quarta-feira, 21 de julho de 2010

PalNiassa 2010, Moçambique por descobrir

Muito trabalho há por detrás de uma expedição científica.
Mais trabalhosa é ainda se o destino for um país africano onde os recursos escasseiam e as infra-estruturas não abundam.

Fiz de cabeça uma lista dos perigos que poderíamos encontrar no campo em Moçambique e que nunca encontraríamos em Portugal. Decidi parar.

A lista é pequenina:
Mosquitos e moscas que podem transmitir malária, doença do sono e outras doenças;
Água contaminada;
Encontrar um animal selvagem de grande porte que não esteja pelos ajustes;
Ser picado por um dos muitos escorpiões e aranhas que por lá andam;
Ser mordido por uma mamba que pode espreitar de um galho de uma árvore;
Ser apanhado por uma queimada já que no inverno são muito frequentes;
Pisar uma mina antipessoal deixada durante a guerra;
Caso aconteça alguma coisa o "posto hospitalar" mais próximo está a meio dia de distância;
Etc...

Parece irresponsável ir escavar para um local assim mas deixem que vos diga que não são estes os riscos que me atormentam.

Preocupa-me não existirem em Moçambique mais parcerias e investigadores interessados em, de igual para igual, ajudar a desenvolver o país.
Incomoda-me não ver mais europeus a investir nas riquezas inexploradas, na agricultura, nas pescas, na educação, na saúde. Falta muito por fazer e o que sempre senti, em quase todos os moçambicanos que conheci, foi um empenho enorme em querer desenvolver mais o seu belo país e em estarem abertos a parcerias internacionais.

Por tudo isto lidero, com o meu colega e amigo Ricardo Araújo, o Projecto PalNiassa.
Não vamos mudar o mundo mas tentaremos deixá-lo um pouco melhor do que o encontrámos.

Moçambique está repleto de maravilhas naturais por estudar.
Esse mesmo estudo dos vestígios fósseis só nos pode fazer ver o mundo de uma forma mais completa e cheia de sentido.

Em breve teremos mais desafios mas teremos também mais novidades.
O maior perigo é não o conseguirmos fazer, é falharmos a tentar.

Vacinas sem seringas



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Novo material possibilita a auto-vacinação (Imagem: www.gatech.edu)

Investigadores americanos estão a desenvolver uma vacina em forma de adesivo que poderá substituir as seringas tradicionais, revela um estudo publicado na revista científica Nature Medicine.

O adesivo é composto por uma centena de agulhas microscópicas de 0,65 milímetros de comprimento que dissolvem quando entram em contacto com a pele, possibilitando também a auto-vacinação.



Desenvolvido pela Emory University e pelo centro científico Georgia Institute of Technology, este novo material foi testado em ratos e revelou-se até mesmo mais eficaz na imunização contra doenças como gripe do que as seringas. Os animais que receberam a vacina anti-gripe através dos adesivos desenvolveram um sistema imunitário mais resistente do que os que receberam a vacina pelo método tradicional.

Esta nova tecnologia permite também a aplicação de vacinas em larga escala durante pandemias ou em situações de calamidade, uma vez que não necessita de ser administrada por um especialista.

Outra vantagem tem a ver com o facto de “não sobrarem agulhas perigosas no processo" de vacinação, refere Richard Compans, da Emory University e co-autor do artigo, acrescentando que pretendem fazer alguns testes em humanos nos próximos tempos.

retirado daqui: Vacinas sem seringas

segunda-feira, 19 de julho de 2010

PaleoArt Teaching in Lourinhã - 2010

The Museum of Lourinhã anounces the workshop PaleoArt Teaching - 2010







Overview


The Italian painter Fabio Pastori, winner of the 6ª CIID - International Contest of Dinosaur Illustration - (amongst 71 artists, of 22 countries) and professor Sante Mazzei, specialized in computer aided drawing techniques, will host, under the sponsorship of GEAL - Museu da Lourinhã, a brand new summer class which they have named as PaleoArt Teaching - The Complete Lost World Journey.



During the course of nine days, students will have the opportunity to know the Museum, do field prospecting for fossils, learn and live with renowned artists, and those who search scientific illustration and painting know-how.



Fabio Pastori: www.fabiopastori.it

Santino Mazzei: http://www.jurassicparkitalia.it/


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quarta-feira, 14 de julho de 2010

Duas navalhas, dois ingleses e algum sentido de humor

Muitas são as ironias da História.

É muito curioso que a expressão latina "entia non sunt multiplicanda praeter necessitatem", tantas vezes usada pela ciência na sua luta por encontrar explicações mais parcimoniosas, tenha sido escrita por um frade franciscano em plena Inglaterra medieval: William de Ockham.

