem dado ocasião para lembrar isto. "

Historiador



Tou cada vez mais preguiçoso, não tenho tempo nem para postar textos meus nem para mais nada (aliás pode vê-se como escrevo o verbo "estar").

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Random Evolution.

Um dos maiores erros que se cometem ao falar de evolução dos seres vivos reside numa pequena confusão entre conceitos.
São já incontáveis as vezes com que me deparei com o seguinte comentário:

"Se a evolução se deve ao acaso então estamos todos aqui por pura sorte? Foi uma sorte do caraças, não foi?"

A resposta é não e sim . Depende da definição de acaso. Não estamos aqui por mero acaso mas sim, foi uma sorte dos diabos estarmos todos aqui.

O resultado de milhões de anos de evolução (ou seja, todos os seres vivos actualmente existentes) não se deve seguramente só ao acaso, mas podemos dizer com igual segurança, que foi uma sorte descomunal chegarmos aqui e sermos como somos.

Porquê?

Se esquecermos outros processos evolutivos e aceitarmos que a Evolução é impulsionada essencialmente pela selecção natural, então ficamos com um mecanismo que nada tem de aleatório. O próprio termo ajuda a percebê-lo, "selecção" implica uma escolha que raramente é aleatória. O que espanta é que esta seja "natural", ou seja, não necessitar de ser dirigida. É a própria Natureza que selecciona quem sobrevive ou deixa mais descendentes.

A confusão a que me referia deve-se ao facto de a variabilidade que é seleccionada ser não dirigida e não aleatória. Aliás, mais do que não ser aleatória, existem limites e restrições para as diferentes formas que a variabilidade pode assumir. Nunca iremos ver uma ave a deslocar-se com um motor a jacto, por mais útil que isso pudesse ser. Simplesmente não existem mutações nem nenhum caminho evolutivo viável que leve uma ave a alterar-se de forma a desenvolver naturalmente todas as peças de um motor a jacto no seu corpo.

Assim a variabilidade natural - o material que alimenta as "escolhas" da selecção natural - restringe-se aos limites impostos pela constituição do genoma dos seres vivos e não é dirigida com nenhuma finalidade. É só nestes termos que os biólogos se referem à aleatoriedade da variação existente na Natureza. Nem todas as variações tem igual probabilidade de surgir e nem todas têm as mesmas hipóteses de se fixar nas populações, são de facto imprevisíveis mas não são "ao acaso". Longe disso.

E quanto ao facto de estarmos aqui todos da forma como estamos?...

Apenas o devemos às circunstâncias ambientais que conduziram a selecção natural a seleccionar todas as nossas características físicas. Ou seja, devemos a nossa existência às contingências do nosso passado evolutivo. O acaso deu uma ajuda até aqui, mas foi uma selecção muito rigorosa que nos moldou.

Foi uma sorte sermos moldados nesta forma, caso contrário que acaso poderia levar-me a escrever desta forma?

domingo, 11 de março de 2007

Uma frase,

De mim não aprendereis filosofia, mas antes como filosofar, não aprendereis pensamentos para repetir, mas antes como pensar.

Immanuel Kant

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

IDiotas.

Aqui está a prova de que não basta parecer sério para se estar certo.

Este pseudo-documentário não passa de um chorrilho de falsidades apresentadas da forma mais desonesta possível com o intuito de convencer os espectadores menos informados.
Desculpem o desabafo, mas é revoltante para um biólogo assistir a tantas mentiras e meias-verdades sem mostrarem um pingo de vergonha na cara.

Fé é acreditar sem provas.
Acreditar forjando as provas é estupidez.
Mais uma tentativa ridícula de fazer xeque-mate num jogo de futebol.



(Nem me atrevo a colocar o resto do programa, mas se tiverem curiosidade podem encontrar o resto no YouTube)

sábado, 24 de fevereiro de 2007

Acabar com a Religião? Por que não.

Talvez não seja claro para muitos ateus, que professam o fim da fé e das religiões, o que implica defender um mundo totalmente secular.

