terça-feira, 11 de março de 2008

A Monarquia das bananas

A propósito de uma discussão que tive cá por casa lembrei-me de escrevinhar umas linhas sobre a sempre fresca querela que debate a melhor forma de regime: se é uma monarquia ou uma república. Para mim sempre foi pacífico que o melhor seria viver num país onde todos somos iguais em dignidade. E se isto parece claro e óbvio, também o é que todos devemos ter o direito de poder desempenhar qualquer função estatal, desdo a base até ao topo. Só nos devemos limitar pelas nossas capacidades e pelo mérito que delas resulta. Sempre pensei que era só isto que deveria servir de distinção numa verdadeira meritocracia.

Esteve tudo isto – sempre transparente – na minha mente.

Esteve, no pretérito, mas já não está.

Conversando e conversando, converti-me. Sou monárquico. Não um monárquico qualquer mas sim um monárquico especial. Melhor que me catalogar deixem-me contar-vos como me converteram.

Segue-se o meu caminho de Damasco, foi mais ou menos assim:


Eu – Olá, viva a República!

OutroOlá… diz-me como podes ser tão cegueta que não vejas que o filho mais velho do Rei devia ser o próximo chefe de estado? Não vês que em Espanha é assim? Não me digas que é só coincidência os nuestros hermanos serem bem mais desenvolvidos que nós, ou queres ver que a constituição deles não presta? É por estas e por outras que temos uma República das bananas!

– Sim, sim. Mas eles são os primeiros a querer mudar a constituição para que as mulheres possam herdar o trono em igualdade com os homens.

- Tens razão. Seria melhor que o filho ou filha mais velho(a) do Rei fosse o próximo(a) chefe de estado. Sem distinção entre os géneros. Ou não?

- Não. Porquê o mais velho? Eu sou filho do meio. Imagina lá tu que os meus queridos pais me iam deixar um reino … tanto seria justo a minha irmã mais velha se revoltar por ser preterida por causa do sexo como eu me revoltar por ser preterido por causa da data do meu nascimento… e já agora a minha irmã mais nova também se revoltaria com toda a justiça já que ela ficaria sempre para trás em qualquer dos casos.

- Pronto está bem, mas seria tão bom viver num pais onde qualquer um dos filhos do Rei poderia ser herdeiro sem discriminações…

- E agora pergunto eu, como escolherias qual deles seria o próximo Rei? Tiravas à sorte?

- Não sejas irónico, claro que não. Seriam todos educados para poderem ser Reis ou Rainhas e escolhia-se o melhor!

- E já agora, como é que se escolhia o melhor?

- Bem escolhiam os pais… quer dizer… mas os pais (pelo menos um) já estariam mortos. Então escolhiam os nobres, ou as cortes… ou… já sei. Eram escolhidos por uma comissão de sábios depois de um período de avaliação. Epá genial! Como é que ninguém se tinha lembrado disso!?

- E define lá isso de “comissão de sábios”.

- Era simples… bem… quer dizer… olha só para não dizeres que não defendo a democracia até nem me chocava que fossem os parlamentares a avaliar os príncipes e as princesas.

- Sim isso era giro mas voltando um pouco atrás. Se os filhos bastardos do rei quisessem ser avaliados pelo parlamento podiam ou não podiam? Afinal eram filhos do Rei.

- Como se o reis actuais tivessem assim tantos filhos bastardos. Mas ok, não fugindo à tua pergunta, podiam sim, não havia problema. A regra é serem filhos do Rei.

- Só os filhos do Rei? Só esses?

- Sim só esses.

- E se o Rei não tivesse filhos?

- Lá estás tu a complicar. Bom se não houvessem filhos, íamos aos sobrinhos e irmãos do Rei e por ai fora… tínhamos era de os educar para serem chefes de estado, logo desde pequeninos.

- Mas não valem só os filhos do Rei? Afinal os sobrinhos e a família real (desde que educados para tal) são perfeitamente capazes de se tornarem chefes de Estado, certo?

- Sim certo. Isso era ainda mais seguro e justo. Era uma monarquia aperfeiçoada.

