sexta-feira, 29 de julho de 2011

Projecto PalNiassa: artigo na Newsletter da GSAf (Geollogical Society of Africa)



Saíu na nova Newsletter da Geological Society of Africa um pequeno artigo sobre o Projecto PalNiassa. A interacção com a academia moçambicana, nomeadamente o geólogo Lopo Vasconcelos (mas também Mussa Achimo, João Mugabe, entre outros) tem sido crucial para o desenrolar do Projecto PalNiassa, do qual resultou este pequeno artigo sobre o Projecto. Estamos juntos!



Texto: Ricardo Araújo

terça-feira, 26 de julho de 2011

Reportagem RDP África

Seguem as últimas novidades sobre o projecto PalNiassa.
Desta feita fomos entrevistados pela RDP África.
Podem ver as fotos deste ano tiradas durante Junho e Julho em Moçambique.






segunda-feira, 25 de julho de 2011

Científica Mente 2011

Transcrevo a notícia RDP África sobre o nosso projecto.

PalNiassa 2011 - Moçambique investe no crescimento da Paleontologia no país

2011-07-23 RUI CASTANHINHA E RICARDO ARAÚJO REGRESSARAM A MOÇAMBIQUE PARA A TERCEIRA EDIÇÃO DO PROJETO PALNIASSA. DESTA VEZ SALIMO MURRULA, O ESPECIALISTA MOÇAMBICANO QUE ESTÁ EM PORTUGAL A FAZER FORMAÇÃO EM PREPARAÇÃO DE FÓSSEIS, ACOMPANHOU-OS. O MUSEU NACIONAL DE GEOLOGIA, EM MAPUTO, RECEBEU O PRIMEIRO VESTÍGIO RECOLHIDO NAS ANTERIORES EDIÇÕES, JÁ TRATADO E ESTUDADO.
PalNiassa
A Paleontologia em Moçambique continua a crescer e consolidar-se. Passos seguros estão a ser dados pelo país, a partir de um projeto que começou de forma relativamente modesta em 2009, o PalNiassa. Nessa altura, dois jovens investigadores portugueses, Rui Castanhinha e Ricardo Araújo, foram procurar fósseis no Niassa. Contaram com apoio logístico das instituições moçambicanas e fizeram, logo nessa primeira expedição, descobertas muito interessantes. O esqueleto completo de um sinapsídeo, um pequeno vertebrado, antepassado longínquo dos mamíferos, terá sido a mais entusiasmante, mas outros vestígios da vida do Pérmico, há 250 milhões de anos, foram recolhidos e estão ainda a ser estudados.
Em 2010, na segunda expedição, o projeto cresceu e iniciou-se a ponte em sentido inverso: um técnico moçambicano iniciou uma formação de um ano, em Portugal, no Museu da Lourinhã, como preparador de fósseis, ao abrigo de uma bolsa concedida pela Fundação Calouste Gulbenkian. Salimo Murrula está há sete meses em Portugal e quando regressar será o primeiro preparador de fósseis da história de Moçambique.
PalNiassa
O Museu Nacional de Geologia de Moçambique irá receber os fósseis à medida que estejam completamente preparados e estudados. O primeiro vestígio já chegou a casa e muitos outros, espera-se, farão esse mesmo caminho de regresso.
Nesta edição falamos com Rui Castanhinha, nesta altura a fazer um doutoramento no Instituto Gulbenkian de Ciência, em Oeiras em Portugal, com Ricardo Araújo, a fazer um doutoramento na Universidade Metodista do Sul, no Texas, nos Estados Unidos e com Salimo Murrula especialista moçambicano a fazer formação no Museu da Lourinhã, em Portugal.




por : Ana Paula Gomes
Tags : Moçambique,Portugal

sábado, 23 de julho de 2011

Robert FitzRoy, Julho 23

1836 July 23
Capt. FitzRoy was concern that he may have taken faulty measurements at San Salvador so he ordered the Beagle on a detour back to South America.