Afirmam que nada seria melhor e mais eficaz para exterminar todos os grandes males mundiais. De acordo com estes ateus através da argumentação, lógica, discussão pública, alterações sociais e da luta pacífica (e violenta em alguns casos) poderemos um dia viver num mundo sem Deuses, Religiões, Dogmas ou Fé. Mas será isso moralmente defensável?
Será que Dawkins tem razão quando se refere à Religião como «A raiz de todo o Mal»?
Será isto verdade? Que implicações terá uma conclusão como esta?
E que premissas têm de se verificar para que possamos aceitar lutar por um mundo assim?

Como é lógico, para compreender o problema, não basta definir o termo "religião" como tudo aquilo que produz o mal.
Seria circular.
Se alguém apresentasse um exemplo de um bem que resultasse da religião, como a Obra da Madre Teresa em Calcutá, bastaria dizer que isso não era exactamente algo com uma origem realmente religiosa, já que, a verdadeira Religião (por definição) é raiz de todo o mal. Assim, o exemplo de Calcutá não encaixaria na nossa definição de um acto religioso. E mesmo que apresentássemos um outro contra-exemplo de atrocidades cometidas por regimes seculares como os de Pol Pot, Mao, Estaline ou Hitler poderia ser argumentado que esses regimes são outras formas de Religião já que a verdadeira Religião é a raiz de todo o Mal.


É uma variante do famoso argumento do no true scotsman, para melhor o apresentar vejamos o que escreveu Antony Flew em 1975:

"Imagine Hamish McDonald, a Scotsman, sitting down with his Press and Journal and seeing an article about how the "Brighton Sex Maniac Strikes Again." Hamish is shocked and declares, "No Scotsman would do such a thing." The next day he sits down to read his Press a
nd Journal again and this time finds an article about an Aberdeen man (a Scotsman) whose brutal actions make the Brighton sex maniac seem almost gentlemanly. This fact shows that Hamish was wrong in his opinion, but is he going to admit this? Not likely, this time he says, "No true Scotsman would do such a thing."

Este argumento é uma falácia, já que a definição de Escocês não depende de se cometer ou não crimes horrorosos. Mas, para mantermos a afirmação de que nenhum Escocês cometeria um crime desses, temos de alterar a sua definição caso nos deparemos com uma excepção: alteramos Escocês para verdadeiro Escocês e pronto, resolvemos o problema. Ou seja um Escocês deixaria de ser alguém que nasceu na Escócia (ou que tem a nacionalidade escocesa) para passar a incluir mais um requisito: não cometer atrocidades; mas isso era exactamente o que queríamos testar! Alterando a definição, estamos a excluir (ou incluir) arbitrariamente do termo em causa precisamente aquilo que queremos testar, é no mínimo estúpido e no máximo desonesto.

O mais curioso é que este exemplo foi utilizado por A. Flew, um ateu convicto, para criticar as definições de termos como cristãos ou religiosos e, de facto, expôs alguns argumentos falaciosos que defendem que nada de mal pode resultar das Religiões. Actualmente são raras as pessoas que acreditam nisso, é um lugar comum criticar a Inquisição, a opressão de Galileu Galilei, etc mesmo pela própria hierarquia da Igreja Católica.
Triste é deparar-me tantas vezes com a incompreensão desta falácia quando discuto com certos ateus fervorosos sobre a independência do Mal.
Quando o erro serve para provar que a Religião só pode ser a "raiz de todos os males" aí, a falácia do verdadeiro Escocês, já não é tão evidente.

No entanto nada disto nos ajuda a perceber se um mundo sem religiões ficaria ou não melhor.
Para se poder concluir que um mundo totalmente secular seria preferível a um mundo religioso temos de provar cinco pressupostos:


1º O que todas as religiões acreditam é falso (ou que mesmo não sendo falso, ou não se conseguindo provar a sua falsidade, é preferível vivermos como se fosse).

2º A existência da Religião tem mais efeitos negativos do que positivos na humanidade.