Serve a referida expressão para aconselhar que as variáveis não devem ser multiplicadas além da necessidade, ou posto de outra forma, sendo tudo o resto igual, devemos optar sempre pela solução mais simples. Quando fazemos ciência parece evidente por que devemos proceder assim e não quero, de forma alguma, colocar este bom princípio em causa. Por razões práticas dá muito jeito (perdoem-me a tautologia) que assim seja.

Apesar de extremamente útil, a navalha de Ockham, não é uma panaceia para tudo o que temos pela frente. O que fazer no caso de termos várias explicações igualmente simples? Que navalha devemos usar?

A primeira vez que pensei nisto senti-me sem rede. Nunca nos ensinaram que critério usar quando temos de escolher a melhor solução entre duas que, ceteris paribus, são igualmente parcimoniosas. Aqui, a navalha de Ockham, por mais afiada que seja, nada tem para cortar. Antes de tentarmos encontrar uma solução, façamos um salto de cinco séculos desde a idade média até meados do século XIX.

Em Novembro de 1959 publicava-se a mais fascinante obra de ciência de sempre. Continuo sem perceber como não é de leitura obrigatória em todos os cursos de Biologia. Choca-me encontrar colegas que se consideram biólogos sem nunca terem lido uma só linha da Origem e não me atrevo sequer a perguntar quantos doutorados no nosso querido instituto a leram.

On the Origin of Species by Means of Natural Selection, or the Preservation of Favoured Races in the Struggle for Life, foi mais que um golpe de génio, foi o resultado do trabalho de um cientista reservado e muito pouco dado a aventuras. Essa é uma das características que mais espanta na personalidade de Darwin, a sua modéstia, quase a roçar a falta de coragem, onde prevalecia uma resistência gigante às mudanças bruscas e, ao mesmo tempo, é nesta mente que germina a teoria da evolução por selecção natural.
Ele coloca a Biologia de pernas para o ar, iluminando um mundo que assim teria uma matriz puramente empírica para o explicar.
É belo ver o Homem pensar sobre o mundo e, sem desculpas fáceis e demasiadas vezes falsas, explicar e compreender o que está fora dele. O Homem pode muitas vezes bastar-se a si próprio.

Muitas vezes nos perguntamos "e se não fosse ele"...

Com certeza que viria outro, Wallace chegou a conclusões quase idênticas de uma forma independente. Apenas o tempo ditaria qual seria o outro a ficar com os créditos. Mas, o espanto não é que pudesse ter sido outro, o espanto é que não tenha sido!
O jovem de Shrewsbury foi sempre um candidato muito improvável. Não corresponde a nenhum dos nossos estereótipos de cientista genial, nem a Einstein, nem a Lineu, nem a Newton e muito menos a Galileu ou Aristóteles. Nada disto, Darwin é o mais modesto e acanhado de todos, um banal cidadão britânico do século XIX. Competente, trabalhador, bem integrado e bem relacionado. Foi chocante que um deles, um entre iguais, estivesse a demonstrar que mais não somos que feitos da mesma massa que todos os outros povos e culturas, temos a mesma origem: somos os mesmos. Foi um vulgar que revolucionou a forma de nos vermos a nós mesmos. Todos somos irmãos e não há povos nem gentes superiores, nem em géneros nem em cores nem em espécies, todos evoluímos em conjunto e foi essa mesma dança que produziu e continua a produzir tantas e tão diversas formas de vida.

Darwin revelou a um amigo em 1954 que publicar a sua Teria da Evolução era "como confessar um crime". Esta expressão seria impensável na boca de qualquer outro revolucionário nas ciências. Darwin é, também ele, um de nós, um entre iguais. Foi um génio, mas bem mais próximo de nós do que dos excêntricos e incompreensíveis vultos da Física, da Matemática, da Química ou de todas as outras artes dos espectáculo.

Pode ser contra-intuitivo, mas torna o mundo muito mais divertido pensar que foi entre burgueses vitorianos que a mais brilhante descrição do mundo vivo surgiu. Muito embora (e por ser) extremamente improvável, Darwin apresentou a solução mais divertida. Imaginar milhões de espécies a partilharem uma ancestralidade comum e conceber que todas essas formas se tenham modificado mutuamente, ao longo de milhares de milhões de anos, pouco a pouco, até termos a maravilha natural que nos rodeia, tem muito mais graça, que crer num mundo criado estático e inviolável.

Darwin observou, compilou e integrou uma montanha de factos para chegar às conclusões que expôs na Origem das Espécies. Já na altura não existia sequer uma igualdade de circunstâncias mas foi também a solução com mais humor que prevaleceu. Se tivermos sempre este princípio em mente, podemos juntar mais uma navalha ao nosso estojo epistemológico dizendo que: em caso de igualdade, devemos escolher a hipótese mais divertida.

Pelo menos, enquanto não provarem o contrário, teremos um mundo com muito mais piada.




terça-feira, 13 de julho de 2010

Two razors, two Englishmen and some sense of humor

History is made of ironies.

It is curious that the Latin expression “entia non sunt multiplicanda praeter necessitatem”, so often used by scientists in the search for ever simpler explanations, was first written by a medieval English Franciscan monk, William of Ockham.

The principle now known as Ockham’s razor says that variables must not be added beyond necessity and counsels that, if everything is equal, the simplest explanation is usually the correct one. In science it seems evident that this should be the case and I wouldn’t want to contradict it in any way. For practical reasons comes in very handy (sorry for the tautology) that we should always use this razor.

Although extremely useful, Ockham’s razor is not applicable to everything we come across. What should you do if all possible explanations are equally simple? In this case, which razor shall we use?

The first time I thought about this I felt I was going into freefall. We were never taught which criteria to use when facing, ceteris paribus, two equally simple and plausible solutions. Here, Ockham’s razor, as sharp as it may be, can’t do the job. Before finding a possible solution, let’s jump five centuries, from the medieval ages into the middle of the 19th century.

In November 1859 the most amazing book about science of all times was published. The reading of which should be compulsory for all biology based courses. It is shocking to find colleagues that call themselves biologists and yet have never read even one sentence of the Origin. I don’t even dare to ask how many PI’s in our beloved institute have not read it. On the Origin of Species by Means of Natural Selection, or the Preservation of Favoured Races in the Struggle for Life, was more than a stroke of genius. It is the result of hard labour by a reserved scientist, one not much given to adventures. This is one of the characteristics that amazed me most about Darwin’s personality: his modesty, almost blurring into lack of courage, where resistance to dramatic changes lived alongside the theory of evolution by natural selection. He turned biology upside down, shedding light on a world that had just started to have a purely empirical explanation basis. It is beautiful to see Mankind thinking about the world, explaining and understanding nature without turning to easy and so many times false, explanations.

Sometimes we may ask ourselves “if it hadn’t been for him...”.

Surely someone else would appear. Wallace came to almost the same conclusions independently. Only time would tell who else to credit.

The awe comes not from the thought that could be someone else, but from the fact that it was not someone else!

The young naturalist from Shrewsbury was always an underdog. He doesn’t conform to any of our stereotypes of a genius: not to Einstein, to Linnaeus, to Newton and even less to Galileo or Aristotle. Darwin was the most modest and shiest of them all, a simple British citizen of the 19th century: competent, hard working, a solid member of society and a well connected one. It was outrageous that one of them, a gentleman, was showing to the world that we are not superior to anyone from a different culture or society: that we all have the same origin. It was a common person that changed the way that we see ourselves. We are all brothers and no society or people are above others, neither in gender, colour or species. We all evolved together and, in this global dance, so many and so diverse life forms arose.

Darwin told a friend in 1884 that to publish his theory was “like confessing a murder”. This expression is unthinkable for any other revolutionary of science, but Darwin is like all of us, he was one amongst equals. He was a genius, yet closer to us than other incomprehensible eccentric figure from Physics, Mathematics, Chemistry, or any other field of show biz.

It may not be very intuitive, but is certainly funnier, to think that it was amongst the Victorian aristocratic classes that the most brilliant and subversive description for the origin of Life arose. Even so, and because it was so improbable, Darwin presented the most curious solution. To imagine millions of species sharing a common ancestor, and conceive that all of these forms have mutually modified each other over billions of years, giving rise to all this beauty that surround us, is by far more amusing than to believe in a static and immutable world.

Darwin observed, compiled and integrated a mountain of facts to present the conclusions that he wrote in the Origin of Species. Even at that time there was no equality of circumstances, yet it was the funnier solution that prevailed. If we have this principle in mind, we can add another razor to our epistemological tool bag proclaiming that, if all solutions are equally plausible and simple, choose the funniest.

At least, and until proven wrong, we will have a droller new world.


In Quinta Grande - The Newsletter of the Instituto Gulbenkian de Ciência - Summer 2010 - Issue 6

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Parabéns, capa da Nature

Notícia do expresso:

Afinal, o protão é mais pequeno e ameaça Teoria Quântica

Uma equipa de cientistas que inclui oito portugueses descobriu que o protão, um dos constituintes da matéria, é mais pequeno do que se pensava, o que pode por em causa a Teoria Eletrodinâmica Quântica. A descoberta é capa da "Nature".


PaleoArte na Lourinhã

Em Agosto próximo decorrerá na Lourinhã um curso de ilustração de científica de dinossauros.
A instituição promotora é o Museu da Lourinhã e já estão abertas as inscrições.
Não percam! Inscrevam-se.



