Conjurado
domingo, 26 de junho de 2016
Moçambique ganha um novo geólogo
No passado dia 20 de junho, o Salimo Mário Murrula terminou a sua Licenciatura em Geologia na Universidade do Minho.
Ele tornou-se o único moçambicano a receber formação em Portugal em paleontologia durante 6 anos (2 anos no Museu da Lourinhã + 4 anos na Universidade do Minho). Irá em breve regressar a Maputo e integrará os quadros do Museu Nacional de Geologia de forma a estudar o património fóssil moçambicano.
Este resultado é o fruto do intenso trabalho de colaboração desenvolvido no Projecto PalNiassa (www.palniassa.org).
Tem sido um orgulho acompanhar o percurso do Salimo e de certeza que em breve o seu regresso a Moçambique muito contribuirá para o desenvolvimento da Paleontologia moçambicana.
Parabéns Salimo!
sábado, 16 de abril de 2016
Luís Costa Júnior (1966-2015)
Formado em Geologia pela Universidade Eduardo Mondlane foi director do Museu Nacional de Geologia. Liderou diversas iniciativas e projectos para o estudo das gemas, recursos minerais e paleontologia nacional. Descreveu por exemplo a primeira espécie de vertebrado fóssil autóctone de Moçambique, a: Niassodon mfumukasi (= a rainha do Niassa).
Apostou sempre na formação de todos os que trabalhavam com ele e estabeleceu inúmeras parcerias internacionais. Em Portugal colaborou com diversas instituições, desde o Museu da Lourinhã, Fundação Calouste Gulbenkian, Universidade do Minho, Instituto Superior Técnico, Instituto Gulbenkian de Ciência, Geoparque Arouca, entre outras.
Luís Costa Júnior, em visita ao Museu da Lourinhã (2012) |
Sem preconceitos, desenvolveu esforços para unir a CPLP num bloco económico que soubesse utilizar os recursos geológicos comuns como forma de influenciar e promover o desenvolvimento em diversos países.
Lembro-me de me dizer recorrentemente que as reservas de petróleo, gás natural, carvão e pedras preciosas que existem na CPLP são mais do que suficientes para poder mudar muita coisa no tabuleiro geopolítico internacional. A CPLP possui recursos naturais que devem ser só superados pela OPEP. Quantos de nós já se atreveram a pensar que a CPLP pode um dia ditar o preço do petróleo?
Ao longo dos últimos anos tive a oportunidade de poder conhecê-lo bem.
Era um gigante.
Tinha visão, inteligência, e uma generosidade incomuns.
O seu projecto para a promoção, investigação e conservação da geologia moçambicana representa hoje em dia um exemplo típico de uma abordagem moderna alicerçada no desenvolvimento sustentável da ciência num país como Moçambique.
Sabia o que o seu país necessitava e conhecia a forma de chegar lá. Acreditava nos projectos em que se envolvia e confiava na sua equipa sendo sempre leal com todos. Apoiou e garantiu financiamento para que a maior parte dos seus trabalhadores pudessem estudar no estrangeiro.
O Museu Nacional de Geologia era a sua casa. Deixou-nos uma instituição única que agora se encontra em muito boas condições e em excelentes mãos para continuar a desenvolver os seus 3 grandes pilares: a investigação, conservação do património e a divulgação de ciência.
Foi um prazer poder ser seu amigo, ensinou-me que acima de tudo estão as pessoas e que a ciência deve servir todos e não apenas uma classe de iluminados.
As suas qualidades humanas superavam qualquer outro aspecto da sua personalidade, foi um verdadeiro líder.
Moçambique perdeu um gigante mas a sua obra fica.
Obrigado por tudo Luís, continuaremos a desenvolver a ciência em Moçambique, essa é a melhor homenagem que te poderá ser feita.
sexta-feira, 15 de abril de 2016
Ovos e Embriões Fósseis da Lourinhã, a sua Evolução e Charles Darwin
Carlos Marques da Silva e Rui Castanhinha, os dois palestrantes no dia dedicado à Paleontologia |
O Museu da Lourinhã emprestou um dos seus ninhos de ovos de dinossauros que se encontram em estudo para que pudesse ser exposto e contou agora com uma palestra sobre ovos de dinossauros da Lourinhã e a sua evolução.
O título foi "Ossos duros de estudar: os embriões de dinossauros depois da evolução de Darwin".
quarta-feira, 20 de novembro de 2013
Técnica sobre a experiência
- Isto assim é que é, temos de ir além do que é necessário, além do que dizem todos o manuais. Já devia ter feito isto muito antes de eu chegar.