3º O mal resultante ao se destruir a Religião não produzirá um mal ainda maior que o que resultaria deixando tudo como estava.

4º O modelo alternativo que propomos para o mundo é melhor que o actual paradigma.

5º É possível acabar com a Religião.


Basta que uma destas premissas não seja verdade para não valer a pena lutar pela abolição da Religião das nossas sociedades. Os cinco pontos são independentes e necessários para que se conclua que a humanidade não pode, nem deve tolerar esse "mal". Só assim reunimos as condições necessárias e suficientes para valer a pena acabar com a Religião, bastaria que apenas um ponto não se verificasse para que isso não fosse defensável.

Assim sendo, suspeito sempre de ataques contra a Igreja que se limitam a apresentar um conjunto de males resultantes da Fé seguidos de uma lista dos gloriosos feitos da Ciência para depois concluir que a primeira é horrorosa e que a segunda é a Luz do mundo.

Caso se verifique que as afirmações professadas pelas religiões (de todas ou só de uma, é indiferente) são verdade, o que devemos fazer? Será que se se provar que existe um Deus que é, segundo os nossos critérios humanos, mau e cruel, deveríamos tentar acabar com a Religião e enterrar a cabeça na areia? Ou deveríamos comportar-nos como Ele ordenou mesmo não compreendendo a Sua razão?

Torna-se então imperativo mostrar que o núcleo das crenças religiosas é falso, caso contrário é bom que nos comportemos como Deus nos aconselha.
(Em caso de dúvida parece ser mais prudente seguir o exemplo da aposta Pascal?)

De qualquer forma, o ponto 1 parece-me bastante difícil de provar já que muitas das afirmações religiosas são por definição não “falseabilisáveis”. Nunca poderemos provar que algo imaterial não existe (ou que é falso) já que é impossível executar testes em algo imaterial como almas, anjos, ou Deus.

Quando muito podemos dizer que Popper tinha razão, e que, respeitando a sua definição de Ciência o que não é empiricamente refutável não diz respeito à Ciência. Neste caso, seguindo uma abordagem estritamente científica, comporta-mo-nos como se as afirmações religiosas que não são empiricamente refutáveis fossem falsas. Mas seria desejável abordar todas as nossas questões quotidianas do ponto de vista estritamente científico? O que pode a ciência estritamente empírica dizer-nos sobre a estética e a Arte? Sobre o amor e a paixão? Não são todas estas realidades imateriais e empiricamente não refutáveis? Serão por isso menos válidas e vitais à humanidade?

Viveríamos num mundo melhor caso partíssemos todos do pressuposto que essas realidades não existem, ou não são úteis, só porque a Ciência não é a melhor linguagem para as descrever? Duvido.

A segunda premissa afirma que a Religião origina mais mal que bem. Mais uma vez é uma afirmação necessária mas não suficiente para justificar o fim das Religiões.

Não chega dizer que em nome da religião se fizeram (ou se fazem) coisas terríveis. Dizer mal da religião é facílimo (se as nossas fontes forem o jornal nacional da TVI), mas isso é uma enorme simplificação do que é ser-se religioso.
Eu também posso fazer uma lista gigantesca sobre: tsunamis, afogamentos, naufrágios, desastres ecológicos, cheias, secas, tempestades, chuvas ácidas, epidemias devidas a águas contaminadas, dizer que a maior parte da água que existe não é potável e que a maior parte da que o é não está facilmente acessível já que se encontra sob a forma de gelo, etc…. Nada disto prova que água faz mais mal do que bem à humanidade.

Com o ateísmo militante acontece algo de semelhante, assume-se que basta dizer mal das religiões para se poder concluir que são algo que se deve combater.

Duvido sinceramente que o bem que resulta (e deve resultar) das religiões (principalmente de algumas delas) não exceda o mal que pode (e não deveria) surgir das religiões. E já agora, duvido ainda mais que alguém consiga fazer um honesto balanço de todos os males e bens que já resultaram de todas as religiões sem dar em louco primeiro.

