quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

Conversas com LGR e PG...

Os comentários que se seguem tiveram origem num post (25 Janeiro) de Luís Grave Rodrigues no seu blogue. Aproveito para os transcrever aqui, já que, considero estes textos muito elucidativos dos erros que até (e principalmente) pessoas inteligentes cometem ao defender o direito a abortar:


Post:

Independentemente dos critérios que levarão os portugueses a votar «SIM» ou «NÃO» no próximo referendo sobre a despenalização do aborto, e (longe vá o agoiro) se o «NÃO» ganhar?

O que mudará neste caso em Portugal?
A resposta é por demais simples, e tão óbvia que até chateia: nada vai mudar; tudo ficará na mesma como agora.

Quer então isto dizer que depois do referendo vai deixar de haver mulheres a abortar em Portugal?
Claro que não!
Como é por demais óbvio, nem uma só mulher em Portugal que pretenda abortar (e independentemente dos motivos que a tiverem levado a tomar essa decisão) e tenha decidido nesse sentido, vai deixar de o fazer em função do resultado de um referendo.
O número de abortos que se vão realizar em Portugal será precisamente o mesmo.

Então, e se o «NÃO» ganhar, a prática do aborto que não se insira na lei já actualmente em vigor (violação, malformação do feto ou perigo para a saúde da mãe) continuará a ser criminalizada e penalizada.
Mas, apesar disso continuará a haver abortos em Portugal, já que a penalização, como é sabido, nunca constituiu o menor motivo de dissuasão para as mulheres que pretendam abortar.

É por isso que as mulheres que tenham decidido abortar se dividirão em dois grupos: as que têm dinheiro e as que não têm.
As que têm dinheiro irão fazê-lo em clinicas inglesas, ou até aqui bem pertinho, em Badajoz. E o número de abortos, quanto a estas, será precisamente o mesmo.

Aliás, se eu fosse um dono sem escrúpulos de uma clínica de Badajoz o que eu faria melhor era financiar o mais possível a campanha do «NÃO». Mas isso é outra conversa.

As mulheres que não têm dinheiro e que tenham decidido abortar recorrerão a uma clínica clandestina, a um qualquer «vão de escada», ou até a uma «parteira» amiga, que tem muita experiência em meter agulhas de tricot por mulheres adentro, e até lhes faz um desconto.

Então, por sua vez, as mulheres sem dinheiro que tenham decido abortar clandestinamente dividir-se-ão em dois grupos: aquelas a quem a coisa corre bem, e aquelas a quem a coisa corre mal.

Aquelas a quem a coisa correr bem, pode ser que se safem e que não sejam descobertas pelas autoridades policiais.
Aquelas a quem a coisa correr mal, vão de urgência para o Hospital.
Então, se a coisa correr mesmo mal, morrem; se a coisa correr bem, safam-se.
Mas são estas que se safam precisamente aquelas que vão ter um processo crime às costas, porque o médico que as safou é obrigado a participar a ocorrência à Polícia.

Quer então isto dizer que se o «NÃO» ganhar no referendo as mulheres que abortem e as pessoas que as auxiliem continuarão a ser perseguidas criminalmente.
Serão julgadas e, provado o crime, serão condenadas na pena correspondente, já que o aborto é punido com pena de prisão até três anos.

Mas atenção: só as mulheres que não têm dinheiro.
Porque as que têm dinheiro não terão praticado qualquer crime, porque terão abortado num país estrangeiro onde, porque essa conduta não é punível, ela não deixará qualquer rasto.

Serão então julgadas somente as mulheres mais pobres e com menos recursos que tenham abortado num «vão de escada» e, mesmo dentre estas, provavelmente só aquelas a quem «a coisa correu mal» e que por isso tenham sido «apanhadas».

Essas serão sentadas no correspondente «banco dos réus».
Serão fotografadas por jornalistas à entrada e à saída do tribunal, serão humilhadas perante toda a gente e obrigadas a contar e a explicar, para quem quiser ouvir, os motivos mais íntimos e pessoais que as terão levado a uma decisão tão trágica como é a de abortar.

Provado o crime, serão então condenadas na pena correspondente, já que o aborto é punido com pena de prisão até três anos.

Em suma, se o «NÃO» ganhar, tudo ficará na mesma em Portugal.
Porque foi nesse sentido que as pessoas que terão votado «NÃO» no referendo terão decidido.
E terá sido nesse mesmo sentido, aliás, que terão decidido as pessoas que optem por abster-se no referendo.
Todas elas terão decidido por si próprias e, obviamente, e porque se acham nesse pleno direito, terão decidido também pelas outras pessoas.

