quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Esqueci-me...

... Parabéns Vanessa.
O raio da miúda é rija!

17,67


Parabéns

Boa Tarde

"Assim como o nosso espírito se fortifica pela convivência com espíritos rigorosos e sensatos, nem se pode dizer quanto se empobrece e degenera pelo contínuo comércio e frequência que temos com espíritos baixos e doentios. Não há peste que se espalhe tanto como essa. Sei por não pequena experiência o preço por que fica. Gosto de discutir e discorrer, mas é com pouca gente e para meu proveito. Porque servir de espectáculo aos grandes e fazer ao desafio exposição do espírito e de palavreado, acho que é ofício que não fica bem a um homem honesto."

Montaigne, Da Arte de Discutir

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Por que se rompem as meias

A caminho de um casamento de um bom amigo.
Fato bonito e gravata ainda por escolher, mas como não tenho nenhum par de meias que se apresente tenho de ir às compras.
Comprar meias.

Fica sempre bem contribuir para a economia nacional, e a industria têxtil agradece, o shopping agradece, a lojista agradece, e o amigo… o que mais conta... nem nota.

Mas eu prefiro assim, sinto-me melhor comigo mesmo. Fico mais seguro e confortável, é assim que somos, é isto que nos faz pessoas.

Como dizia um tipo esperto: Só existem duas coisas infinitas, o Universo e a estupidez humana, mas quanto ao Universo ainda não tenho bem a certeza.

Fiquei então a pensar... já não vou a um casamento há mais de 5 anos. Por que raio é que as pessoas não se casam mais? Por que têm cada vez menos filhos?
Falta de dinheiro. Isto está mesmo mal. A minha carreira não é nada estável. Não se pode ter filhos num mundo assim.

Resumindo, não temos filhos por que não temos condições para os ter. A culpa não é nossa, é algo externo. Isto está a correr mal e como tal não dá. É isto que ouvimos, nada de novo.

Quanto a mim parece-me que a causa é externa, mas será mesmo por isso que não temos mais filhos? Duvido profundamente.

Como é mais que óbvio, quem responde o que responde não está a mentir. Se me dizem que não têm dinheiro nem condições para ter filhos quem sou eu para duvidar. Agora o interessante não é que isso seja ou não verdade, o interessante é que não é por causa disso que as pessoas não têm filhos.

Este tipo de conversa parece de loucos mas é assim. Mesmo que repitam constantemente que não têm dinheiro para ter filhos e é por isto que não os têm eu duvido muito que tenham razão.

Reparem como é confuso:
Não temos filhos por falta de dinheiro, certo? Certo.
Não estamos a mentir, certo? Certo.
Então temos falta de dinheiro para ter filhos, certo? Errado!

Se temos então imensas pessoas a dizer que não têm filhos por que não têm dinheiro, devemos duvidar delas? Julgo que sim.

A aparente discordância advém de uma confusão semântica, nada mais. Numa discussão basta acordarmos na definição dos termos em causa para chegarmos facilmente às mesmas conclusões. Vejamos.

A resposta está na definição de "filhos" e na expressão "não ter dinheiro".

Basta pensar na nossa média de filhos e compará-la com a que os nossos pais ou avós tinham para se perceber que cada vez temos menos filhos.
Agora façamos um outro exercício, comparemos a esperança média de vida, poder de compra, nível de vida e qualidade de vida dessas mesmas três gerações.
Enquanto o gráfico do número de filhos desce o das condições de vida sobe a pique.
Se compararmos espaço em vez de tempo o resultado deve ser semelhante, nos países com mais condições encontramos as populações que menos filhos têm e o inverso se passa nos países mais pobres. Façamos as análises todas que quisermos inter e intra-países e todas vão dar-nos uma correlação negativa entre condições para ter filhos e número efectivo de filhos. Ou seja quanto mais condições menos filhos. E porquê? Se perguntarmos às pessoas que não têm filhos a resposta é simples: por que não têm condições.

Mas esperem lá um segundo para ver se isto bate certo.
Quem não tem condições, tem filhos, e quem as tem não quer filhos dizendo que a culpa é de não ter condições? Estou certo?

Pois o problema não é das condições. Nunca, em toda a História, vivemos tão bem como agora, com tanta abundância em oportunidades, saúde, dinheiro, e apoios sociais.
Nunca tantos tiveram tantas condições para ter… tão poucos filhos.
Se o problema não é esse então qual é? E por que razão acham alguns que não têm condições para procriar?

Agostinho da Silva dizia algo assim: Temos cada vez menos filhos e isso não se deve ao facto de não termos meios para os criar, o problema é que os nossos filhos não querem ter pais como nós.

E é mesmo isto que se passa. Os nossos filhos não querem ter pais como nós. É aqui que a porca torce o rabo, os "nossos filhos" são aquilo que queremos que eles sejam e estamos a criar filhos que não querem ter pais como nós. Se criamos filhos quase perfeitos é a perfeição que procuramos. É isso que queremos, só queremos filhos que exijam ser perfeitos. E se assim é, claro que nem todo o dinheiro do mundo é suficiente.
Somos nós que projectamos essa necessidade e ambição nos nossos filhos e se só conseguimos conceber filhos perfeitos então todos os que nasçam e não o sejam vão ser profundamente infelizes. É esta ideia de filhos perfeitos que nos impede de os ter. Porque eles não vão querer nascer e não ser perfeitos. Assim, eles não querem, de facto, ter pais como nós.

É realmente um problema de semântica "não tenho condições" depende das expectativas e consequentemente das nossas ambições. A fasquia está muito alta, cada vez mais alta. Só conseguimos começar a pensar em ter filhos depois de termos um emprego fixo e bem remunerado, casa própria e bem localizada, parceiro fixo e com emprego fixo, carro, casa equipada, etc etc etc. Tem tudo de estar perfeito e os nossos filhos só podem existir se tudo for perfeito.

Se é verdade que as condições para ter filhos nunca foram tão boas também é verdade que o sistema que as criou só o conseguiu por ter gerado a ilusão que mais é melhor.
É esta a chave estamos todos convencidos que mais é melhor.
Foram as expectativas e ambições causadoras das nossas prósperas sociedades capitalistas que causaram este decréscimo na nossa fecundidade. Temos prosperidade e abundância pelas mesma razões que não temos muitos filhos para se gozarem disto tudo. As condições aumentaram e muito, mais do que nunca, mas as expectativas aumentaram ainda mais, por isso nunca temos o suficiente. A causa é mais externa que interna o Mundo é assim, exigente. Mais exigente do que as nossas vidas.
Não sei se é bom ou mau mas acho que vou levar meias rotas ao casamento.