Continuava a sair água.
Torceu ainda mais.
Continuou a sair água e insistiu de novo.
- Isto do que precisa é de torcer à direita!
... pedi delicadamente que parasse e sugeri experimentar para a esquerda...
- Você só sabe queixar-se, tá louco, isto só lá vai se for para a direita. Toda a gente sabe isso, afinal quem é o especialista aqui? respondeu o Sr. Gaspar.
Pronto, continuo com a casa alagada.
Pelo menos deixei de me queixar e estou a fazer força, agora com ele, para continuar a rodar para o mesmo lado. Se toda a gente sabe que é para a direita, para quê experimentar outra coisa?
segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012
Henslow
terça-feira, 31 de janeiro de 2012
REVISÃO DA ESTRUTURA CURRICULAR JANEIRO DE 2012 CONTRIBUTO DA ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE BIOLOGIA EVOLUTIVA
Transcrevo aqui a carta enviada pela APBE ao Ministério.
"A aprendizagem ao longo dos anos lectivos deve estar organizada em torno de ideias e conceitos centrais a cada disciplina, para que estes possam ser explorados com níveis de complexidade crescente, desde o ensino pré‐escolar (National Research Council [NRC], 1996 e 2007). Tendo em conta que as características das espécies e as suas interacções ecológicas são o resultado de uma longa história evolutiva, a evolução constitui para a Biologia o tema chave e central que permite inter‐relacionar conhecimentos provenientes de todas as sub‐disciplinas da Biologia (National Academy of Sciences [NAS], 1998; National Science Teachers Association [NSTA], 2003). Tal como explicou Dobzhansky em 1973, "Nada faz sentido em Biologia senão à luz da evolução". Reconhecer a ocorrência de evolução biológica e perceber os mecanismos que a promovem permite aos alunos inter‐relacionarem conceitos de diversas áreas da Biologia e integrá‐los num quadro mais vasto de conhecimentos, facilitando desta forma a compreensão do mundo natural e dos sistemas biológicos e ecológicos. Assim, a Evolução constitui um pilar para a organização do programa de ensino da Biologia, sendo fundamental para o entendimento da história da Vida na Terra permitindo, por exemplo, enquadrar a diversidade taxonómica ou compreender a origem e caracteristicas da nossa própria espécie.
A compreensão dos processos evolutivos é ainda fundamental para outras áreas do conhecimento, uma vez que a evolução não é uma propriedade exclusiva do mundo natural mas de várias actividades humanas. De facto, conhecimentos provenientes da Biologia Evolutiva estiveram na base de importantes desenvolvimentos científicos e tecnológicos em áreas tão importantes e diversas como a Medicina, a Psicologia, a Ciência Forense, a Informática, a Linguística e várias áreas da Engenharia, entre outros (Futuyma et al. 1999; Bull e Wichman, 2001; NAS, 2008). Estes conhecimentos são ainda essenciais para a compreensão de problemáticas com impactos na Saúde Pública (como a evolução de patogénes resistentes a fármacos), na Economia (como a evolução do pescado e a evolução de resistência a pesticidas), naqualidade de vida das pessoas ou na conservação de espécies e ecossistemas, sendo por isso fundamentais para o exercício de uma cidadania informada (NAS, 1998; NSTA, 2003).
De acordo com o actual programa curricular português, a Evolução Biológica e os mecanismos evolutivos apenas são leccionados no Ensino Secundário e apenas aos alunos do curso de ciências e tecnologias. Desta forma, muitos dos estudantes que frequentam o sistema de ensino português não contactam com qualquer conhecimento sobre a Teoria da Evolução Biológica, não atingindo por isso a literacia científica necessária para a compreensão global dos sistemas biológicos e para o exercício de uma cidadania informada (NSTA, 2003). A ausência de exposição aos conteúdos sobre evolução ou a sua introdução tardia permite que os alunos adquiram concepções erróneas sobre evolução, o que dificulta o processo de aprendizagem e serve de obstáculo à construção de novo conhecimento (revisto em Martins et al., 2007). Este facto assume particular relevância se atendermos a estudos anteriores que descrevem que a existência de concepções alternativas relativas à evolução e mecanismos evolutivos é comum em adultos e crianças, independentemente da sua cultura, país de origem, convicção religiosa e nível cultural (revisto em Alters e Nelson, 2002, NRC, 2007 e Macfadden, 2008).
