segunda-feira, 10 de maio de 2010

Florestas, capuccinos e fósseis: como ver tudo de pernas para o ar…

Cada um de nós vê o Mundo à sua maneira.

Uns acham que estamos numa crise como nunca vista e por isso é a pior altura para se viver, outros, que agora é o melhor momento para apostar e investir.

Parece-me que não há nada melhor que olhar para o mundo de uma outra forma, com um pouco de ciência.

Reparem. Um biólogo quando olha para uma floresta tropical consegue imaginá-la de uma forma muito diferente do que estamos habituados. Consegue vê-la através dos olhos das espécies que nela vivem. A esmagadora maioria das espécies que que habitam qualquer floresta tropical não está no solo, nem nos ramos, mas sim no topo das copas das árvores. São insectos! E para eles uma floresta é um manto de folhas verdes aos altos e baixos constantemente ao Sol. Por debaixo, existe um inferno escuro, sem luz, onde vivem meia dúzia de espécies estranhas, enormes…que, se os apanharem lá em baixo comem-nos imediatamente.

Quando um astrónomo olha para o céu através de um telescópio, sabe que o que vê está tão longe que os fotões provenientes das estrelas tiveram de percorrer muitos milhares de anos à velocidade da Luz até poderem formar uma imagem na sua retina.

O fisiologista sabe que o que o astrónomo vê não é a luz que viajou tão rápido de tão longe. “Ver” é o resultado de um padrão de vários impulsos eléctricos provenientes das células da retina e descodificados pelos neurónios existentes na parte de trás do nosso cérebro.

O biólogo vê o cérebro humano como uma estrutura fascinante resultado de milhões de anos de evolução em ambientes tão diversos como o mar, a selva, a savana e mesmo as nossas cidades modernas.

E o paleontólogo sabe que esse cérebro surgiu há tão pouco tempo e que esse acontecimento foi tão único, que essa visão só pode aumentar a sua humildade e respeito por todas as formas de vida que nos rodeiam neste nosso planeta azul.

Se quisermos mesmo ser honestos a Terra nem é o nosso planeta, somos apenas habitantes muito recentes e lá porque alguns de nós conseguem escalar o Evereste, viver nos pólos, e atravessar os desertos mais inóspitos achamos que dominamos o mundo. Nada disso. Se quisermos ter uma ideia sobre a importância das bactérias temos, mais uma vez de inverter a nossa percepção do mundo.

Imaginem um copo de capuccino.

A parte líquida seria proporcional à quantidade de bactérias, a espuma à quantidade de plantas e o chocolate no topo seriam o resto dos outros seres vivos na Terra.

As bactérias são sem dúvida as principais habitantes do nosso planeta, vivem em todo o lado, mesmo dentro de nós. Algumas, podem viver enterradas a vários quilómetros de profundidade na crosta terrestre enquanto outras só vivem felizes a nadar em água a ferver.

Quando eu tinha seis anos de idade o meu avô mostrou-me uma foto do Hallucigenia, um fóssil com mais de 500 milhões de anos! O animal extinto era tão estranho que os cientistas só descobriram mais tarde que o tinham desenhado de pernas para o ar. Assim que descobriram mais fósseis, tiveram de fazer novos desenhos e rescrever os livros.

Não sei o que vocês acham, mas eu gosto, enquanto cientista, de ver o mundo assim, como uma criança de seis anos, sempre maravilhada com o Mundo e sempre pronta para por tudo de pernas para o ar, desde que isso faça mais sentido.

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