Como surgiram tantas espécies e como se tornaram tão diferentes?
Parecem perguntas de uma criança de seis anos mas Darwin chamou a estas questões o mistério dos mistérios.
A primeira vez que pensei nisto não foi fácil encontrar uma resposta e, deixem-me que vos diga, ao longo da História foram muitas as tentativas para encontrar uma solução.
Desde fantásticas histórias sobre deuses e deusas até animais que sempre existiram e que nunca se modificaram....
Em pleno séc. XIX Charles Darwin esboçou a forma como as espécies evoluíram ao longo dos tempos, desenhando aquela que é a primeira árvore da vida alguma vez feita.
Este desenho continha lá todos os conceitos que actualmente consideramos modernos para estudar biologia evolutiva.
Ao longo do eixo vertical temos o tempo, onde uma espécie deu origem a várias.
Nem todas as espécies chegam aos nossos dias, existem várias que se extinguem. Aliás, hoje sabemos que, ao longo da evolução, o mais comum destino de qualquer espécie é desaparecer. Poder sobreviver, dando origem a novas espécies, é uma pequenina excepção à regra.
Reparem que as que são mais próximas estão ligadas por um ancestral recente e todas as espécies, por mais afastadas que estejam, apresentam sempre um ancestral comum.
E, a melhor parte do desenho talvez seja a pequena frase que ele escreveu no topo do caderno: I think. Acho eu, ou penso eu.
Nunca uma frase tão curta teve tamanha importância na forma como vemos o mundo.
Ainda hoje em dia, o que os biólogos tentam perceber é COMO é que de uma só espécie surgiram tantas e tão belas formas de vida.
Quando, actualmente, queremos saber isto o que fazemos é colocar numa tabela duas listas: uma com espécies e outra com características. Essa tabela é preenchida com muitos e muitos dados. Normalmente usamos zeros e uns, mas podem ser dados moleculares (ou outros). Para terem uma ideia, só preencher a tabela, pode demorar muitos meses. No final, os dados são introduzidos num computador que, usando o mais sofisticado software disponível, calcula todas as relações possíveis entre as espécies em causa e mostra-nos a melhor árvore que as representa.
Chamamos a isso uma análise filogenética.
Após várias horas, senão mesmo dias a calcular, o resultado é um simples esquema em forma de árvore, muito parecido com o que Darwin desenhou há mais de 150 anos. Normalmente tem mais ramos, como é claro, mas tudo o resto, está lá. Aparecem as espécies que se extinguiram, vemos as espécies mais recentes no topo e a ancestrais na base da árvore. Este tipo de análise pode ser aplicada de muitas formas diferentes e pode ser tão robusta que nos permite estudar relações evolutivas entre vírus e determinar quem infectou quem, em que altura e dizer até de onde é proveniente uma determinada estirpe.
E deixem-me que vos diga, pensar que uma simples ideia que surgiu há bem mais de século e meio pode dar sentido a todas as formas de vida que nos rodeiam desde as plantas do nosso jardim até ao maior dinossauro que alguma vez existiu, é simplesmente fascinante.
Somos o produto final deste campeonato ininterrupto a que chamamos Evolução das Espécies, sem nunca termos perdido um único jogo.
É esta afinal, a razão por que todos estamos aqui.
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