quinta-feira, 30 de junho de 2011

PalNiassa 2011 diário de expedição - Junho 30

E é no último dia de Junho que estamos e já sentimos mais o país e as pessoas. Estamos em casa.

Há quase qualquer coisa de estranho na proximidade das classes dirigentes com o povo. Tudo parece natural e honesto. As oportunidades existem e embora não seja possivel escrevê-lo, a quem meia palavra bastar facilmente perceberá que o projecto vai crescer.

Entre o carbonífero e o pérmico, no Museu Nacional de Geologia, há duas vistas para a avenida 24 de Julho. Entre as janelas está a vitrine onde alguns fósseis de sinapsídeos ficarão orgulhosos a descansar. Há que tratar de os limpar e iluminar. Como se o Sol africano que passa pelas duas grandes janelas não bastasse, o móvel apresenta seis pontos de luz e temos que lhe fazer chegar corrente.

Como é claro, é já sem qualquer surpresa que encontramos nos detalhes as mais fortes lições a aprender.

Um cabo eléctrico tem sempre duas pontas, uma de cada sexo. Ligar o móvel é simples, basta passar o cabo por ali, pegar na ponta macho e... BANG! O mindinho e o anelar estalaram num grito que chegou ao jardim. Tem sempre duas extremidades, mas nem sempre de sexos opostos.

Às vezes é melhor ter a certeza sobre o número de machos que está numa sala antes de se querer estabelecer qualquer tipo de ligação.

Amanhã com dois dedos dormentes há uma palestra na Universidade Eduardo Mondlane para alunos e professores. Esperemos que ninguém goste de apertar a mão com força.



quarta-feira, 29 de junho de 2011

PalNiassa 2011 diário de expedição - Junho 29

Junho 29

Paleontologia de escritório: este é o termo correcto para descrever o que temos feito. Interessante? Nem por isso. Necessário? Sem dúvida. Como resultado, a majestosa ideia de livre arbítrio rapidamente perde sentido.

- Então o que estão a fazer em Moçambique?
- Estamos cá para estudar fósseis.
- Ah! Fossas... aqui há muito trabalho para fazer...
- A sério? Onde?
- Vocês terão imenso trabalho aqui! Às vezes as tampas das fósseis sépticas saltam e temos de limpar tudo.

June 29

Office Paleontology: that is the right term to describe what we’ve been doing. Interesting? Not really. Necessary? No doubts. As a result, the majesty of the idea of free will quickly becomes meaningless.

– So what are you doing here in Mozambique?

We came here to study fossils. [the Portuguese word for fossils is “fósseis” which is quasi-homophonous to the word “fossas”, meaning septic tank]

– Ah! “Fossas”… there is lots of work to do here…

Oh really! Where?

– You guys will have lots of work here! Sometimes the sealing of the tanks jump out and we have to clean it all.




Texto: Ricardo Araújo

terça-feira, 28 de junho de 2011

PalNiassa 2011 diário de expedição - Junho 28

Pela manhã, visita de apresentação ao Laboratório Nacional de Geologia. Bom espaço, bom equipamento e mais de duas dezenas de funcionários para analizar as amostras recolhidas. O potencial é enorme e os meios começam a existir.
Caminhar por Maputo é estar cercado de beleza. Colares, máscaras e estátuas flutuam num mar de artezanato que nos rodeia. Tem havido uma política de controlo e organização deste tipo de comércio ambulante e para tal foi criada a Feira de Artezanato, Flores e Gastronomia de Maputo. Tudo funciona de forma organizada e cordial onde os “bom dia amigo” acenam para as peças expostas ao Sol.
Este é o local ideal para casar a ciência com a arte.
Queremos um batik original e em poucos segundos somos encontrados por um artista que agradece a encomenda.
“Não tem problema amigo” e o nosso logotipo passa a existir em fundo laranja. O dicinodon volta à vida 250 milhões de anos depois, a duas dimensões e com novo brilho pintado num pano africano. O almoço é matapa de carangueijo com chima e o caminho faz-se de volta para o Museu.
Agora é tempo de encomendar as caixas para o despacho dos fósseis e de preparar mais uma apresentação.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

PalNiassa 2011: Diário de expedição - Junho 27


Poder-se-ia fácilmente imaginar que uma expedição em África seria apenas um safari com sabor diferente. Leões, pneus furados no meio da savana, jipes atolados, histórias da Guerra Colonial ... Mas não. Tudo isto demora... nos anos anteriores caminhámos por trilhos de elefantes, tivémos que parar de escavar devido a queimadas descontroladas e tivémos mesmo que nos esconder de um enxame de abelhas... mas é regra que a primeira semana nada tem de aventura. Muito em breve iremos para o campo... simplesmente não conseguimos esperar! Mantenham-se atentos.
Por agora, a coisa mais excitante que aconteceu conosco nada se parece a um ataque de leão. Hoje tivémos de pesar um bloco de 120 kg cheio de ossos com ... uma balança de 100 kg.
Como fazê-lo? Afinal a Física funciona!
Apostamos que o nosso professor do secundário ficaria orgulhoso. Para uma estimativa aproximada utilize o esquema abaixo e multiplique o número resultante por dois.