Se o «NÃO» ganhar, presumo que essas pessoas fiquem satisfeitas.
Afinal, e pelos vistos, pensam que como está é que tudo está bem....
LGR

Comentários:

Por outro lado se o «Sim» ganhar tudo, repito, TUDO o que disseste será verdade mas depois das dez semanas.

Porque depois já não faz mal nenhum, pois não?

"Afinal, e pelos vistos (depois das dez semanas), pensam que como está é que tudo está bem...."

Rui Castanhinha

Pois é, Rui: deixaste de fazer sentido.
E o pior é que não te apercebes disso.

Mas sei que és um bom e fervoroso católico.
E que, como tal, tomas a vida como um bem absoluto. Sem excepções!

És, portanto, contra o aborto em todas e quaisquer circuntâncias. Sem excepções.

És contra os comprimidos abortivos, mesmo antes da nidação do ovo.
És contra o aborto mesmo em caso de violação da mulher, de malformação do feto ou de perigo para a mãe.
Porque mesmo em todos esses casos existe vida.
E a vida é um bem absoluto.

E como bom católico, és também contra a mastrubação.
Porque os espermatozóides também são vida.
E a vida é um bem absoluto.

E és contra a pílula anticoncepcional.
E contra o preservativo.
Afinal, és um bom católico, é isso que a Igreja Católica defende.
E a vida é um bem absoluto.

És também a favor da pena de morte.
Porque como és um bom católico, aceitas a pena de morte, porque o Catecismo da Igreja Católica também o admite.
E aqui a vida é um valor relativo.
Mas só aqui, não é.

Porque só aqui é que a Igreja Católica assim o determinou.

E assim tu o aceitas.
Porque és um bom católico.

E como és um bom católico, queres determinar a tua vida de acordo com os cânones da Igreja Católica.

E como és um bom católico, queres também determinar a vida das OUTRAS pessoas, de acordo com os cânones da Igreja Católica.

Porque são esses que são bons.
Para ti, e para os outros.
Afinal foi a Igreja Católica que assim o disse.
E tu és um bom católico.

E se és um bom católico, para ti a vida é um valor absoluto.
E como é absoluto, aplica-se a TODOS os casos.

Bem, a não ser na pena de morte.
Mas essa não conta.
Afinal, vem no Catecismo da Igreja Católica.
E os bons católicos sabem que o Catecismo da Igreja Católica é que é, afinal, o valor absoluto.

Para os católicos e para os que não são católicos, claro está.


Parabens, Rui: és um bom católico!


Eu devia aprender a estar calado...
..mas eu gosto de ti e acho-te piada, pronto, tu és uma boa pessoa.

Só tenho pena que neste caso estejas errado (para dizer a verdade não é só sobre o aborto, mas enfim aqui é evidente).

Caro Luís:

Antes de começares a procurar incoerências e falsidades nos outros responde sinceramente à única pergunta que te fiz e que, pelos vistos, te irritou tanto:

Caso vença o Sim, o que deve dizer um médico a uma mulher desesperada que está grávida de 11 semanas?

«A senhora desculpe lá mas agora tem de se aguentar à bronca! Viesse umas semanas mais cedo! Agora é crime!»

Como ateu, ser racional e lógico diz-me se isto faz sentido...

Foi só isto que perguntei.
Até posso responder uma a uma, todas a acusações que me fizeste mas isso seria fugir ao que te perguntei e não me respondeste.

Rui Castanhinha

Rui:

A resposta à tua pergunta está na pergunta que vai ser referendada.

É tão óbvio, que até chateia!

LGR
...............................

Boas!!

Eu devo dizer que sou um dos indecisos, mas que nesta altura estou assim 55% não, 45% sim...

Concordo... se o não ganhar, os números estatísticos de abortos clandestinos ou de abortos "estrangeirados" vão se manter. Mas será que, se o sim ganhar, irão o número de abortos efectivos aumentar?? Primeiro, deixam de se fazer abortos clandestinos, e segundo deixam as mulheres de ter de ir a badajós abortar... segundo, criam-se até condições que podem até facilitar a decisão de uma mulher abortar. Se calhar actualmente, uma mulher com poucos recursos, sabe o risco que corre ao tomar uma decisão de abortar clandestinamente, e muitas são as que, por receio, não o fazem... será que com o aborto despenalizado, não irão essas mulheres ter menos "argumentos" contra o aborto que pretendem fazer??