- Devíamos era educar todos os familiares do Rei para poderem ser avaliados pelo parlamento quando chegasse a infeliz notícia da morte do Rei.

- Sim sim, isso mesmo. Não me choca nada.

- Pois a mim também não. Só acho é que era ainda melhor se não restringíssemos aos familiares do Rei. Porque não às famílias dos nobres todos e aos seus amigos mais próximos?

- Ok pronto…Vá lá dos nobres e os seus amigos mais próximos. Mas a mais ninguém!

- Mas mais ninguém? Porquê mais ninguém? O que é que os amigos dos nobres são mais que tu e eu? Era só que faltava.

- Ok ok. Pronto ganhaste tenho de concordar. Podiam ser todos, desde que tivessem educação e fossem os melhores.

- E a que tipo de educação te referes?

- Conhecer o mundo, saber falar várias línguas, ser culto, saber ciência e politica… esse tipo de assuntos.

- Deixa ver se eu percebo. Começávamos por educar essas pessoas desde muito jovens, desde os 3 ou 4 anos em escolas especiais com professores especiais. Depois continuavam a sua educação estudando Português, Matemática, Musica, Línguas estrangeiras, informática e Desporto. Em seguida ensinávamos-lhe a pensar sobre o mundo em escolas para príncipes mas crescidos onde aprendiam para além disso Geografia, Historia, Literatura, Ciências Naturais, Física e Química, etc. Quando fossem mais crescidinhos até podiam escolher as disciplinas dentro da área que mais gostavam. Claro que poderiam tirar um curso e posterior doutoramento na melhor universidade real e pronto. Tudo isto pago com dinheiro do estado claro. Quando fossem maiores e após tantos anos de educação podiam apresentar-se para serem avaliados em igualdade de competição.

- Já estou a ver onde queres chegar… mas não me apanhas, o Rei era nomeado (não por todos mas apenas pelo parlamento) vitaliciamente! Até morrer, capiche?

- Ok ok. Tudo bem não cedes aí. Mas e se o Rei começasse a fazer disparates por loucura ou por malvadez?

- Aí o parlamento demitia-o!

- Então não era vitalício?

- Era quase, tinha de haver um controlo.

- E se em vez de vitalício o parlamento fosse obrigado periodicamente a avaliar o Rei. Digamos de 10 em 10 anos. Passado esse tempo o parlamento voltava a avaliar o Rei e a renomeá-lo ou não, nesse caso nomeavam outro para ocupar o cargo.

- Pois podia ser não vejo grande problema, até podiam ser períodos mais curtos, desde que fossem suficientemente longos. Tinham de ter alguma representatividade das suas reais competências.

- E isso seria mais ou menos quanto tempo?

- Sei lá no mínimo 5 ou 6 anos…

- Pois. E se em vez de nos apresentarmos todos à molhada para sermos avaliados no parlamento, existissem organizações que nomeavam ou apoiavam candidatos a essa eleição do Rei?

- Eleição? Tas louco? Isso não, jamais!

- Desculpa queria dizer nomeação.

- Ok, aí tudo bem. Até era mais simples. O pessoal organizava-se, discutia as suas ideias e esses grupos nomeavam os melhores de entre eles para serem avaliados. Boa ideia.

- Já agora e que tal em vez de ser o parlamento se fossemos todos nós a decidir. O povo todo. Todos os súbditos!

- Isso era ideal! Mas com fazias isso?

- Como?... Pensa lá…

- Mas isso… isso… não é uma monarquia.

- É sim Sr. é uma Monarquia das bananas!

- Ah, então defendes uma monarquia.

- Sim mas uma Monarquia das bananas!



É que no fundo no fundo há uma só coisa que distingue uma monarquia de uma república. Na primeira é apenas uma família Real que tem o direito e o dever de gerar os sucessivos representantes vitalícios de todos cidadãos. Na segunda o dever e o direito é de todas as famílias dos cidadãos que são chamadas a gerar sucessivamente potenciais representantes reais.

E digam lá se não é muito mais giro sermos todos príncipes e princesas deste nosso querido Portugal?