O mal amado capitão do Beagle onde Darwin abriu os olhos para o mundo.
A sua personalidade, em muitos aspectos oposta a Darwin, muito deve ter contribuído para a consolidação e revisão de muitas das ideias revolucionárias deste brilhante cientista.
É também o oposto de Henslow, FittzRoy é um personagem carrancudo, autoritário e fundamentalista (Um típico capitão da marinha britânica do séc. XIX). Mas é, em igual medida, um homem forte, leal, honesto e extremamente meticuloso. Ficou para a História como o capitão da viagem que veio a provocar a maior revolução científica no campo da Biologia alguma vez operada na cabeça de um só homem: a teoria da evolução por selecção natural.
Sem a sua personalidade e sem o seu constante temperamento de debate e discussão com Darwin sobre todos os assuntos mais ou menos científicos, teria sido praticamente impossível a este último formular e reestruturar toda a sua visão sobre o mundo durante a viagem do Beagle.
A figura do capitão FitzRoy ensina-nos que os nossos opostos são úteis por nos obrigarem a repensar o que achamos certo e reformular o que está errado, ele é o símbolo de uma viagem de circum-navegação cheia de discussões críticas que, por isso mesmo, abriu caminho a mais e melhor ciência.


quarta-feira, 20 de julho de 2011

Site do MNG

É com prazer que anuncio o lançamento do site do Museu Nacional de Geologia.
Pode ser visitado em: http://www.mng.co.mz/




















Parte do material que veio a dar origem ao espólio do museu encontrava-se no Departamento da Direcção Nacional de Geologia no extinto Museu Freire de Andrade, fundado em 1940. Segundo o próprio site, o Museu foi encerrado em 1978 por falta de espaço quando a Direcção Nacional de Geologia foi transferida para o edifício localizado na na praça 25 de Junho. Graças a sensibilidade e intervenção do falecido Presidente Samora Machel, foi cedido um novo espaço onde se localiza hoje o actual Museu, edifício na altura conhecido por Vila Margarida.

A exposição foi reaberta pelo ex-presidente Joaquim Chissano no dia 21 de Setembro de 1992.

O MNG possui actualmente um total de 5853 amostras, das quais cerca de 800 estão expostas, despertando maior atenção e atracção as pedras preciosas e semi-preciosas, os minerais industriais tecnicamente valiosos e os cristais, invulgares pelas suas dimensões.

Visitando o museu, esta inicia com a sala 1 com a exposição do desenvolvimento da história da terra e alguns fósseis de Moçambique, alguns dos quais descobertos pela nossa equipa em 2009.

O seu actual director é o Dr. Luís Costa Júnior que é ainda um dos lideres do projecto PalNiassa, a ele se deve grande parte do mérito por todo o dinamismo e desenvolvimento do Museu.

Parabéns Luís, que o trabalho continue desta forma por muito tempo, Moçambique precisa de mais ciência.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Com atraso: Penúltimo dia

"Now this is not the end."

"It is not even the beginning of the end."

"But it is, perhaps, the end of the beginning."

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Julho, segunda quarta-feira



É sempre presente a voz de quem nos falta.

Julgo que apenas fui uma criança feliz enquanto vivi tudo pela primeira vez e, apesar de ser quase tão óbvio como curioso pensar que houve uma primeira vez que olhei para lua, que comi um gelado ou que ouvi o eco duma pedra a bater no fundo dum poço, parece triste saber que só alguns continuam a sentir esse constante espanto pela maravilha que nos rodeia.
É, é isto.
O universo faz sentido e o nosso tempo deve servir apenas para deixar conhecimento e beleza novos ao mundo, tudo o resto é trivial.
Nada tem maior valor do que o brilho nos olhos de alguém que percebeu algo de novo e nada há de mais generoso do que dedicar a vida a conhecer o mundo para que os outros se maravilhem com isso.
Há memórias que nunca se apagam e continua presente a voz de quem nos falta. Prefiro fazer ciência a ouvir falar dela. É quase sempre assim, em tudo, mas enquanto penso nisto pela primeira vez, sei que é um privilégio nunca desistir de ser criança.



