sexta-feira, 29 de dezembro de 2006

Para acabar com a humilhação (intelectual).

É incrível como em Portugal se dá tanto crédito a "sondagens" e "estudos" elaborados por organismos que estão empenhados em defender uma posição discutível que , supostamente, deveria ser testada com os dados recolhidos nesses "estudos".
Alguém dizia: "...é como perguntar ao Benfica quantos simpatizantes do Benfica existem.".

... sic transit gloria mundi.

Mas não resisto e tenho mesmo de escrevinhar umas palavras sobre os resultados apresentados há uns dias na Maternidade Alfredo da Costa (que já agora deveria deixar-se de desculpas e passar a ter mais cuidado com quem utiliza o seu auditório, isto se quiser ser isenta e neutra neste referendo).

Segundo o polémico estudo divulgado este mês pela Associação para o Planeamento Familiar (APF) «No ultimo ano fizeram-se entre 17260 e 18000 abortos.» e «Cerca de 73% das mulheres que realizaram o aborto, fizeram-no até às dez semanas de gravidez.»

- Estão a ver? Nós temos razão, legalizando o aborto até ás dez semanas resolvemos o problema.
Gritaram os paladinos canhotos argumentando que com a vitória do sim o problema foi-se.

Mas façamos um honesto e pequenino esforço mental (coisa que para quem se limita a gritar slogans como: «Sim , para acabar com a humilhação» dificilmente consegue):

Se 73% das mulheres que realizam um aborto, fazem-no até às 10 semanas, isto quer dizer que 27% fazem-no depois. Certo? Certo.

Ora 27% de 18000 são 4860, ou seja, 4860 mulheres que este ano realizaram abortos fizeram-no depois das 10 semanas (acreditando nos dados fornecidos pela APF!!!).

Assim sendo:
Se criticam esta lei por não ser para cumprir;
Se querem acabar com a humilhação;
Se depois de se mudar a lei continuará a existir aborto clandestino (4860 casos segundo a APF!!!);
Porque não são honestos e dizem que este referendo é só o primeiro passo num longo caminho até ao alargamento total dos prazos?
Talvez porque ser coerente e defender o sim não seja muito útil se se tem como finalidade mudar a lei.

Basta termos atenção ao que se passou lá fora, todos, repito todos os países onde até agora se legalizou o aborto começou-se sempre por prazos mais ou menos reduzidos e foram-se sempre usando os mesmos argumentos para alargar os prazos.
Porquê? Porque
Sim, para acabar com a humilhação.

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