quinta-feira, 8 de março de 2007

Vieira

Semen est verbum Dei (S. Lucas, 8, 11)

Fazer pouco fruto da palavra de Deus no mundo, pode proceder de um de três princípios: ou da parte do pregador, ou da parte do ouvinte, ou da parte de Deus. Para uma alma se converter por meio de um sermão, há-de haver três concursos: há-de concorrer o pregador com a doutrina, persuadindo; há-de concorrer o ouvinte com o entendimento, percebendo; há-de concorrer Deus com a graça, alumiando. Para um homem se ver a si mesmo, são necessárias três coisas: olhos, espelho e luz. Se tem espelho e é cego, não se pode ver por falta de olhos; se tem espelho e olhos, e é de noite, não se pode ver por falta de luz. Logo, há mister luz, há mister espelho, e há mister olhos. Que cousa é a conversão de uma alma, senão entrar um homem dentro de si e ver-se a si mesmo? Para essa vista são necessários olhos, é necessária luz e é necessário espelho. O pregador concorre com o espelho, que é a doutrina; Deus concorre com a luz, que é a graça; o homem concorre com os olhos, que é o conhecimento. Ora, suposto que a conversão das almas por meio da pregação depende destes três concursos de Deus, do pregador e do ouvinte, por qual deles devemos entender que falta? Por parte do ouvinte, por parte do pregador, ou por parte de Deus?


(Sermão da Sexagésima)