Visitante de hoje

Apareceu, sorriu e sumiu.



terça-feira, 12 de julho de 2011

Dia 12 de Julho


A realidade é outra num céu diferente, a lua não mente e a moral, essa, revela-se pequena e particular.
Pouco há a fazer quando os costumes nos são estranhos e a surpresa se antecipa a qualquer reacção mais coerente.
Dia de Palestra Pública, com letra maiúscula e no Hotel VIP que tem mais impacto, claro está, com direito a anúncio de meia página, gordo e a cores, no Notícias.
Algumas caras conhecidas por entre outros tantos olhos atentos ouvem sentados a introdução atrasada onde as palavras, simples e claras, são novidade e todos querem saber mais.
Parece que somos mais ricos do que pensávamos e há muito por descobrir.
O Diictodon que ilumina a sala projecta-nos de volta ao nosso passado distante de pedras, ossos e origens. Somos humanos, sinapsídeos e curiosos.
A imagem do bicho, roubada a um colega, serve o propósito estimulando a discussão e aguçando a curiosidade.
Mais algumas respostas intercaladas e uma salva de palmas alegra a sala.
Gostaram, nós também.
De volta ao Turismo o elevador encrava e a sirene de incêndio dispara.
Falso alarme mas o pânico cresce e há já quem se deite no chão para encontrar ar no respirador que roça os nossos tornozelos.
Eu não passo bem, não passo bem.
As portas abrem no décimo e chegamos ao quarto onde uma última lição nos aguarda.
Nunca nos podemos esquecer, a porta não pode estar aberta. O hotel não permite, pode entrar mosquito.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Convite para palestra pública: Fósseis de Mocambique

Ao longo dos últimos três anos uma equipa de cientístas moçambicanos e portugueses tem vindo a fazer descobertas importantes no território de Moçambique. Todas as descobertas feitas incluem-se no Projecto PalNiassa.

O Projecto PalNiassa é um programa científico internacional envolvendo instituições de Moçambique, Portugal e dos Estados Unidos da América com o objectivo de descobrir, estudar e preservar o património paleontológico do território moçambicano.

As expedições científicas anteriores foram claramente bem sucedidas tendo sido encontradas várias dezenas de crânios e esqueletos completos de ancestrais comuns de todos os mamíferos, bem como, alguns grupos de répteis desconhecidos para a região.

O projecto PalNiassa visa:
  1. Descobrir, estudar e publicar novos fósseis de Moçambique;
  2. Colaborar para melhorar as instalações museológicas em Moçambique, a fim de armazenar e exibir o material recolhido;
  3. Contribuir para a formação de novos cientistas e transferência de know-how entre os países envolvidos;
  4. Promover a divulgação da ciência e trabalhar com as comunidades para preservar o património paleontológico moçambicano.

Alguns dos fósseis recolhidos podem já ser observados no Museu Nacional de Geologia em Maputo.

Neste momento existe um estagiário moçambicano a receber formação em preparação de fósseis no Museu da Lourinhã com uma bolsa gentilmente financiada pela Fundação Calouste Gulbenkian.
Este será o primeiro prepardor de fósseis da História de Moçambique.

Decorrerá uma apresentação pública dos resultados do Projecto PalNiassa no dia 12 de Julho, pelas 16 horas no Hotel VIP em Maputo.

English Version

Ancestrals to all mammals discovered in Mozambique.

Over the past three years a team of Mozambican and Portuguese scientists have done important discoveries in the territory of Mozambique. All the findings are part of the PalNiassa Project.

The PalNiassa Project is an international scientific programme involving institutions from Mozambique, Portugal and the United States of America aiming to discover, study and preserve the paleontological heritage on the Mozambican territory.

The previous scientific expeditions have been clearly successful and several dozens of complete skulls and skeletons from the common ancestors of all mammals have been found, plus, new and unknown to the region groups of reptiles have been unearthed.

The PalNiassa project aims to:

Discover, study and publish new fossil material from Mozambique;
Collaborate to improve the museological facilities in mozambique in order to store and display the material collected;
Contribute to the formation of new scientists and know-how transference between the countries involved;
Promote science outreach and work with the communities to preserve mozambican paleontological heritage.

Some of the fossils collected can already be seen at the National Museum of Geology in Maputo.

There is currently a mozambican intern being trained in fossil preparation at the Museum of Lourinhã with a grant funded by the Fundação Calouste Gulbenkian.
This will be the first fossil preparator in the history of Mozambique.