Porque, há uma coisa que eu defendo, e que julgo todos (ou quase todos) os defensores do sim, tambem devem defender: que é o ser contra o Aborto. Será que uma despenalização, não irá permitir a mais mulheres poderem abortar??
Pedro Garcia

Caro Pedro Garcia:

A resposta à sua pergunta é evidente...

...basta ver o que aconteceu nos outros países:

Suécia (1960-2004)......aumentou 1134%

Reino Unido (1968-2002)..aumentou 733%

Espanha (1987-2003).....aumentou 376%

Grécia (1989-2001) ......aumentou 201%

(dados do EUROSTAT)
Rui Castanhinha


Caro Pedro Garcia:

Não dê muita importância ao Rui.

Ele é daqueles que acha que como está é que tudo está bem.
Dotado de uma misoginia conatural à sua condição de católico, repugna-lhe que a uma mulher possa ser dada capacidade de escolha.

Prefere antes ser ele a escolher por elas...

Ao mesmo tempo, como católico, tem uma peculiar forma de avaliar os valores e tem critérios éticos muito próprios.

Por exemplo, diz que a vida humana é um valor absoluto.
Mas isso não é para levar a sério.

O que é para levar a sério e aquilo que ele pensa mesmo é que o que é um valor absoluto é o «Catecismo da Igreja Católica».

Por exemplo, ele, como católico, enquanto é contra o aborto porque se acha a «favor da vida», já acha perfeitamente natural ser a favor da pena de morte, pois o Catecismo é isso que admite também.

Ao mesmo tempo tem uma outra curiosa forma de ver as coisas.

Por exemplo, pergunte-lhe se um dia ele se casar e a mulher dele (longe vá o agoiro) tiver uma gravidez ectópica e der entrada nas urgências de um hospital em risco de vida, permitirá que abortem o feto.

Vai ver que diz que prefere que morram os dois, a mulher e o feto, pois é CONTRA o aborto.
Porque a vida é um valor absoluto.

A não ser no caso da pena de morte.
Mas isso, como já vimos, é só porque o Catecismo da Igreja Católica vale mais que os valores absolutos...


Mas, apesar de tudo, ele é bom rapaz!

As missas é que o têm estragado um pouco...

LGR

Luís:

Só tenho pena que sempre que alguém discorda de ti tu aches que não deves responder aos seus argumentos com argumentos lógicos o é estranho para um advogado (ou talvez não).

achas que a melhor forma de responderes é criticar um bocadinho ao lado, é a mentalidade do como-não-consigo-rebater-arranjo-outro-suposto-problema-e-pode-ser-que-ele-se-cale.

É pena, mas um dia como pessoa lógica que normalmente és verás a Luz...

Um abraço,
Rui Castanhinha

Caro Rui:

Faz como aconselhas: rebate.

Ou pensas que isso de acusares os outros de falta de argumentos te serve de argumento?...

LGR

Luís:

Ainda bem que mostraste que tinha razão...

até parece que estavas a falar de ti:
«Ou pensas que isso de acusares os outros de falta de argumentos te serve de argumento?...»

um abraço, toma juízo...
Rui Castanhinha

Acho que há uma questão que entra em jogo nesta coisa do "SIM" e do "NÃO". Liberalizar totalmente uma acção deixada ao livre arbítrio da mulher;

Parece-me aqui uma coisa: um feto, tenha ele 1 semana, 2 semanas 3 meses, 9 meses, é uma vida humana, num estado "parasital" (perdoem-me o termo forte e bruto) em que a sua mãe o concebe dentro de si, partilhando parte do seu corpo, do seu ar, do seu alimento, das suas celulas, etc, etc, etc...

Deve ser da escolha da mulher saber se quer conceber um filho ou não, mas tambem deve a sociedade, enquanto sociedade, mobilizar-se para proteger todos os indivíduos que dela façam parte. Aquilo que a sociedade deve fazer, em primeira instancia, é ajudar a educar a mulher, com valores morais, que possam ajudá-la a evitar situações em que tenha de tomar essa decisão. Depois, se for decisão da mulher assumida e pensada, deve a sociedade garantir que essa mulher será apoiada nessa decisão. Porque, efectivamente, essa e todas as mulheres é que estão sob alçada da sociedade, não ainda o ser que habita dentro dela (esta é a minha opinião).

