quinta-feira, 25 de março de 2010

PalNiassa 2009

A pergunta impunha-se há já demasiado tempo: será que Moçambique não é também um país rico em fósseis? Sabemos que vários países vizinhos trouxeram à luz inúmeros animais extintos que são hoje extremamente conhecidos, é exemplo disso a Tanzânia onde foi descoberto o Brachiosaurus brancai, na altura considerado o maior dinossauro alguma vez encontrado. As camadas de Tendaguru representam a localização mais abundante em dinossauros africanos do Jurássico Superior (síncronos da Formação da Lourinhã) e localizam-se no Sul da Tanzânia a poucos quilómetros da fronteira de Moçambique. A África do Sul é outro país repleto em animais bem mais antigos que os dinossauros: os répteis mamalianos. Estes possuíam certas características de mamíferos (ex: uma abertura temporal no crânio, um par de grandes caninos) mas outras tipicamente de répteis (ex: presença de escamas, postura rastejante).

Será que não poderíamos vir a descobrir algo semelhante? Será que não existem outros répteis ou vertebrados tão ou mais fantásticos do que estes ainda no terreno por escavar e estudar? Só o poderíamos saber indo aos locais e pisando o terreno. Foi o que fizemos e a resposta foi um redondo "sim".

Este Verão eu e o Ricardo, enquanto investigadores do Museu da Lourinhã, deslocá-mo-nos a Moçambique numa expedição de prospecção e recolha de fósseis de vertebrados.
A expedição chamou-se PalNiassa 2009 e decorreu ao longo de todo o mês de Julho tendo tido resultados relevantes do ponto de vista científico e institucional. A recepção por parte de todas as instituições Moçambicanas foi extremamente prestável e generosa, o que facilitou todo o trabalho que tivemos de executar no campo. Tivemos ainda a possibilidade de encetar parcerias entre as instituições que representamos o que, para expedições futuras, é indispensável.

Foram descobertas novas jazidas com fósseis (ex: Monte Chipalapala) novas localidades com fósseis (junto a Tulo) mas mais importante que tudo isto foram os fósseis recolhidos que se encontram em estudo no Museu da Lourinhã. São os únicos vestígios de sinapsídeos fósseis recolhidos em Moçambique nos últimos 40 anos. Entre os achados mais relevantes contam-se um esqueleto completo de um Anomodontia (Sinapsida) e um osso extremamente bem preservado da pélvis do mesmo tipo de animais. Estes achados permitirão identificar mais concretamente o animal em causa e estabelecer correlações com outros achados noutras partes do mundo.

Não podemos deixar de agradecer a todos os que participaram ou ajudaram a que este projecto tenha sucesso, nomeadamente, a todos os nossos colegas moçambicanos e a todos os funcionários que nos acompanharam ao campo nas mais diversas e complicadas situações.

Neste momento existe muito trabalho pela frente e só mais expedições podem trazer mais resultados e novas perspectivas para que o passado de Moçambique seja valorizado como deve.

segunda-feira, 22 de março de 2010

domingo, 21 de março de 2010

Não vão ver







Só não saí a meio por que não calhou...
...um dos piores filmes dos últimos tempos.

Básico, primário, infantil e até estúpido. Trata o espectador como uma besta acéfala.
Resumindo uma desilusão.
Se gostam de filmes sem nenhum conteudo e só com violência bruta (desculpem o pleonasmo), então este é um filme para vocês.

Caso contrário nem metam lá os pés!

quinta-feira, 18 de março de 2010

quinta-feira, 11 de março de 2010

Carta Aberta

Caros Deputados Portugueses:

Venho por este meio manifestar o meu apoio ao protesto que decorrerá hoje por volta das 17:30 em frente à Assembleia da República Portuguesa.
É realmente preocupante a falta de sensibilidade deste governo para poder apostar nos bolseiros de investigação no nosso país.
Aqueles que serão os sábios do futuro não recebem os apoios devidos e não vêm as suas bolsas aumentadas há quase uma década. A caricata situação de termos que assinar um contracto de exclusividade sem termos nenhum emprego efectivo, torna tudo ainda mais grave. Urge mudar a situação.
É da mais elementar justiça que a oposição actual não se demita das suas funções e force uma mudança neste cenário. Que não se oiçam desculpas por estarmos em crise, é precisamente em tempos de crise que a justiça não deve ser esquecida.



Um bolseiro de Doutoramento,

Rui Castanhinha

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Aos professores

Transcrevo o convite da Ana aos professores... venham daí!



Caros Professores,

Vimos por este meio lembrar da próxima conversa da série Biologia dos Tempos Modernos - uma série de seminários informais por investigadoes do Instituto Gulbenkian de Ciência, destinados a TODOS os professores do ensino básico e secundário.

O objectivo destes seminários (ou conversas, como preferimos chamar-lhes) é de aproximar os professores da investigação biomédica de excelência internacional, apresentada por alguns dos melhores cientistas a trabalhar em Portugal.

As sessões terão início pelas 14:30, no Auditório Ionians (por cima do refeitório do IGC), em Oeiras (Rua da Quinta Grande, 6 - vejam como chegar ao IGC em http://www.igc.gulbenkian.pt/node/view/17).

27 Novembro 2009 - A Biologia Evolutiva no tempo de Darwin e hoje
Élio Sucena (IGC) - A evolução da forma: de Darwin ao DNA
Rui Castanhinha (IGC e Museu da Lourinhã e Monitor da exposição 'A Evolução de Darwin' da Fundação Calouste Gulbenkian) - Título a confirmar

O número de participantes é limitado a 100, sendo seleccionados por ordem de inscrição.
A inscrição deverá ser enviada para agodinho@igc.gulbenkian.pt, com indicação 'Biologia dos Tempos Modernos' no Assunto.

Convidamo-vos a enviarem questões ou tópicos que gostariam de ver abordados em sessões futuras. Recordo que as sessões se realizam mensalmente, na última Sexta-feira do mês.

Aceitam-se inscrições de professores de outras áreas científicas (ex: matemática, física, química) assim como das humanidades e ciências sociais.

Com os melhores cumprimentos
Ana Godinho

segunda-feira, 27 de julho de 2009

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Sexo, Dinossauros e Darwin


Sendo 2009 o ano Darwin muito já se tem dito sobre o que o próprio escreveu acerca de imensa coisa, mas sobre dinossauros é muito escasso o material existente.
Aqui vos deixo uma passagem do livro The Descent of Man, and Selection in Relation to Sex publicado em 1971. Esta obra teve felizmente uma novissima edição em Português que foi traduzida pela minha colega Susana Varela. É um excelente livro histórico que vale a pena conhecer. Foi precisamente em 1971 que Darwin apresentou uma outra ideia absolutamente revolucionária: a Selecção Sexual. Pensar-se que as escolhas sexuais dos seres vivos poderiam desempenhar um papel fulcral na evolução de estruturas complexas ou extremamente bizarras era, sem sombra de dúvidas, algum de novo e mais uma vez foi um um choque tremendo. Lembem-se que o sexo foi (quase) sempre um tema tabu nas nossas sociedades ocidentais. A Inglaterra victoriana não era excepção, e vir dizer que quem tem o papel mais importante na escolha sexual é a fêmea... era, no mínimo, complicado. Charles Darwin sempre foi um homem do seu tempo nos costumes, mas quanto às suas ideias ciêntíficas esteve quase sempre à frente de todos os outros, é o melhor exemplo que conhecemos para provar que não é necessário ser-se excêntrico para se ser genial. E como qualquer cientista do seu tempo tambem se interessou por dinossauros, reparem então no que ele escreveu:

« Sabe-se que existiram, ou que ainda existem, grupos de animais que servem para ligar, com maior ou menor intensidade, várias das grandes classes de vertebrados. Vimos, por exemplo, que o ornitorrinco passa gradualmente para o lado dos répteis; e o Professor Huxley descobriu que os dinossauros estão, em muitas características importantes, numa posição intermédia entre certos répteis e certas aves – facto que foi confirmado pelo Sr. Cope e outros –, as quais pertencem à tribo das avestruzes (que evidentemente também são o último vestígio amplamente difundido de um grupo outrora mais vasto) e ao arqueoptérix, estranha ave secundária, com uma longa cauda semelhante à de um lagarto. Além disso, e de acordo com o Professor Owen, os ictiossauros – grandes répteis marinhos providos de barbatanas – apresentavam várias afinidades com os peixes, ou melhor, segundo Huxley, com os anfíbios; que são uma classe que, por incluir na sua divisão mais avançada as rãs e os sapos, é manifestamente aparentada com os peixes ganóides. Estes últimos abundavam durante os primeiros períodos geológicos, e eram formados segundo aquilo a que chamamos modelo generalizado, isto é, apresentavam diversas afinidades com outros grupos de organismos. O Lepidosiren, por exemplo, está tão intimamente ligado aos anfíbios e aos peixes que os naturalistas debateram longamente para decidir em qual destas classes o colocar; tanto ele como alguns peixes ganóides foram preservados de uma completa extinção por habitarem em rios que funcionam como pequenos portos de refúgio, visto que estão ligados às grandes águas dos oceanos da mesma maneira que as ilhas estão ligadas aos continentes. » Citação do livro "A Origem do Homem e a Selecção Sexual" de Charles Darwin, cap. 6, página 182.



É reconhecido todo o mérito aos paleontólogos Richard Owen e Edward D. Cope o facto de já se considerar a hipótese de que as aves e os dinossauros estavam mais realicionados do que à primeira vista se poderia pensar. A ideia não era de Darwin, mas é de facto muito engraçado pensarmos que tamanha beleza e complexidade nas formas possa ser tão semelhante na sua origem.



Obrigado à Susana Varela por ter alertado para esta passagem.