There will be a public presentation of the results of Projecto PalNiassa on 12 July at the Hotel VIP, 4p.m.
 

domingo, 10 de julho de 2011

quinta-feira, 7 de julho de 2011

PalNiassa, Julho dia 6

Chegou. Depois de uma luta diária de duas semanas o Salimo já tem visto.
Nada de exageros, trinta dias, que agora é lá que mora e é lá que tem de tratar do carimbo até ao final do ano.
Nada mudou no reino da Dinamarca.
Mais espuma, mais reforço, mais madeira e as caixas estão prontas a seguir.
- Já só falta o símbolo de frágil, amanhã tratamos disso.
A mistura de frio do mar da Inhaca, vento e pó do quarto foi explosiva e os pulmões ressentiram-se, há dois dias que não saem do hotel. Quando regressamos espera-nos mais tosse e dores de peito com o serão a terminar no ICOR. Cinco minutos de espera e saímos com xarope, anti-histamínicos, pastilhas de mentol e comprimidos para dormir.




terça-feira, 5 de julho de 2011

PalNiassa. Julho, dia 5

Choveu, e enquanto a distância tolda a memória de casa é necessário saber sempre o que há para fazer quando se fica sem um camarada porque os pulmões se queixaram.
O dia começa cedo com apertos de mão seguidos de trocas de esperanças escritas em cartões pessoais. Depois das apresentações iniciais a conversa voa para descrições de animais extintos há milhões de anos, ainda antes dos primeiros dinossauros pisarem a Terra.

- Descobrimos vários sinapsídeos e, como somos mamíferos, todos nós pertencemos a este grupo. Desde a baleia azul ao morcego-nariz-de-porco, todos somos sinapsídeos a diferença é que estes se transformaram em pedra.
O ar impressionado dá lugar a um fascínio crescente e revela um sorriso cúmplice que, em silêncio, tudo diz.
Sabemos que teremos resposta e que a probabilidade de virmos a devolver a expressão é elevada.
Veremos.
No carpinteiro as caixas estão prontas, foram reforçadas e os fósseis aguardam que a espuma seja cortada para saltarem lá para dentro. Escreve-se a morada e bolinam-se os últimos detalhes enquanto cai a noite.
De volta ao hotel já só há tempo para comprar três laranjas e algumas bananas. Pode ser que as vitaminas ajudem a limpar os brônquios
traiçoeiros.


domingo, 3 de julho de 2011

PalNiassa. Julho, dia 3

-Têm de ir à Inhaca, têm mesmo.

É uma ilha maravilhosa, a natureza pura e crua à nossa frente. Podem ver golfinhos, baleias, tubarões. Há lá tudo, tartarugas, corais e peixes sem fim. Façam mergulho é um espanto.

Têm de ir à Inhaca é já ali, duas horas de barco e pronto.

Têm mesmo de ir.

Fomos, e tínhamos mesmo de ir.


sexta-feira, 1 de julho de 2011

palNiassa 2011 diário de expedição - Julho 1

Se, no lugar de qualquer preconceito pudéssemos colocar uma prudente ausência de espectativas, não teríamos desilusões, mas pena viria de nem o espanto ter sentido.

As referências à situação geopolítica na África austral sucedem-se e vêmo-nos mergulhados em nomes, tratados e negociações desconhecidos. O almoço, no mercado do peixe, serve-se só depois de escolhida a garoupa. Enquanto grelha esperamos e o cartão de visita de Moçambique é servido como entrada. Camarão tigre, grande, gordo e fresco.

Se dúvidas houvesse fica a certeza que a humanidade é muito mais igual que diferente e lá por termos passado o equador e a estrela polar deixar de ser visível o que nos orienta é sempre o mesmo.

Todos admiramos a beleza, a inteligência e a audácia. Poderá existir combinação mais irresistível e perigosa?

O dia começou na Universidade Eduardo Mondlane.

Nove e meia em ponto, temos o auditório meio cheio e dez minutos depois já há pessoas sentadas no chão. Não sabemos o que nos espera mas, ao que consta, em periodo de exames é inédito.

Passada uma hora a falar sobre aberturas crânianas e filogenética, suspeitamos que a mensagem possa não ter sido a melhor para um público essencialmente composto por geológos.

O erro é nosso e o silêncio dá lugar a um bombardemento de dúvidas e sugestões críticas. Desde a Evolução das espécies à tectónica de placas estamos rodeados de interesse e, se ao almoço foi a garoupa e o camarão tigre que nos deliciou, ao inicio do dia foram as perguntas e a motivação de todos por saber mais que alimentaram o nosso espanto.

Sempre que ouvimos dizer que a ciência fundamental não tem interesse, convencemo-nos que quem não tem interesse são as pessoas que passam a vida a repetir isso.