Acho que a liberalização é um passo "fácil" que nos faz abrir os olhos para um problema de responsabilização, não pelos abortos, mas pelo bem estar das mulheres que o praticam. E julgo que, nesta altura, é o passo a dar... no entanto, não pode (nem deve) a sociedade ficar por aqui, e deve educar os seus membros de que o aborto é uma prática que deve ser evitada. Não podemos permitir a criação de clínicas cuja principal fonte de rendimentos sejam os "abortos"... não devemos permitir que o aborto seja mais uma opção para uma mulher jovem e vivaça... o aborto deve ser a última opção pensada e julgada, e antes de pensar "se engravidar, ainda tenho hipótese de resolver o problema com um aborto", temos de continuar a educar nas nossas jovens assumam as responsabilidades e consequencias dos actos. E esta deve ser o próximo passo concreto a dar pela sociedade.

Voto pelo SIM, e voto tambem para que a sociedade evolua, não no sentido de negar a preciosidade de um feto de 10 semanas, mas para que lhe de ainda mais valor!! Quero votar SIM, lamentando e chorando a decisão das mulheres que optem por fazer, mas afirmando que as devemos apoiar na (má) decisão que tomem, procurando educar toda a gente, que um aborto não é uma solução fácil para um problema difícil... tem o aborto de continuar a ser uma decisão difícil e penosa para quem a toma, e compete a nós todos ajudar a manter esse tom.

Abraços!!
Pedro Garcia

Caro Pedro Garcia:

É pena de facto que vá votar para que tudo aquilo que disse que era contra se venha a verificar, eu explico:

Disse «um feto, tenha ele 1 semana, 2 semanas 3 meses, 9 meses, é uma vida humana, num estado "parasital" (...) em que a sua mãe o concebe dentro de si, partilhando parte do seu corpo, do seu ar, do seu alimento, das suas celulas...»
Repare que um recém-nascido também é uma vida humana num estado "parasital" da sua mãe, ou da sua familia ou em última instância da sociedade como um todo. E não é por isso que deve caber à mãe (ou à familia, ou à sociedade) o direito de vida ou morte desse ser humano inocente.

Desde quando é que o direito à vida varia consoante a maior ou menor dependência de terceiros? Terá menor direito à vida um idoso demente do que um jovem saudável só porque o primeiro se encontra totalmente dependente do segundo para comer, beber, dormir, ir à casa-de-banho, até respirar (caso necessite de oxigénio)? Terá mais direito à vida um feto com 12 semanas (ou 16, ou 24, ou 9 meses) do que um com 10 semanas? Não estão os primeiros igualmente dependentes e num "estado parasital" igualzinho ao feto de 10 semanas (como você próprio admitiu)?
Então porque protegemos uns e apoiamos a morte de outros com os nossos impostos e sem nos preocuparmos com alternativas?

Acho que é claro que o direito à vida depende exclusivamente da existência de uma vida e não do grau de autonomia que essa vida possui.
Se você é o primeiro a admitir que:«... um feto, tenha ele 1 semana, 2 semanas 3 meses, 9 meses, é uma vida humana(...)» então porque não concorda que ao destruir essa vida humana se está perante um delito? Só porque a vida é frágil? porque é dependente?

Repare que até existe uma diferença entre a vida de 10 semanas e a outra que apresentei: é que esta vida deixará em breve de ser dependente, irá ser autónoma muito em breve (ou seja a sua dependência é transitória e decrescente), enquanto que a do idosos só tende a piorar (tenderá a estar cada vez mais num estado "parasital", ou seja, é crescentemente dependente).
Porque damos o direito sobre a vida do feto (cada dia mas autónomo) e não sobre o avozinho doente (cada dia mais dependente)?
Isto só acontece porque nos reconhecemos muito mais numa vida de um idoso do que na de um feto, é o argumento da invisibilidade do feto: como não o vemos como um igual podemos matá-lo.