Transcrevo o texto de apresentação:

O pintor italiano Fabio Pastori, vencedor da 6ª edição do Concurso Internacional de Ilustração de Dinossauros (entre 71 artistas, de 22 países) e o professor Sante Mazzei, especializado em técnicas de desenho apoiado por computador, vão proporcionar sob os auspícios do GEAL - Museu da Lourinhã, um inédito curso de verão que designaram por PaleoArt Teaching - The Complete Lost World Journey.

Ao longo de nove dias, haverá tempo para conhecer o Museu, prospectar jazidas próximas, aprender e conviver, com artistas consagrados e com os que buscam os saberes da ilustração científica e da pintura.

Mais informações aqui

sábado, 3 de julho de 2010

A tristeza vem de Espanha

De acordo com a BBC "Dezenas de milhares de manifestantes foram às ruas de Madrid, capital espanhola, protestar contra a lei aprovada recentemente pelo Parlamento que permite a realização de aborto por meninas a partir dos 16 anos, até a 14ª semana de gestação."


Num futuro mais o menos próximo o mesmo acontecerá em Portugal.

Já cansa repetir o que é por demais óbvio, mas o nosso querido Portugal terá o mesmo destino que os outros países.

Não é necessário ser nenhum Bandarra para saber que a nossa lei do aborto não ficará inalterada e (contrariamente a todas as garantias que foram dadas pelo apoiantes do Sim) tenderá a:

  • Ficar cada vez mais banal e comum - Depois do referendo a esquerda portuguesa tratou de fazer algo que os portugues não votaram. Não se limitou a tratar de por em prática o que foi referendado. A "despenalização da interrupção voluntária da gravidez" foi liberalizada, passando não só a ser legal mas também (coisa que ninguém votou) gratuita e executada com prioridade máxima no hospitais públicos (suspeito que actualmente se façam abortos em locais onde já se deixaram de poder fazer partos).
  • Menos polémico - Sendo banal deixou de ser discutido, é um direito assumido e ninguém quer deixar de ter esse "direito". Outros argumentos que se ouvirão, rezarão assim: "afinal a minha tia já abortou duas vezes, a minha irmã também e eu já fiz um, por que razão acham que isso deveria deixar de ser legal? Era o que faltava considerar toda a minha família , e eu própria, como criminosas!"
  • Aumentar em número - Especialmente nas jovens em idade fértil. Basta ver o que aconteceu nos outros países. Foi assim em Espanha e foi assim em todos os países onde se legalizou o aborto. Gostava de ver o números oficiais destes primeiros anos de aborto legal em Portugal.
  • Variados grupos políticos continuarão a tentar aumentar os prazos e condições em que as mães grávidas poderão abortar. Nenhum, repito, nenhum dos discursos que ouvi ou li defendendo o direito a abortar se debruçou sobre qual a razão das famosas 10 semanas. Disse várias vezes aqui no Conjurado que todos os argumentos que defendem o aborto até às 10 semanas são válidos depois desse prazo. Não acreditam? Experimente fazer o seguinte exercício, lembrem-se do(s) argumento(s)/razõe(s) mai(s) forte(s) que conheçam para defender o direito a abortar até às 10 semanas, agora repitam-no(s) mas troquem a expressão "até às 10 semanas" e coloquem "até às 11" ou "até às 12" e vão aumentando. Os argumentos perdem a validade? Se não perdem, esperem, que em breve os ouviram nos discursos dos nossos deputados muito em breve.
  • Contrariamente ao que foi sempre dito pelos apoiantes do Sim, o aborto passou a ser liberalizado, banal, muito mais comum e passou a ser usado como método contraceptivo. E sabem que mais? ninguém acha isto mal porque afinal é assim que tem de ser porque a lei o diz. Ou seja, a lei sempre ajuda a construir a moralidade de um Povo. Lembram-se quem dizia que isso era assim e quem defendia que o que a lei dizia pouco importava, já que, as pessoas que tivessem de fazer um aborto nunca o deixariam de o fazer, dissesse a lei o que dissesse? Afinal a lei sempre influência o comportamento dos cidadãos.

É muito triste, mas duvido que em breve possamos vir a ter qualquer correcção a este disparate enorme que é tornar a morte de pessoas inocentes legal e subsidiada pelo Estado. Suspeito também que seja em breve que as coisas vão piorar. Pelo menos, neste caso, a História não é um caminho inexorável em direcção ao aperfeiçoamento moral da humanidade.
Resta a esperança que a longo prazo passemos todos a achar que os direitos do Homem não são só para os que nascem mas para também para os que, já existindo, ainda não tiveram a oportunidade de nascer, mesmo que tenham menos de 10 semanas.