quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

Um golo numa partida de xadrez. (1)

Muito hesitei antes de dedicar algumas linhas a este assunto, mas basta estar atento para verificar que existe um fosso cada vez maior entre razão e emoção, entre racionalidade e irracionalidade.
O que não é tão evidente é a influência que cada uma tem na outra. O mundo encontra-se cheio. A sociedade exige-o, já não conseguimos viver no silêncio, o vazio assusta-nos, não o suportamos, incomoda, tem de ser preenchido.

Se não acontece nada nada somos.

Se não fazemos nada nada temos.

Nada nos move mais que o vácuo.
No entanto poucos são aqueles que na sua sede de conhecer distinguem o "Quê" do "Como".
A nós, cabe-nos apenas escolher de que forma queremos preencher esse caos: que Cosmos queremos construir, dentro de nós.
Atenção que o método que escolhemos não é independente do resultado. Neste caso ele molda inevitavelmente a forma do universo que criamos, é um filtro ou um molde, bem mais que um veículo de transporte de informação. Optar entre um ou outro filtro é cunhar o tipo de informação que estamos dispostos a aceitar.
O método que usamos para conhecer a realidade nunca foi inocente. O problema da nossa constante incompreensão deste facto reside apenas na pressa com que somos obrigados a encher-nos do que nos rodeia. "Não há tempo, estou atrasado..." curiosamente o coelho da Alice espelho-o bem. Existir sempre implicou tempo, mas o coelho só existe se não tiver tempo para nada e é essa mesma ausência de tempo que o torna real: só somos se não tivermos tempo.
Leonardo dizia: " A pressa, mãe da ignorância, admira a brevidade." Vivemos num mundo de pressas, brevidades, instantâneos e de ignorâncias, sem que umas sejam obrigatoriamente as causas e as outras as suas consequências nítidas.

É notório que num mundo cada vez mais globalizado e menos global, cada vez com mais informação e menos saber e cada vez mais instantâneo e menos imediato, a sociedade procure encontrar segurança nas mais duvidosas fontes. Independentemente de se virem a revelar falsas, como diz Richard Dawkins:
«A fé é a grande escapatória, a grande desculpa para se fugir à necessidade de pensar e avaliar as evidências. A fé é acreditar "apesar de", e até talvez precisamente "por causa", da falta de provas».

As provas não são válidas no domínio da Fé (por isso é que é Fé!).
É como
querer fazer xeque-mate num jogo de futebol.
As regras são outras, não é válido.

Acreditar através da Fé é algo interior, algo inexplicável, como diz Dawkins: «(...)"apesar de", e até talvez precisamente "por causa", da falta de provas».

Querer fazer o inverso também é ridículo: acreditar numa ciência através de um passo de Fé é
querer marcar um golo numa partida de xadrez, é ridículo.

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