Foi precisamente este tipo de argumentos que permitiu as maiores atrocidades ao longo dos tempos:

como não são como nós (cristãos) podemos matá-los (muçulmanos)

como não são iguais a nós (brancos) podemos matá-los (pretos)

como não são iguais a nós (arianos) podemos matá-los (judeus)

como não são iguais a nós (homens) podemos espancá-las (mulheres)

E todos estes raciocínios horrorosos foram a prática corrente em diferentes sociedades (algumas delas continuam infelizmente) e foram aceites por pessoas de bem.
Não se engane, não foram só psicopatas que mataram judeus, escravizaram populações, bateram nas mulheres, ou queimaram ínfieis. Muitas dessas pessoas (eu diria a maioria delas) foram pessoas que estavam profundamente convencidas que estavam a fazer um bem, só que acontecia por que estavam ENGANADAS.
Tudo isto mudou quando reconhecemos no outro um igual, alguém que partilha connosco algo fundamental: ser-se Humano!

É este o pondo fundamental que estaremos a votar dia 11.
Reconhecemos ou não que os mais fracos de entre nós, os seres humanos com 10 semanas de gestação, devem ou não ter protecção legal.

Será uma votação entre visões diferentes do Mundo, podemos não estar conscientes disso mas o resultado (espero) enviará uma mensagem a todos, que o caminho não é retirar direitos ao feto, mas sim protegê-lo e apoiar a sua mãe para que o possa ter em condições dignas.

Será um "pequeno passo" na nossa democracia mas um "enorme salto" civilizacional para o nosso país: fomos os primeiros a abolir a pena de morte para os culpados, não nos tornemos nos últimos a permiti-la para os inocentes!
Rui Castanhinha

Caro Rui:

Continuas com uns critérios éticos engraçados.
Por isso, é já agora, faço-te copy/paste de um comentário que fiz mesmo lá em cima, e a que curiosamente não respondeste...

Cá vai:

Pois é, Rui: deixaste de fazer sentido.E o pior é que não te apercebes disso.

Mas sei que és um bom e fervoroso católico.
E que, como tal, tomas a vida como um bem absoluto.
Sem excepções!

És, portanto, contra o aborto em todas e quaisquer circuntâncias. Sem excepções.

És contra os comprimidos abortivos, mesmo antes da nidação do ovo.
És contra o aborto mesmo em caso de violação da mulher, de malformação do feto ou de perigo para a mãe.
Porque mesmo em todos esses casos existe vida.
E a vida é um bem absoluto!

E como bom católico, és também contra a mastrubação.
Porque os espermatozóides também são vida.
E a vida é um bem absoluto!

E és contra a pílula anticoncepcional. E contra o preservativo.
Afinal, és um bom católico, é isso que a Igreja Católica defende.
E a vida é um bem absoluto!

És também a favor da pena de morte.
Porque como és um bom católico, aceitas a pena de morte, porque o Catecismo da Igreja Católica também o admite.
E aqui a vida é um valor relativo.
Mas só aqui, não é?
Porque só aqui é que a Igreja Católica assim o determinou.

E assim tu o aceitas.
Porque és um bom católico.

E como és um bom católico, queres determinar a tua vida de acordo com os cânones da Igreja Católica.

E como és um bom católico, queres também determinar a vida das OUTRAS pessoas, de acordo com os cânones da Igreja Católica.

Porque são esses que são bons.
Para ti, e para os outros.
Afinal foi a Igreja Católica que assim o disse.
E tu és um bom católico.

E se és um bom católico, para ti a vida é um valor absoluto.
E como é absoluto, aplica-se a TODOS os casos.
Bem, a não ser na pena de morte.
Mas essa não conta.
Afinal, vem no Catecismo da Igreja Católica.
E os bons católicos sabem que o Catecismo da Igreja Católica é que é, afinal... o valor absoluto.

Para os católicos e para os que não são católicos, claro está.

Parabens, Rui: és um bom católico!

LGR

Queres mesmo que te responda a essas barbaridades todas...?
Eu faço-te a vontade, pronto, como prometido é devido:

«Mas sei que és um bom e fervoroso católico.
E que, como tal, tomas a vida como um bem absoluto.
Sem excepções!»
Sim, tens razão (nem sequer é preciso ser católico para defender isto, como é o teu caso).

«És, portanto, contra o aborto em todas e quaisquer circunstâncias. Sem excepções.»
Não.
Existe uma excepção em que caberá á mãe decidir (e tem toda a gravidez para o fazer, não só até às dez semanas!!!!), é o caso de perigo de vida da mulher grávida.
Aqui estão duas vidas em perigo e se, só podemos salvar uma delas, então que decida a única que o pode fazer.
Mas isto já está na lei e nem sequer vai a referendo, não é Luis?