Relativamente ao ponto 3 pensemos num caso análogo (para não sairmos dos líquidos): o da proibição das bebidas alcoólicas. Para surpresa de muitos, hoje em dia, até sabemos que o consumo do bebidas alcoólicas também produz alguns benefícios na nossa saúde mas o que é claro para todos é que o álcool produz mais efeitos negativos que positivos. Agora, porque não proibimos o álcool já que ele faz mais mal que bem?
Uma explicação simples (que está por detrás de muitas das leis actuais) é que o mal que resultaria de o proibir seria ainda maior que o que é provocado pelo seu consumo livre. Basta recordar a lei seca na América do século passado.
Torna-se então evidente que ao advogarmos o fim da religião como um bem a priori devemos contabilizar o mal que resultaria da implementação desse bem. Mais uma vez nunca vi nenhum estudo que se debruçasse seriamente sobre este assunto.

Se não estivermos certos do ponto 3 como podemos propor o fim da Fé?

O ponto 3 e o ponto 4 podem parecer o mesmo mas no quarto refiro-me a uma realidade alternativa onde a Ciência ocuparia o lugar da Religião. Desta forma, penso que estamos longe de aceitar a Ciência como única forma de lidar com o mundo. O senso comum poderá ser, neste caso, um bom conselheiro. Não passa pela cabeça de ninguém dizer que viveríamos melhor se a Arte (ou a Politica, ou o Direito, ou até a Filosofia, etc) fosse substituída pela experimentação e deduções lógicas da Ciência pura. Seria ridículo dizer que viveríamos melhor, seria sem dúvida diferente, mas não estou nada convencido que seria melhor, viveríamos bem pior até. Ora, se este exemplo é válido para todas as áreas onde a Ciência pouco pode ajudar, porque insistem alguns ateus em tentar apresentar como desejável um mundo alternativo onde a Ciência ocuparia o lugar da Religião? Utilizamos instintivamente estes critérios todos os dias para quase tudo mas quando nos deparamos com assuntos que nos revoltam, parece que já não são válidos.

Analisemos agora o último ponto. Na realidade, o ponto 5, nem tem de ser verdadeiro para concluirmos que a Religião é um mal, só o coloquei como premissa porque é indispensável caso defendamos um mundo totalmente livre de todas as religiões.

Talvez este seja o obstáculo mais prático de todos. Mesmo que os quatro anteriores sejam verdade pode ser que seja impraticável (mesmo a longo prazo) a erradicação total de qualquer pensamento religioso da face da Terra. Talvez os (ou alguns) Seres Humanos necessitem de algo irracional e inexplicável como a Fé para viver. Talvez a crença irracional em algo que nos transcenda seja tão vital para alguns seres humanos como o oxigénio e, assim sendo, que direito temos de impor a nossa verdade ao mundo. Mesmo que se prove que a Religião é actualmente um mal a combater, ela poderá ter desempenhado um papel indispensável como paradigma moral básico em determinadas circunstâncias Históricas. Talvez.

Agora, no que diz respeito a um mundo sem Religião não vejo (da parte de quem deseja fervorosamente viver num mundo ateu) provas nenhumas de nada disto, vejo apenas meros palpites baseados em: suposições, especulações, convicção pessoal, desejos impulsivos, experiências individuais... Bom, resumindo: pura fé...

…e é aí que os meus caros amigos ateus militantes não estão em muito melhor posição que os fundamentalistas religiosos ao afirmarem (sem o demonstrar) que um mundo como eles o imaginam seria muito melhor para todos, só revelam menos coragem ao ponto de não se fazerem explodir pelo que acreditam.

sábado, 17 de fevereiro de 2007

Brincadeira

Como podemos usar as armas do adversário a nosso favor.



(Por favor, aproveito para alertar os mais novos que isto não deve ser repetido em casa. Todos os efeitos deste vídeo foram executados por pessoas especializadas e devidamente treinadas.)

