Irra, que só deves ter vento na cabeça!
A expressão não podia vir mais a calhar já que dois professores de anatomia da Universidade do Ohio (EUA) publicaram este mês mais um trabalho sobre a os seios paranasais de dinossauros. O estudo "The paranasal air of predatory and armored dinosaurs (Archosauria: Theropoda and Ankylosauria) and their contribution to cephalic architecture." foi publicado na revista Anatomical Record por Larry Witmer e Ryan Ridgely e devo confessar que é do melhor que a paleontologia de dinossauros tem feito nos últimos anos. [Para um europeu como é estranho que o americanos ponham paleontólogos a ensinar anatomia humana aos seus futuros médicos.] E se há uma coisa que estes senhores não têm na cabeça é: ar.
Bom, para dizer a verdade até têm, todos temos! Reparem na figura abaixo e vejam quantidade de ar que a nossa cabeça contem. O azul escuro representa o nosso cérebro, todas as outras cores são preenchidas por ar.
No que diz respeito aos dinossauros, esses, tinham necessidades realmente ciclópicas e para poderem perder algum do peso da cabeça (cerca de 8% para ser mais específico) acabaram por desenvolver (como eu detesto este verbo aqui) cavidades pneumáticas muito maiores que as nossas. Esses espaços preenchidos por ar são uma solução económica que certos animais, no decurso da sua história evolutiva, acabaram por explorar. A razão é simples, conseguimos aumentar o tamanho atenuando o aumento proporcional do peso sem comprometer a resistência. Experimentem abrir uma placa de cartão e vêm o que quero dizer, já que, o cartão canelado não é mais do que papel e ar! Se o ar existente no interior dessas mesmas placas fosse preenchido por papel teríamos algo mais parecido a madeira que a cartão, claro que seria resistente mas o peso seria muito superior. Muitas vezes é preferível perder 5% da resistência para podermos livrar-nos de 80% do peso.
Claro que para quem tinha uma cabeça que pesava 515 kg qualquer emagrecimento é bem vindo, não dá jeito nenhum ser tão cabeçudo.
No caso dos dinossauros, era extremamente "inteligente" ter a cabeça cheia de ar.
A Evolução é um processo fascinante e muitas outras utilidades poderiam ser extraídas destas cavidades: ressonância para vocalizações e consequente comunicação entre os animais, ou mesmo a amplificação de sons mais difíceis de ouvir, ou até mesmo a termorregulação através do ar respirado... Tudo isto pode ser estudado com o recurso a técnicas de Tomografia Computorizada e de processamento dos dados em software de manipulação 3D. O resultado final são crânios virtuais mais parecidos a esculturas pré-colombianas do que a fósseis do Mesozóico.
Um mundo está ainda por explorar para quem pensava que ter a cabeça cheia de ar não tinha interesse nenhum.
Publicado simultaneamente no Lusodinos
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