«És contra os comprimidos abortivos, mesmo antes da nidação do ovo.»
Depende, porque a maioria das pilula-do-dia-seguinte não provocam a morte de um embrião.
Eu explico:
A maioria das relações sexuais (mesmo sem qualquer tipo de contracepção), não originam uma gravidez, isto é, a probabilidade de isso acontecer depende de:
1º O sémen introduzido no corpo da mulher tem de ser suficiente e em qualidade e quantidade para poder fecundar o óvulo que se encontra numa das trompas de Falópio;
2º A mulher tem de estar em período fértil e isso só ocorre durante 3-4 dias num mês (no resto dos dias não existe óvulo disponível para ser fecundado);
3º Mesmo que ocorra uma fecundação, existe uma enorme quantidade de embriões que (por razões naturais, independentemente de se tomar a pílula-do-dia-seguinte) nunca chegam a nidar na parede do útero e acabam por ser expelidos na próxima menstruação.

Assim a probabilidade de, ao se tomar a pílula do dia seguinte, a mulher provocar um aborto é muito (mesmo muito) menor do que habitualmente se pensa.
Mas essa possibilidade existe, não o escondo.
E só nos casos em que ela actua é que podemos considerar que evitou uma gravidez (destruindo um embrião é certo).
E sempre que isto acontece, só posso ser contra, mas como quem toma pílula do dia seguinte não sabe se está a matar um ser humano, tem mais atenuantes que alguém que o faz sabendo que ele já existe (por exemplo às 5,6,7,8,9,10 semanas !!).
Eu só posso ser favorável ao actual regime de distribuição da pílula-do-dia-seguinte se com isso se evitar a morte de outros seres humanos e se a mulheres que recorrem a essa contracepção de emergência não a utilizarem como contracepção de recorrência (que é o que acontece cada vez mais). Aliás foi este o argumento que os defensores da livre distribuição sempre defenderam (como as mulheres iriam ser responsáveis e saberiam ser moderadas no uso dessa pílula). Vê-se que tem sido verdade, não é?
Mas isto tudo já existe e nem sequer vai a referendo, não é Luis?

«És contra o aborto mesmo em caso de violação da mulher, de malformação do feto ou de perigo para a mãe.
Porque mesmo em todos esses casos existe vida.
E a vida é um bem absoluto!»
Acho que já respondi a isto.
E isso já está na lei e nem sequer vai a referendo, não é Luis?

«E como bom católico, és também contra a mastrubação.
Porque os espermatozóides também são vida.
E a vida é um bem absoluto!»
Vou fazer um esforço para não te responder no mesmo tom ridículo.
É claro que quando se fala em "vida" na questão do aborto estamos sempre a referir-nos à Vida de um Ser Humano, não à vida de parte de um ser humano!
Os espermatozóides são células que pertencem ao corpo do pai e os óvulos são células que pertencem ao corpo da mãe e que, em condições naturais têm como destino natural a sua destruição (a maioria dos espermatozóides formados pelo homem ao longo da sua vida são reabsorvidos ainda interior dos testículos).

Se entregares um espermatozóide do pai e um óvulo da mãe a um biólogo molecular ele dir-te-á que aquele espermatozóide provém do corpo do "João" e não de outro, e que o óvulo provém da "Maria" e não de outra mulher.
Agora, nada disto é verdade se lhe apresentares um zigoto humano ( = óvulo fecundado), aqui ele diz-te que essa célula é totalmente diferente da do João e da Maria, ele dirá que provem de um ser humano que não consta na sua base de dados (não consta porque só surgiu naquele momento único).
Ou seja é um outro ser humano, um novo Ser Humano.
Por isso é óbvia a diferença entre destruir óvulos + espermatozóides e destruir embriões humanos, neste caso o todo é diferente da soma das partes.
Assim como cada célula individual do teu corpo não possui direito à vida, mas o TODO das células do teu corpo têm. Não é isto óbvio?
É esta a diferença que eu suspeito que tu já soubesses, não é Luis?
E isto nem sequer vai a referendo, não é Luis?

«E és contra a pílula anticoncepcional. E contra o preservativo.
Afinal, és um bom católico, é isso que a Igreja Católica defende.
E a vida é um bem absoluto!»
Ser católico não quer dizer que não se lute dentro da Igreja para a mudar e melhorar, tu sabes disso.
Em algumas situações sou a favor noutras sou contra, nestas questões nem se põem o direito à vida dos espermatozóides ou dos óvulos, como já vimos, não é Luís?
São outras questões ao lado e isto nem sequer vai a referendo, não é Luis?