June 27

Someone could easily anticipate that an expedition in Africa would be
just a different flavor of a safari. Lions on the background, flat tires in the middle of the savanna, swamped jeeps, stories of the Colonial War... But no. It takes a while to get there... in previous years we did walk along elephants trails, we did had to stop digging due to the forest fires, we had to hide from a bee's swarm... but usually the first week is generally everything but adventure. We will go to the field very soon... we simply can't wait! Stay tuned.
For now, perhaps, the most exciting thing it happened to us was nothing like a lion attack. Today we had to weight a 120kg block full of bones with... a 100kg-scale.
How to do it? Physics works, after all!
We bet our highschool teacher would get proud of us. For a rough estimate use the scheme below and multiply the resulting number by two.

domingo, 26 de junho de 2011

Junho 26

Domingo na capital.

Maracujá fresco e sumo de banana acompanham as tradicionais torradas e café com leite.

O plano do dia é revisto enquanto o pequeno almoço é servido. Há que tratar de emails, burocracias atrasadas e começar a esboçar mais planos e novos projectos.

Almoço num restaurante halal, rústico e caseiro. Boa comida, bom ambiente mas onde é recomendável algum espírito de aventura. Sendo a comida muito boa e generosamente servida, trouxemos o caril para o hotel. À noite servirá de jantar.


A baixa de Maputo é uma zona quase fantasma ao domingo de manhã. Quase não vemos carros, não vemos lojas abertas e os passeios não se movimentam cheios de gente como nos dias de semana.

Os nossos minutos estão contados e todo o trabalho que pudermos avançar será feito ainda esta noite. Amanhã começa uma nova semana e temos de ter tudo pronto para que nada falhe.

sábado, 25 de junho de 2011

Junho 25 - June 25

Junho 25

Criar um inventário pode ser uma tarefa entediante... muito entediante... e após algum tempo encontramo-nos a ouvir canto gregoriano enquanto empacotamos fósseis com papel higiénico no meio de Moçambique. Pouco há a fazer, é melhor continuar a embrulhar até o Sol se pôr, até termos os pés frios e os mosquitos acordarem e começarem a morder.

Os cantos gregorianos foram interrompidos pelo som de tambores de uma festa distante. Hoje, Moçambique celebra o dia da idependência. A indepência de um tempo colonial português deu agora lugar a uma cooperação productiva entre dois países unidos por laços históricos profundos.

June 25

Making an inventory can be a boring task.... veeeery boring... and after a while you find yourself listening to Gregorian music while wrapping fossils with toilet paper in the middle of Mozambique. Not much that we can do about it: better keep wrapping until the sun goes down, our feet get cold and the mosquitoes are all awake and happy biting us.
Our Gregorian songs were interrupted today by the sound of drums from a far distant party. Today Mozambicans celebrate the Day of Independence. The independence from the Portuguese colonial times is now replaced -- in our case -- by a fruitful cooperation between these two countries linked by historical bounds.

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sexta-feira, 24 de junho de 2011

Junho 24

Segundo dia em Maputo, a cidade acorda cedo e temos pressa para encontrar caminho até ao Museu Nacional de Geologia.

Passamos os olhos pelo que nos envolve e um símbolo chama a atenção.

As farmácias usam um símbolo original, uma serpente de Esculápio enrolada naquilo que parece ser um coqueiro com uma estrela no topo esquerdo da imagem. A transformação do bastão de Esculápio em coqueiro é bem mais divertida que a confusão mais comum com o caduceu de Hermes. Trocar um bastão com poderes de cura por uma planta, é inovar e materalizar a metáfora. Trocá-lo por um símbolo do comércio, é ofender a medicina e quem a pratica.

Após um ano reencontrámos os fósseis escavados em 2010, desta feita, bem guardados no museu. Há que desempacotar, fotografar, catalogar e acondicionar de forma a poder ser tudo transportado.

O dia avança. Como sempre, a “terra da boa gente” revela-se cheia de hospitalidade e é muito fácil encontrar um sorriso que nos aponte um restaurante ou a rua que procuramos.

E como é também claro, Portugal é bem mais difícil e a luta do Salimo continua para tratar do visto. Somos, todos, bem complicados.

A noite cerrada das seis da tarde denuncia o Inverno austral e por hoje regressamos ao hotel.

PalNiassa 2011 diário de expedição

Junho 23, 2011

Aterrámos... o repelente está posto e a profilaxia da malária está já em acção.
O Inverno começou ontem... no hemisfério Sul. Temos várias reuniões pela frente, muito trabalho de prospecção e muitos locais inexplorados serão visitados.
O Projecto PalNiassa 2011 começou!

Nesta página poderá seguir-nos diariamente até ao final da expedição deste ano.