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

Um golo numa partida de xadrez. (1)

Muito hesitei antes de dedicar algumas linhas a este assunto, mas basta estar atento para verificar que existe um fosso cada vez maior entre razão e emoção, entre racionalidade e irracionalidade.
O que não é tão evidente é a influência que cada uma tem na outra. O mundo encontra-se cheio. A sociedade exige-o, já não conseguimos viver no silêncio, o vazio assusta-nos, não o suportamos, incomoda, tem de ser preenchido.

Se não acontece nada nada somos.

Se não fazemos nada nada temos.

Nada nos move mais que o vácuo.
No entanto poucos são aqueles que na sua sede de conhecer distinguem o "Quê" do "Como".
A nós, cabe-nos apenas escolher de que forma queremos preencher esse caos: que Cosmos queremos construir, dentro de nós.
Atenção que o método que escolhemos não é independente do resultado. Neste caso ele molda inevitavelmente a forma do universo que criamos, é um filtro ou um molde, bem mais que um veículo de transporte de informação. Optar entre um ou outro filtro é cunhar o tipo de informação que estamos dispostos a aceitar.
O método que usamos para conhecer a realidade nunca foi inocente. O problema da nossa constante incompreensão deste facto reside apenas na pressa com que somos obrigados a encher-nos do que nos rodeia. "Não há tempo, estou atrasado..." curiosamente o coelho da Alice espelho-o bem. Existir sempre implicou tempo, mas o coelho só existe se não tiver tempo para nada e é essa mesma ausência de tempo que o torna real: só somos se não tivermos tempo.
Leonardo dizia: " A pressa, mãe da ignorância, admira a brevidade." Vivemos num mundo de pressas, brevidades, instantâneos e de ignorâncias, sem que umas sejam obrigatoriamente as causas e as outras as suas consequências nítidas.

É notório que num mundo cada vez mais globalizado e menos global, cada vez com mais informação e menos saber e cada vez mais instantâneo e menos imediato, a sociedade procure encontrar segurança nas mais duvidosas fontes. Independentemente de se virem a revelar falsas, como diz Richard Dawkins:
«A fé é a grande escapatória, a grande desculpa para se fugir à necessidade de pensar e avaliar as evidências. A fé é acreditar "apesar de", e até talvez precisamente "por causa", da falta de provas».

As provas não são válidas no domínio da Fé (por isso é que é Fé!).
É como
querer fazer xeque-mate num jogo de futebol.
As regras são outras, não é válido.

Acreditar através da Fé é algo interior, algo inexplicável, como diz Dawkins: «(...)"apesar de", e até talvez precisamente "por causa", da falta de provas».

Querer fazer o inverso também é ridículo: acreditar numa ciência através de um passo de Fé é
querer marcar um golo numa partida de xadrez, é ridículo.

cont...

sábado, 30 de dezembro de 2006

O decálogo de Bertrand Russel

"1. Não tenha certeza absoluta de nada.

2. Não considere que vale a pena esconder evidências, já que, as evidências inevitavelmente virão à luz.

3. Nunca tente desencorajar o pensamento, pois com certeza terá sucesso.

4. Quando encontrar oposição, mesmo que seja do seu marido ou das suas crianças, esforce-se para superá-la pelo argumento, e não pela autoridade, pois uma vitória dependente da autoridade é irreal e ilusória.

5. Não tenha respeito pela autoridade dos outros, pois há sempre autoridades contrárias a serem achadas.

6. Não use o poder para suprimir as opiniões que considere perniciosas, estas é que irão suprimir-lo.

7. Não tenha medo de ter opiniões excêntricas, pois todas as opiniões hoje aceites foram em tempos consideradas excêntricas.

8. Encontre mais prazer no desacordo inteligente do que na concordância passiva, pois, se você valoriza a inteligência como deveria, o primeiro será um acordo mais profundo que a segunda.

9. Seja escrupulosamente verdadeiro, mesmo que a verdade seja inconveniente, pois será mais inconveniente se tentar escondê-la.

10. Não tenha inveja daqueles que vivem num paraíso de tolos, pois apenas um tolo o consideraria um paraíso."

Como estava certo...