«És também a favor da pena de morte.
Porque como és um bom católico, aceitas a pena de morte, porque o Catecismo da Igreja Católica também o admite.
E aqui a vida é um valor relativo.
Mas só aqui, não é?
Porque só aqui é que a Igreja Católica assim o determinou.
E assim tu o aceitas.
Porque és um bom católico.»

E tu como bom ateu devias ser mais humilde e aceitar quando alguém te mostra através de factos que (como foi o caso do PKS) o que acabas de escrever não corresponde à verdade.
Mas isto nem sequer vai a referendo, não é Luis?

«E como és um bom católico, queres determinar a tua vida de acordo com os cânones da Igreja Católica.»
Sim.
Mas não é isto vai a referendo, não é Luis?

«E como és um bom católico, queres também determinar a vida das OUTRAS pessoas, de acordo com os cânones da Igreja Católica.»
Não.
Lutarei sempre por uma sociedade onde todos tenham direito a pensar e agir de formas diversas da minha, mesmo que não concordem comigo, principalmente pelo direito a discordar de mim (acho que aqui estamos de acordo).
Agora o que não me peçam é que permita que o Estado se descarte das suas responsabilidades e permita que (sobre o pretexto de estar a dar maior liberdade) os mais fortes imponham sobre os mais fracos o seu livre arbítrio.

«Porque são esses que são bons.
Para ti, e para os outros.
Afinal foi a Igreja Católica que assim o disse.
E tu és um bom católico.»
Sim, o que não implica que queira impor nada a ninguém, nem admito que alguém imponha a sua concepção individual de quando começa a vida a todo um país (principalmente quando todas a evidências apontam para que a vida começa muito antes das 10 semanas)!

«E se és um bom católico, para ti a vida é um valor absoluto.
E como é absoluto, aplica-se a TODOS os casos.
Bem, a não ser na pena de morte.
Mas essa não conta.
Afinal, vem no Catecismo da Igreja Católica.
E os bons católicos sabem que o Catecismo da Igreja Católica é que é, afinal... o valor absoluto.
Para os católicos e para os que não são católicos, claro está.
Parabens, Rui: és um bom católico!»

Muito provavelmente nem sequer sou um bom católico, mas procuro estar bem informado e ser honesto no que defendo.
Penso que um bom ateu como tu concordará comigo.

Em resumo defendo que:

Primeira premissa: É um crime matar um ser humano inocente.
Segunda premissa: Um feto humano é um ser humano inocente.
Conclusão: Logo, é um crime matar um feto humano.

Perante este raciocínio só podes discordar da conclusão se provares que alguma das premissas está errada.
Prova-o, converterás todos o apoiantes do Não, caso contrário põem em causa a lógica da tua posição.

Pois é, Rui:

Só te falta perceberes uma coisa:
- Um valor que não é absoluto, é um valor relativo.

E uma vez que admites que a vida é um valor relativo, a menos tem a honestidade intelectual de admitires que és contra o aborto não porque defendes a «vida», mas por qualquer outro motivo.

Porque a «vida», já vimos que só defendes... às vezes...

Admite que vais votar «não», porque queres impor os teus critérios éticos às outras pessoas.

Queres, isso sim, impor-lhes as tuas escolhas.

Porque se o «sim» ganhar, abre-se a possibilidade de uma mulher que queria abortar o poder fazer, e se outra mulher, pelos seus valores, não quiser abortar, não é, obviamente, obrigada a fazê-lo.

Ganhando o «não», são impostos a ambas as mulheres os valores, as escolhas e as opções de quem acha que não se deve abortar.

E um critério ético de um grupo, acaba a ser imposto a outro grupo.

Isto, caro Rui, não é correcto!!!


*

Só mais uma coisa, porque tenho (como sabes) muita consideração e amizade por ti:

Por favor lê a minha última resposta e diz-me que não és da mesma opinião que o PKS...

LGR
……………………………………

Só posso sentir pena...

Não percebeste nada do que disse, não respondes ao que te perguntei e foges constantemente sempre que vês que não tens razão.

É pena que assim seja.

Afinal nem só de lógica vive um ateu!

Um abraço,
Rui Castanhinha

…………………………………

Caro Rui:

Ainda bem que não disseste.

Ufff!!!

LGR

Sem comentários: