sábado, 30 de dezembro de 2006

O decálogo de Bertrand Russel

"1. Não tenha certeza absoluta de nada.

2. Não considere que vale a pena esconder evidências, já que, as evidências inevitavelmente virão à luz.

3. Nunca tente desencorajar o pensamento, pois com certeza terá sucesso.

4. Quando encontrar oposição, mesmo que seja do seu marido ou das suas crianças, esforce-se para superá-la pelo argumento, e não pela autoridade, pois uma vitória dependente da autoridade é irreal e ilusória.

5. Não tenha respeito pela autoridade dos outros, pois há sempre autoridades contrárias a serem achadas.

6. Não use o poder para suprimir as opiniões que considere perniciosas, estas é que irão suprimir-lo.

7. Não tenha medo de ter opiniões excêntricas, pois todas as opiniões hoje aceites foram em tempos consideradas excêntricas.

8. Encontre mais prazer no desacordo inteligente do que na concordância passiva, pois, se você valoriza a inteligência como deveria, o primeiro será um acordo mais profundo que a segunda.

9. Seja escrupulosamente verdadeiro, mesmo que a verdade seja inconveniente, pois será mais inconveniente se tentar escondê-la.

10. Não tenha inveja daqueles que vivem num paraíso de tolos, pois apenas um tolo o consideraria um paraíso."

Como estava certo...

sexta-feira, 29 de dezembro de 2006

Para acabar com a humilhação (intelectual).

É incrível como em Portugal se dá tanto crédito a "sondagens" e "estudos" elaborados por organismos que estão empenhados em defender uma posição discutível que , supostamente, deveria ser testada com os dados recolhidos nesses "estudos".
Alguém dizia: "...é como perguntar ao Benfica quantos simpatizantes do Benfica existem.".

... sic transit gloria mundi.

Mas não resisto e tenho mesmo de escrevinhar umas palavras sobre os resultados apresentados há uns dias na Maternidade Alfredo da Costa (que já agora deveria deixar-se de desculpas e passar a ter mais cuidado com quem utiliza o seu auditório, isto se quiser ser isenta e neutra neste referendo).

Segundo o polémico estudo divulgado este mês pela Associação para o Planeamento Familiar (APF) «No ultimo ano fizeram-se entre 17260 e 18000 abortos.» e «Cerca de 73% das mulheres que realizaram o aborto, fizeram-no até às dez semanas de gravidez.»

- Estão a ver? Nós temos razão, legalizando o aborto até ás dez semanas resolvemos o problema.
Gritaram os paladinos canhotos argumentando que com a vitória do sim o problema foi-se.

Mas façamos um honesto e pequenino esforço mental (coisa que para quem se limita a gritar slogans como: «Sim , para acabar com a humilhação» dificilmente consegue):

Se 73% das mulheres que realizam um aborto, fazem-no até às 10 semanas, isto quer dizer que 27% fazem-no depois. Certo? Certo.

Ora 27% de 18000 são 4860, ou seja, 4860 mulheres que este ano realizaram abortos fizeram-no depois das 10 semanas (acreditando nos dados fornecidos pela APF!!!).

Assim sendo:
Se criticam esta lei por não ser para cumprir;
Se querem acabar com a humilhação;
Se depois de se mudar a lei continuará a existir aborto clandestino (4860 casos segundo a APF!!!);
Porque não são honestos e dizem que este referendo é só o primeiro passo num longo caminho até ao alargamento total dos prazos?
Talvez porque ser coerente e defender o sim não seja muito útil se se tem como finalidade mudar a lei.

Basta termos atenção ao que se passou lá fora, todos, repito todos os países onde até agora se legalizou o aborto começou-se sempre por prazos mais ou menos reduzidos e foram-se sempre usando os mesmos argumentos para alargar os prazos.
Porquê? Porque
Sim, para acabar com a humilhação.

Bioética 2006/07


O que Mudou????
Não há novas razões ???
Ou será que a técnica é repetir o referendo até que passe a lei?

Bioética 2003


Como se sabe, as novas tecnologias médicas e o estudo cada vez mais aprofundado do genoma humano, permitem que já hoje se possam detectar não só defeitos do feto, como também várias características físicas e fisiológicas do ser em gestação. É mais do que certo que em breve sejam previsíveis dados como a fisionomia, desenvolvimento físico atingível, cor dos olhos, doenças de que irá padecer (não só aquelas que hoje são alegadas para justificar o aborto, mas outras como diabetes, reumatismo, doenças cardíacas, acne, etc.), enfim, um sem número de dados com que os potenciais pais, num futuro muito próximo, se irão confrontar.

No caso do aborto passar a ser encarado apenas como um banal acto de livre decisão da mãe, em que outros factores como pressões morais, ideológicas ou religiosas perderão peso face ao efeito de diluição da responsabilidade resultante da sua prática legal e sociologicamente apoiada por uma mentalidade hedonista, não se correrá o risco de criar uma sociedade profundamente eugénica? Não se passará a abortar apenas porque a criança não irá atingir um coeficiente de inteligência que lhe permita vir a ser quadro superior, ou político, ou dirigente de futebol? Ou porque irá sofrer de reumatismo (doença de grandes encargos económicos...)? Ou porque irá ser homossexual ou ter pele escura, ou não ter olhos azuis e cabelos louros? Já hoje em dia, em países como a Índia em que os rapazes são mais valorizados que as raparigas, são efectuados inúmeros abortos apenas por se detectar que o feto é do sexo feminino. Será talvez só o começo.

Muitas vezes é repetido o seguinte slogan: «Eu mando na minha barriga».

Com certeza que manda! O que não quer dizer que mande num ser vivo que lá esteja dentro. A senhora também manda na sua casa e daí não se pode concluir que possa matar alguém que lá esteja dentro. Mesmo que seja um assaltante que lá se tenha introduzido!

Esta confusão é deliberada. As leis anti-aborto não pretendem violar os direitos das mulheres mas tão-somente garantir um direito fundamental dos filhos. Ou será que a lei penal viola os meus direitos por me retirar o de matar o meu semelhante? Os direitos das mulheres não incluem o de matar quem quer que seja – muito menos os filhos.

Todo o arrazoado sobre «dispor do seu próprio corpo» só pretende desfocar a questão do ponto fulcral: a protecção da vida do filho.

Mandar na sua barriga não significa mandar na vida de um filho que porventura lá esteja dentro. Porque nem o filho é a barriga nem a barriga é o filho - tão linear quanto isto

É por isso que o discurso "pró escolha" pode ser perigoso: se para o cidadão comum o feto for algo que nada tem de humano, se o aborto for apenas um direito da mulher a ver-se livre duma excrescência que parasita o seu corpo ("não queremos ser incubadoras"), se for algo que a sociedade aceita como natural e em que não se equaciona estar em jogo uma vida humana, abortar poderá passará a ser, na maioria dos casos, já nem sequer uma situação limite utilizada por motivo de doença, probabilidade de deficiência grave, ou miséria social, mas sim uma espécie de jogo de rifas em que quem não gostar do prémio o deita fora e joga novamente.


E quem fizer um aborto após esse prazo será condenado? Um dos principais argumentos para se alterar a Lei é o facto de ela não ser cumprida. Se a lei for para cumprir, e visto que muitos abortos são efectuados depois, ou muito depois das dez semanas, inúmeras mulheres continuarão a cometer um acto ilegal pelo qual deverão, logicamente, sofrer as consequências. Teremos então, suprema ironia, os auto-proclamados defensores dos "direitos fundamentais das mulheres" a lutar por que se cumpra uma lei que irá fazer com que muitas delas passem a ser condenadas, o que até agora, com a lei "opressora e hipócrita", não acontecia porque ninguém lhe ligava. A não ser que a intenção subjacente ao "sim" seja que quem aborte para além das dez semanas também não seja condenado, o que será manifestamente diferente daquilo que é perguntado aos portugueses...seria interessante obter uma resposta.

Haverá igualdade de direitos quando passa a ser apenas à Mulher que cabe o poder de decidir sobre a procriação da família e, em última análise, da Espécie?

Se, num casal, o marido quiser ter filhos mas a mulher os evitar abortando, o marido terá que aceitar o facto passivamente? O Homem deixa de ter o direito constitucional a ter filhos?

"O direito é da Mulher porque é ela que traz a criança no ventre durante 9 meses". Mas as razões principais que levam à opção pelo aborto não têm a ver com essa fase mas sim com o que acontecerá depois da criança nascer: os problemas económicos, a felicidade da criança, limitações causadas pelo facto de ter (mais) um filho ao seu encargo. Ora, tudo isto se passa "quando o bebé já cá está fora" situação em que o corpo da mulher já não está em causa e em que o pai também será responsável pelo seu filho. Será que ele não terá também uma palavra a dizer?

Claro que há o caso das mães solteiras. Mas não irá a facilitação do aborto desresponsabilizar ainda mais os homens que não queiram assumir a paternidade, uma vez que podem sempre argumentar que havia uma solução é fácil, segura e gratuita? Que peso passará a ter nos tribunais o pedido de uma mãe solteira para que um homem assuma as suas obrigações como pai biológico duma criança, se lhe era facultado o direito gratuito ao aborto?

Se uma pessoa acreditar, em consciência, que o ser humano se inicia na concepção, não deverá, por coerência, ser contra o aborto? Analisemos a seguinte hipótese: Um defensor do "sim" apoiará a morte deliberada de um recém-nascido? Parece-me óbvio que não. E o que foi que mudou? Não é precisamente a partir dessa altura que os problemas sociais e económicos, que a seu ver justificavam a interrupção da gravidez, verdadeiramente vão começar? Por que é que condenação é agora (quase?) generalizada? Será que esse defensor do aborto livre se tornou um radical, ou é a evidência (agora mais consensual) de se estar na presença dum ser humano que torna o acto inaceitável? Com que direito se pode então rotular de radical e intolerante quem intimamente sente que essa mesma condição humana começa antes do acto de nascer? Quem é afinal o intolerante?



Por ultimo, e para que possa servir de reflexão, já que de emenda será difícil, fica este peculiar exemplo em forma de questionário:

Que conselho dariam a uma certa senhora, grávida do quinto filho?

O marido sofre de sífilis; ela, de tuberculose.

O primeiro filho nasceu cego.

O segundo, morreu.

O terceiro nasceu surdo e o quarto é tuberculoso.

Ela está a considerar seriamente abortar a quinta gravidez. Que caminho a aconselharia a tomar com base nos factos apresentados?

...?



...



...Fique então o leitor consciente que se disse "sim" à ideia do aborto, acabara de matar o grande compositor Ludwig van Beethoven.



Texto adaptado de:

http://members.netmadeira.com/lucianocastanheira/

http://www.terravista.pt/enseada/1881/questões.html


quinta-feira, 28 de dezembro de 2006

10ª Semana...

10ª Semana de gestação













  • A criança em formação deixa de se chamar embrião e passa a chamar-se feto
  • O corpo tem o dobro do comprimento da cabeça
  • Os braços e pernas são compridos e finos
  • Os dedos conseguem fechar formando um punho
  • São produzidos glóbulos vermelhos
  • Mede entre 3,2 a 4,4 cm


fonte:www.dshs.state.tx.us/wrtk/

O novo Journal: JPT

Um pouco de Ciência...


www.jpaleontologicaltechniques.org

Sim à Interrupção Voluntária da Gravidez.


No próximo dia 11 de Fevereiro Portugal vai a votos para decidir, pela segunda vez, se deve ou não ser despenalizada a interrupção voluntária da gravidez.

A pergunta que se levanta imediatamente é: quais são as razões que levam ainda alguns irredutíveis a, teimosamente, lutar para que seja proibido à mulher interromper a pedido a sua gravidez, até às dez semanas, em estabelecimento legal de saúde? Em pleno século XXI não se percebe.

Começando pelo fim, existirá alguma objecção ao facto de o acto médico vir a ser executado num “estabelecimento legal de saúde”? Com os nossos impostos? Penso que não, por aqui não se vê muita contestação.

Ou haverá??

Será por ser até às 10 semanas? Neste ponto talvez não valha a pena discutir muito. Qualquer data antes disso tornaria praticamente impossível a exequibilidade da Interrupção. Não vale a pena discutir se já bate ou não um outro coração, já que isso não vai a referendo. Não vale a pena discutir se existe ou não uma outra vida humana no ventre que a envolve, não é isso que vai a referendo!

Ou valerá??

Nem vale sequer a pena saber se a mulher (já que não lhe chamamos Mãe) pode ou não pode dispor dessa vida potencial que ela possui dentro dela, seguramente que não é isto que iremos referendar!

Ou valerá??

As dez semanas são de gravidez da Mulher, não são 10 semanas de gestação do feto. Esse não vai ser referendado.

Ou irá?

O importante é a Mulher, ela sim é que estará em causa em Fevereiro, é ela e só ela quem pode decidir sobre a interrupção voluntária da sua gravidez. Assim, o problema deve estar no termo “interrupção voluntária da gravidez”, ou será que não? Vejamos, como pode alguém opor-se a uma interrupção? Se quem decide interromper a gravidez é a mulher, se só se está a interromper como quem interrompe uma reunião para, após alguns momentos, lhe dar continuidade ou se interromper é sinónimo de suspender, como podem alguns falar em morte ou aborto? Caso fosse o aborto a pedido que estivesse em debate e ai sim, qualquer um se revoltaria contra uma tal lei. Mas não é isso que vais ser referendado, o que vai ser referendado é a suspensão (ou interrupção) voluntária de uma gravidez (que é algo que apenas diz respeito à mulher). Se a gravidez é pertença da Mulher, se a interrupção nada mais é que uma suspensão por tempo indeterminado não poderá isso caber a um acto voluntário da Mulher?

Será tudo isto verdade?

Claro que tudo se poderia resumir dizendo que não existe nenhuma razão lógica que defenda a manutenção da actual lei.

Ai não? E quais são as “razões lógicas” para a mudar?

Nada nos deve envergonhar mais quando, no estrangeiro, nos deparamos com todas as maravilhas operadas por inúmeros países e entre elas está a legalização da IVG. Isso sim poderia ser um avanço civilizacional enorme que não depende de nenhuma recuperação económica.

Que avanço pode ser feito à custa de vidas humanas inocentes?

Temos uma tendência para só copiarmos o que os outros têm de pior, e que tal importarmos os sistemas de apoio à família? Não serão esses sim avanços civilizacionais?

Como podemos ter homens e mulheres iguais em direitos e deveres se privamos as mulheres de mandarem no seu próprio corpo?

E poderão mandar no corpo que cresce dentro delas?

De que estamos à espera para acabarmos com esta lei baseada na mais obscura teologia medieval? Até quando?

Saberia vossa excelência que a famosa “teologia medieval” despenalizava o aborto já que a alma só descia no final da gravidez?

Por tudo isto votarei SIM. Ou NÃO?

Sempre que lhe apresentarem um slogan pense e pergunte "Porquê?" e pergunte várias vezes.

Fico sempre admirado com a quantidade de gente que, ao terceiro "Porquê?", não sabe responder-me!

Este é o primeiro dia...

IF you can keep your head when all about you
Are losing theirs and blaming it on you,
If you can trust yourself when all men doubt you,
But make allowance for their doubting too;
If you can wait and not be tired by waiting,
Or being lied about, don't deal in lies,
Or being hated, don't give way to hating,
And yet don't look too good, nor talk too wise:

If you can dream - and not make dreams your master;
If you can think - and not make thoughts your aim;
If you can meet with Triumph and Disaster
And treat those two impostors just the same;
If you can bear to hear the truth you've spoken
Twisted by knaves to make a trap for fools,
Or watch the things you gave your life to, broken,
And stoop and build 'em up with worn-out tools:

If you can make one heap of all your winnings
And risk it on one turn of pitch-and-toss,
And lose, and start again at your beginnings
And never breathe a word about your loss;
If you can force your heart and nerve and sinew
To serve your turn long after they are gone,
And so hold on when there is nothing in you
Except the Will which says to them: 'Hold on!'

If you can talk with crowds and keep your virtue,
' Or walk with Kings - nor lose the common touch,
if neither foes nor loving friends can hurt you,
If all men count with you, but none too much;
If you can fill the unforgiving minute
With sixty seconds' worth of distance run,
Yours is the Earth and everything that's in it,
And - which is more - you'll be a Man, my son!

Rudyard Kipling