domingo, 4 de fevereiro de 2007

Ser pelo Sim.

Ser pelo Sim é ser contra esta lei e querer uma nova lei porque esta lei condena mulheres à prisão, mas como não existem mulheres na prisão, continuar a exigir a alteração da lei porque a meia dúzia de julgamentos que ocorreu só condenou uma dúzia de pessoas e nenhuma está na prisão, e isso é inadmissível.

Ser pelo Sim é ser contra a humilhação das mulheres nos tribunais mas armar um circo mediático tão grande à volta dos poucos julgamentos que tiveram lugar, de forma a que toda a gente ficasse a conhecer os nomes e as caras das mulheres que só querem permanecer incógnitas e ao mesmo tempo dizer que como os julgamentos são uma vergonha, temos que mudar a lei, porque toda a gente viu o circo que armámos em frente aos tribunais para atrair atenções precisamente para aquilo a que nenhuma mulher que aborta quer que se saiba mas é preciso que se saiba porque senão não há razão para mudar a lei.

Ser pelo Sim é querer uma outra lei que não condene as mulheres porque são todas umas coitadinhas mas que as condene depois das dez semanas porque aí já são umas debochadas, e isso é inadmissível!

Ser pelo Sim é ser pela tolerância antes das dez semanas mas nunca depois porque aí já não se admite ser-se tolerante!

Ser pelo Sim é confiar na decisão íntima de cada mãe quando escolhe não ter aquele filho porque as mulheres não abortam por capricho, mas defender que depois das dez semanas ninguém deve confiar nas mulheres porque aí sim (quando a barriga aumenta) é que elas abortam por capricho, e isso é inadmissível!

Ser pelo Sim é querer acabar com uma lei que julgue uma dúzia de mulheres por década porque isso é inadmissível e dizer que essa lei não é aplicada e que é hipócrita porque não prende as mulheres que ninguém quer prender. É isto tudo e defender uma formidável alteração, para acabar com a hipocrisia de existir uma norma que não é cumprida, e simultaneamente propor uma outra que julgue e condene centenas de mulheres anualmente depois das dez semanas mesmo sendo essa a razão para acabar com as penas antes dessa data.

Ser pelo sim é querer acabar com todas as clínicas clandestinas porque são uma mina de ouro para pessoas horrorosas e sem escrúpulos mas defender que essas mesmas pessoas serão as mais honestas e responsáveis se se legalizarem e pagarem impostos porque aí já está tudo bem: podem viver só à custa do desespero de inúmeras grávidas mas desde que contribuam com impostos até serão ajudadas através de comparticipações a 100% das IVG com o orçamento geral do Estado. Porque assim é que está certo!
Porque, como o SNS não vai dar conta do recado, vão ser as clínicas privadas que irão garantir que exista alguém para ouvir e dissuadir a grávida de exercer um direito seu (legal, seguro e gratuito) e muito proveitoso para a clínica.
Porque até vão ser essas clínicas que vão verificar se as mulheres que lá chegam foram ou não coagidas por alguém e se suspeitarem que sim, mandarão logo investigar o caso.


Ser pelo Sim é ainda ir a tempo de aprovar uma lei que dá o direito a qualquer mãe sobre qualquer pretexto a matar o seu filho até às dez semanas porque toda a Europa o faz. Sim, ser pelo Sim é ser moderno.
Ser pelo Sim é achar que ainda vamos bem a tempo de fazer passar uma lei que muitos países já se arrependeram de a ter e estão agora a tentar mudá-la. Sim, ainda vamos bem a tempo de nos arrependermos (talvez com um atrasozinho de trinta anos, mas ainda vamos bem a tempo) , isto é ser pelo Sim!

Ser pelo Sim é querer proteger a liberdade de escolha das mulheres mais fracas mas não se ralar com a liberdade das que já existem mas ainda não nasceram. É querer proteger os mais fracos mas só os mais fracos que tenham passado para lá das dez semanas, porque assim é que é ser moderado.

Ser pelo Sim é não falar sobre quando começa a vida humana porque isso é muito complicado e, como ninguém tem certezas se "aquilo" é uma vida humana, querer dar liberdade para que cada um decida conforme acha, mas só até às dez semanas e em estabelecimento legalmente autorizado; se for depois das dez semanas ou num estabelecimento não autorizado, "aquilo" já deve ser considerado uma vida humana e quem a "interrompeu" uma vil criminosa!

Ser pelo Sim é defender que financiar anualmente, com os impostos de todos, milhares de IVG é um enorme passo em frente com a certeza que só pode contribuir para que haja cada vez menos abortos no país. É defender que legalizar faz diminuir uma prática, é defender que tornar uma prática gratuita vai fazer baixar o seu número e defender que esse é o caminho para acabar com o aborto, porque se houvessem indícios de que a legalização aumentava o número de abortos isso seria inadmissível!

Ser pelo Sim é ser pela vida humana das mulheres grávidas que querem "interromper" essa gravidez já que em Portugal todos os anos morrem dezenas (?), ou centenas (?), ou milhares (?), ou serão milhões (?) de mulheres só pelo simples facto de serem pobres e quererem acabar com a vida do seu próprio filho, que ainda não é filho porque não é pessoa mas é um ser humano que não tem os direitos de todos os seres humanos porque é só mais-ou-menos-ser-humano, e assim é que está certo!

Ser pelo Sim é achar que a gravidez pode tornar-se uma doença bastando para isso que a grávida assim o diga, já que, no nosso país as grávidas infelizes são um grave problema de saúde pública!

Ser pelo Sim é pensar que não há qualquer problema em obrigar as nossas mulheres a irem parir a Badajoz mas se lá forem abortar já é um grande problema porque não pode ser, não pode ser, e não pode ser. E se alguma mulher levantar esta questão basta chamá-la de nacionalista xenófoba para a calar e podermos descansar porque temos razão!

Ser pelo Sim é permitir que uma mulher possa "optar" cedendo às pressões do marido, da família, do patrão, da sociedade para que ela possa escolher em "liberdade" e para que não seja: espancada (pelo marido), renegada (pela família), despedida (pelo patrão), desapoiada (por todos nós) só por ser teimosa e querer ser mãe.
Ser pelo Sim é querer um mundo onde nos revoltamos com isto mas ajudamos os mais fortes a pressionar os mais fracos ao legalizar e tornar gratuito o que esses horrorosos querem impor às coitadas das grávidas.
É fazer o jogo dos horrorosos que condenamos e dizer com toda a certeza que é para o bem das mulheres.
Ou será que é para que todos possamos ter sempre mulheres bonitas, magras e disponíveis (?), afinal assim é que é ser jovem, moderno e desenvolvido: pelas mulheres-mulheres desprezando as mulheres-mãe. Que descanso é ser feminista e progressista, sempre contra todas as ideias machistas e conservadoras dos que defendem o Não...

Ser pelo Sim não é criar associações para apoiar todas as grávidas que estão desesperadas, isso não? isso é trabalho para os intolerantes obscurantistas do Não, ser pelo Sim é ver mais longe e oferecer um aborto em vez de ajuda, isso é sim é ser Sim!

Ser pelo Sim é ser-se coerente e ser-se superior aos outros, "é ser maior do que os homens" e ver mais alto.
É ser honesto intelectualmente e possuir uma lógica aristotélica inatacável já que nunca se contradiz nem é o resultado dos mais básicos sentimentos humanos mas sim o fruto da Razão Pura!


Assim Sim, vale a pena ir votar...

Viva a liberdade, igualdade e fraternidade!

Assim é o SIM. Viva o Sim!

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