Pelo atrás exposto, a Associação Portuguesa de Biologia Evolutiva (APBE) vem por este meio propôr que a Evolução Biológica e todos os mecanismos evolutivos (selecção natural, artificial e sexual e deriva genética) sejam formalmente incluídos nos programas do Ensino Básico, de forma a dotar todos os alunos das ferramentas necessárias à compreensão dos sistemas biológicos. No seguimento das recomendações do NRC (1996 e 2007), a APBE propõe ainda que o conceito de Evolução Biológica seja formalmente incluído no programa do 1º Ciclo, e que os processos evolutivos e suas consequências sejam explorados de forma transversal em Biologia, com níveis de complexidade crescente, ao longo dos níveis de ensino subsequentes. Sempre que possível, a evolução deverá ser explorada através de actividades experimentais e/ou actividades práticas que fomentem a participação e o interesse dos alunos por este tema e facilitem a compreensão de conceitos e mecanismos (ver por exemplo Nadelson et al., 2009 e http://playingevolution.blogspot.com/). Finalmente, a APBE propõe que sejam debatidas com os alunos as implicações e aplicações da Evolução Biológica no seu quotidiano e problemáticas da actualidade.
Referências
Alters B.J., Nelson C.E. (2002).Perspective: teaching evolution in higher education. Evolution 56(10): 1891‐1901.
Bull J.J., Wichman H.A. (2001). Applied Evolution. Annual Review of Ecology and Systematics, 32: 183‐217.
Dobzhansky T. (1973). Nothing in Biology makes sense except in the light of Evolution. The American Biology Teacher, 35: 125‐129
Futuyma D.J. (1999). Evolution, science and society: evolutionary Biology and the national research agenda. The State University of New Jersey, New Brunswick, NJ. Disponível em http://people.bu.edu/cschneid/BI504/Readings/EvolutionWhitepaper.pdf
Macffadden B.J. (2008). Evolution, museums and society. Trends in Ecology and Evolution 23(11): 589‐591.
Martins I.P., Veiga M.L., Teixeira F., Tenreiro‐Vieira C., Vieira R.M., Rodrigues A.V., Couceiro, F. (2007). Explorando Educação em Ciências e Ensino Experimental. Formação de Professores. Ministério da Educação, Direcção‐Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular, 2ª Edição.
Nadelson, L., Culp, R., Bunn, S., Burkhart, R., Shetlar,R., Nixon, K. (2009). Teaching evolution concepts to early elementary school students. Evolution Education Outreach, 2, 458‐473.
National Academy of Sciences (1998) Teaching about Evolution and the Nature of Science. Washington DC.
The National Academies Press National Academy of Sciences and Institute of Medicine (2008). Science, Evolution, and Creationism. Washington DC.
The National Academies Press. National Research Council (1996). National Science Education Standards. Washington DC. The National Academies Press.
National Research Council (2007). Taking Science to School. Learning and Teaching Science in Grades K‐8. Washington DC.
The National Academies Press. National Science Teachers Association. An NSTA position statement: The teaching of evolution. NSTA; 2003."
quinta-feira, 19 de janeiro de 2012
PORTUGAL TEM AGORA ASSOCIAÇÃO DE BIOLOGIA EVOLUTIVA
No entanto, a evolução é uma propriedade não apenas do mundo natural mas de várias atividades humanas e compreender de que forma esta se processa é crucial para o desenvolvimento de diversos setores económicos e sociais. De facto, a aplicação de conhecimentos e de métodos desenvolvidos para estudar a evolução biológica tem permitido o rápido desenvolvimento de áreas tão importantes e diversas como a Biologia e Conservação, a Biotecnologia, a Medicina, a Psicologia, a Ciência Forense, a Informática, a Economia, a Linguística e várias áreas da Engenharia, entre outros.
Reconhecendo a importância que o estudo da Evolução tem para o desenvolvimento cultural, social e económico do nosso País, em dezembro de 2011 foi fundada a Associação Portuguesa de Biologia Evolutiva (APBE).
Iniciativa de cientistas evolutivos a trabalhar em Portugal, esta associação propõe-se contribuir para o desenvolvimento da Ciência Evolutiva feita no país e para a sua divulgação junto da comunidade científica nacional e internacional. Constitui ainda um dos principais objetivos da APBE contribuir ativamente para fomentar o conhecimento e interesse da sociedade portuguesa em relação à Evolução e à forma como esta influencia múltiplos aspetos da vida das pessoas.
