
Queluz, no IC 19 a caminho de Lisboa.
Obrigado Hernâni, já tinha tentado tirar uma foto a esta fantástica dupla de cartazes, mas conduzir e fotografar simultâneamente não é o meu forte.
Como surgiram tantas espécies e como se tornaram tão diferentes?
Parecem perguntas de uma criança de seis anos mas Darwin chamou a estas questões o mistério dos mistérios.
A primeira vez que pensei nisto não foi fácil encontrar uma resposta e, deixem-me que vos diga, ao longo da História foram muitas as tentativas para encontrar uma solução.
Desde fantásticas histórias sobre deuses e deusas até animais que sempre existiram e que nunca se modificaram....
Em pleno séc. XIX Charles Darwin esboçou a forma como as espécies evoluíram ao longo dos tempos, desenhando aquela que é a primeira árvore da vida alguma vez feita.
Este desenho continha lá todos os conceitos que actualmente consideramos modernos para estudar biologia evolutiva.
Ao longo do eixo vertical temos o tempo, onde uma espécie deu origem a várias.
Nem todas as espécies chegam aos nossos dias, existem várias que se extinguem. Aliás, hoje sabemos que, ao longo da evolução, o mais comum destino de qualquer espécie é desaparecer. Poder sobreviver, dando origem a novas espécies, é uma pequenina excepção à regra.
Reparem que as que são mais próximas estão ligadas por um ancestral recente e todas as espécies, por mais afastadas que estejam, apresentam sempre um ancestral comum.
E, a melhor parte do desenho talvez seja a pequena frase que ele escreveu no topo do caderno: I think. Acho eu, ou penso eu.
Nunca uma frase tão curta teve tamanha importância na forma como vemos o mundo.
Ainda hoje em dia, o que os biólogos tentam perceber é COMO é que de uma só espécie surgiram tantas e tão belas formas de vida.
Quando, actualmente, queremos saber isto o que fazemos é colocar numa tabela duas listas: uma com espécies e outra com características. Essa tabela é preenchida com muitos e muitos dados. Normalmente usamos zeros e uns, mas podem ser dados moleculares (ou outros). Para terem uma ideia, só preencher a tabela, pode demorar muitos meses. No final, os dados são introduzidos num computador que, usando o mais sofisticado software disponível, calcula todas as relações possíveis entre as espécies em causa e mostra-nos a melhor árvore que as representa.
Chamamos a isso uma análise filogenética.
Após várias horas, senão mesmo dias a calcular, o resultado é um simples esquema em forma de árvore, muito parecido com o que Darwin desenhou há mais de 150 anos. Normalmente tem mais ramos, como é claro, mas tudo o resto, está lá. Aparecem as espécies que se extinguiram, vemos as espécies mais recentes no topo e a ancestrais na base da árvore. Este tipo de análise pode ser aplicada de muitas formas diferentes e pode ser tão robusta que nos permite estudar relações evolutivas entre vírus e determinar quem infectou quem, em que altura e dizer até de onde é proveniente uma determinada estirpe.
E deixem-me que vos diga, pensar que uma simples ideia que surgiu há bem mais de século e meio pode dar sentido a todas as formas de vida que nos rodeiam desde as plantas do nosso jardim até ao maior dinossauro que alguma vez existiu, é simplesmente fascinante.
Somos o produto final deste campeonato ininterrupto a que chamamos Evolução das Espécies, sem nunca termos perdido um único jogo.
É esta afinal, a razão por que todos estamos aqui.
Eu respirei fundo e disse:
- Não sabes para que serve a Evolução? Serve para poderes ver melhor.
Ele respondeu-me:
- Como as cenouras que têm vitaminas?
- Mais ou menos como as cenouras, mas melhor ainda, porque te faz ver o mundo de uma outra forma.
Já pensaram nisso? Para que serve estudar a Evolução?
Actualmente existem entre 1.5 e 1,8 milhões de espécies já descritas. Segundo algumas estimativas, faltam identificar entre
Acham muita bicharada?
Podemos multiplicar esse número por mil se quisermos ficar com uma estimativa do número de espécies que existiram mas já se extinguiram.
Caminhamos todos os dias sobre sedimentos com inúmeros fósseis que são a prova literal de que já cá não estão. Por diversas razões não deixaram descendentes.
Portanto, entre as inúmeras espécies que, ao longo da idade da Terra foram evoluindo a partir de um ancestral comum, muito poucas foram bem sucedidas.
Como foi isto possível?
Darwin, melhor que ninguém, resolveu o enigma há 150 anos.
Bastaram 3 palavras: Variação, Hereditariedade, Selecção.
Variação: Facilmente reconhecemos que somos todos diferentes uns dos outros e que não existem dois animais exactamente iguais. Uns são mais altos outros mais baixos, uns correm mais outros correm menos. Existe imensa variação.
Hereditariedade: Somos todos mais parecidos com os nossos pais do que com os pais dos nossos vizinhos… eu, pelo menos, estou convencido que sim e espero que vocês também. ;) Isto é, apesar de sermos diferentes a nossas características são transmitidas de pais para filhos.
Selecção: Nem todos os organismos sobrevivem para deixar descendentes. Se não acreditam em mim façam as contas.
Algumas estirpes de bactérias levam apenas uma hora a dividir-se em duas.
A maioria das bactérias ocupa uma área um milhão de vezes mais pequena que um milímetro quadrado! A Terra tem 510 milhões de quilómetros quadrados.
Se a nossa bactéria se dividisse em duas ao fim de uma hora e essas duas ao fim de outra hora se dividissem em quatro, e por aí fora…Seriam necessárias apenas 90 horas para cobrir toda a Terra. Menos de 4 (quatro) dias!!
Nem todas as bactérias deixam descendentes e o mesmo é verdade para o resto dos seres vivos. Ou seja, a Natureza selecciona a sua própria variação.
Repetindo este ciclo, ao longo de muitas gerações, temos aquilo a que se chama de Selecção Natural. A Natureza selecciona-se a si mesma e todos os animais e plantas que hoje vemos são fruto de uma origem comum, que poderíamos representar numa árvore da vida bem maior que qualquer árvore genealógica alguma vez feita pelo Homem.
Somos todos primos mais ou menos afastados, desde os insectos do nosso jardim até à enorme baleia azul. Mais que isso, nunca nenhum dos nossos antepassados directos ficou sem filhos que também não tivessem outros filhos. Somos o produto deste campeonato ininterrupto sem nunca termos perdido um único jogo.
Da próxima vez que tiverem uma depressão lembrem-se disto, somos todos campeões! É bem melhor que tomar um comprimido. ;) É mais ou menos como as cenouras mas ainda melhor!
Parabéns ao Tomás pela foto.
A árvore filogenética representa apenas 0.18% das espécies já descritas. Imaginem como seria com o resto...