quinta-feira, 28 de dezembro de 2006

Sim à Interrupção Voluntária da Gravidez.


No próximo dia 11 de Fevereiro Portugal vai a votos para decidir, pela segunda vez, se deve ou não ser despenalizada a interrupção voluntária da gravidez.

A pergunta que se levanta imediatamente é: quais são as razões que levam ainda alguns irredutíveis a, teimosamente, lutar para que seja proibido à mulher interromper a pedido a sua gravidez, até às dez semanas, em estabelecimento legal de saúde? Em pleno século XXI não se percebe.

Começando pelo fim, existirá alguma objecção ao facto de o acto médico vir a ser executado num “estabelecimento legal de saúde”? Com os nossos impostos? Penso que não, por aqui não se vê muita contestação.

Ou haverá??

Será por ser até às 10 semanas? Neste ponto talvez não valha a pena discutir muito. Qualquer data antes disso tornaria praticamente impossível a exequibilidade da Interrupção. Não vale a pena discutir se já bate ou não um outro coração, já que isso não vai a referendo. Não vale a pena discutir se existe ou não uma outra vida humana no ventre que a envolve, não é isso que vai a referendo!

Ou valerá??

Nem vale sequer a pena saber se a mulher (já que não lhe chamamos Mãe) pode ou não pode dispor dessa vida potencial que ela possui dentro dela, seguramente que não é isto que iremos referendar!

Ou valerá??

As dez semanas são de gravidez da Mulher, não são 10 semanas de gestação do feto. Esse não vai ser referendado.

Ou irá?

O importante é a Mulher, ela sim é que estará em causa em Fevereiro, é ela e só ela quem pode decidir sobre a interrupção voluntária da sua gravidez. Assim, o problema deve estar no termo “interrupção voluntária da gravidez”, ou será que não? Vejamos, como pode alguém opor-se a uma interrupção? Se quem decide interromper a gravidez é a mulher, se só se está a interromper como quem interrompe uma reunião para, após alguns momentos, lhe dar continuidade ou se interromper é sinónimo de suspender, como podem alguns falar em morte ou aborto? Caso fosse o aborto a pedido que estivesse em debate e ai sim, qualquer um se revoltaria contra uma tal lei. Mas não é isso que vais ser referendado, o que vai ser referendado é a suspensão (ou interrupção) voluntária de uma gravidez (que é algo que apenas diz respeito à mulher). Se a gravidez é pertença da Mulher, se a interrupção nada mais é que uma suspensão por tempo indeterminado não poderá isso caber a um acto voluntário da Mulher?

Será tudo isto verdade?

Claro que tudo se poderia resumir dizendo que não existe nenhuma razão lógica que defenda a manutenção da actual lei.

Ai não? E quais são as “razões lógicas” para a mudar?

Nada nos deve envergonhar mais quando, no estrangeiro, nos deparamos com todas as maravilhas operadas por inúmeros países e entre elas está a legalização da IVG. Isso sim poderia ser um avanço civilizacional enorme que não depende de nenhuma recuperação económica.

Que avanço pode ser feito à custa de vidas humanas inocentes?

Temos uma tendência para só copiarmos o que os outros têm de pior, e que tal importarmos os sistemas de apoio à família? Não serão esses sim avanços civilizacionais?

Como podemos ter homens e mulheres iguais em direitos e deveres se privamos as mulheres de mandarem no seu próprio corpo?

E poderão mandar no corpo que cresce dentro delas?

De que estamos à espera para acabarmos com esta lei baseada na mais obscura teologia medieval? Até quando?

Saberia vossa excelência que a famosa “teologia medieval” despenalizava o aborto já que a alma só descia no final da gravidez?

Por tudo isto votarei SIM. Ou NÃO?

Sempre que lhe apresentarem um slogan pense e pergunte "Porquê?" e pergunte várias vezes.

Fico sempre admirado com a quantidade de gente que, ao terceiro "Porquê?", não sabe responder-me!

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