sexta-feira, 31 de outubro de 2008

SVP

Quando a sociedade se organiza espontaneamente para compreender o mundo e explicá-lo melhor é motivo de espanto e orgulho.

Acostumados a pedir apoios e subsídios, muitos não entendem como pode uma organização científica independente sobreviver e outros duvidam até da sua utilidade.

Como pode uma sociedade científica dedicada ao estudo de restos de animais extintos há milhões de anos sobreviver sem um forte apoio do Estado?

E será que deve existir? Será que devemos perder tempo a estudar pequenos roedores extintos do Paquistão ou répteis desaparecidos há muito da costa Angolana? Que importância tem a evolução das espécies? Que interesse tem isso tudo? O que ganhamos com isso?

Em Austin no congresso anual da Society of Vetebrates Paleontology ouvi um velho mestre exclamar:
"É um orgulho poder pertencer e investigar numa sociedade que nenhum impacto tem no PIB!"

Claro que não é bem assim, mas isso é completamente irrelevante. As nossas acções não se devem pautar pela pura e exclusiva preocupação com o essencial. É o supérfluo que nos faz humanos, quase que é uma contradição. Torna-se essencial para se "ser humano" um apetite insaciável pelo supérfluo. A arte é supérflua, a religião também, o lazer também, se nos restringirmos ao essencial ficamos reduzidos a pouco mais que um campo de concentração.
A questão não está em se devemos ser gratuitos e dedicarmo-nos ao dispensável, está sim em decidir o que escolher. Uns escolhem ler a "Bola" enquanto outros preferem escalar o Makalu.

Choque.
Foi o que senti ao ver como funciona a SVP na minha primeira participação no seu congresso há três anos atrás. Uma sociedade viva, independente e espantosamente próspera! Leilões feitos por paleontólogos vestidos de James Bond ou de Piratas servem para angariar fundos para as expedições mais fantásticas feitas no nosso planeta. O ambiente é um misto de filatelistas de escritório com Indianas Jones que literalmente viajam até ao fim do mundo para desenterrar caveiras e esqueletos.

O entusiasmo é contagiante e é impossível não aprender imenso. A ciência deve servir mais para isto, para nos fazer feliz por sabermos um pouco mais sobre o que nos rodeia do que para resolver os nossos problemas do dia a dia. É a diferença entre culinária e gastronomia...

Sempre que me perguntam porque estudo paleontologia respondo que, tal como eles, também eu em criança adorava dinossauros mas a nossa diferença é que tive a sorte de não ter de crescer!

É esta maravilha que faz de todos nós humanos.
É um orgulho poder pertencer a esta sociedade de pioneiros e exploradores.
E não há maior agradecimento do que desejar profundamente que a esta aventura do saber continue e se multiplique!

Aqui fica um vídeo sobre a SVP http://www.vertpaleo.org/video/WeAreSVP/index.cfm para que percebam o que quero dizer.

1 comentário:

Contacte-nos disse...

Belo texto Rui,

grande abraço!