APBE - http://www.apbe.pt/
Para mais informação sobre a Associação Portuguesa de Biologia Evolutiva, é favor contactar:
* Hugo Gante (Universidade de Basel, Suiça) | E-mail: hugo.gante@unibas.ch | Tel. +41 61 267 03 05
* Rui Castanhinha (Instituto Gulbenkian de Ciência e Museu da Lourinhã, Portugal) | E-mail: rcastanhinha@gmail.com | Tel. +351 21 446 4651
sexta-feira, 23 de dezembro de 2011
Associação Portuguesa de Biologia Evolutiva
Ao longo de vários anos a comunidade científica na área da Biologia Evolutiva tem vindo a crescer em Portugal. São prova disto as diversas teses académicas e artigos publicados na área por investigadores portugueses que trabalham nos melhores centros de investigação nacionais e estrangeiros, bem como, a organização de sete encontros nacionais ao longo de todo o país.
Em resultado deste crescimento surgiu a necessidade da criação de uma organização que representasse todos estes investigadores e que pudesse promover e apoiar a comunidade científica que se dedica ao estudo e divulgação da Biologia Evolutiva em Portugal.
No último Encontro Nacional de Biologia Evolutiva foi criada uma comissão fundadora que tratou de oficializar e criar a Associação Portuguesa de Biologia Evolutiva. Desde então escreveram-se os estatutos, foram recolhidas quotas e tratou-se do registo oficial.
A APBE é uma realidade e é do interesse de todos nós que o número de associados cresca e que existam mais pessoas envolvidas no desenvolvimento da nossa associação.
Esperamos que todos os biólogos evolutivos que se identificam com os nossos objectivos estatutários se possam associar e fazer parte desta nossa associação.
Os membros fundadores da Associação Portuguesa de Biologia Evolutiva,
Isabel Gordo
Rui Castanhinha
André Levy
Hugo Gante
Rita Campos
Alexandra Pinto
Alexandra Lopes
Sara Branco
Ricardo Pereira
Paula Campos
Rui Faria
sexta-feira, 9 de dezembro de 2011
Projecto PalNiassa wins National Geographic Award
O National Geographic Society's Committee for Research and Exploration premiou-nos com um Young Explorers grant pelo nosso projecto "Projecto PalNiassa: mammal ancestors from an unexplored basin from the end-Permian Mass Extinction event".
Este apoio vem garantir a viabilidade da próxima expedição a Moçambique. Desta forma poderemos dar continuidade aos trabalhos que a equipa PalNiassa tem estado a desenvolver.
domingo, 30 de outubro de 2011
A vergonha no fim de Kadafi
"2006 termina com uma lição: aprendemos muito pouco.
Quem condena um culpado não pode, como penitência, seguir-lhe o exemplo."
E é tudo isto ainda mais triste, pois não tendo havido nenhum julgamento, Kadafi morre inocente nas mãos de um novo regime que não nasce sem mácula.
sexta-feira, 28 de outubro de 2011
Relatórios e tretas...
Grande ideia, como é que ninguém pensou nisto antes?
Mais, neste relatório não há nem uma só palavra sobre a política de filho único na China e muito menos sobre a política de aborto forçado e/ou esterilização forçada, que ainda hoje é uma realidade no país que mais abortos faz em todo o mundo. Nada disso, o que faz falta é "Expand access to legal abortion and ensure that safe and legal abortion services are available to women in need."
Depois, tenho pena que o relatório não inclua os dados desde os primeiros anos em que o aborto foi legalizado no respectivos países, refere-se apenas a dados posteriores a 1995. Podem ver que pelo menos em alguns países aconteceu uma explosão nos número de abortos: http://conjurado.blogspot.com/2007/01/espanha-estados-unidos-e-gr-bretenha.html (os gráficos do link referem-se a abortos registados oficialmente desde os primeiros anos da legalização nos respectivos países e não apenas a dados posteriores a 1995).
Mas, e mesmo que tudo isto não fosse verdade e bastante para enojar qualquer um, saltam ainda à vista uma completa falta de coerência na argumentação e uma confusão clarissima.
A incoerência vem da aparente preocupação do relatório em demonstrar que a legalização ajuda a baixar o número total de abortos.
Como se isso fosse um problema para quem acha que tudo isto deve ser apenas uma questão de consciência da mãe.
Se partimos do princípio que não há problema em legalizar o aborto porque é uma questão de consciência, então por que razão estamos preocupados com o facto de a legalização fazer ou não baixar o número total de abortos?
Ou seja, se acho que fumar charros é apenas uma questão de consciência individual, por que razão me hei de me preocupar se a sua legalização baixa ou aumenta o número de charrados? Se fumar um charro é tão legitimo como fazer um aborto eu quero lá saber se há mais ou menos charrados(as) a engravidar e a abortar do que no ano passado!
Para ser claro, cá vai o raciocínio:
Nenhum de nós se deve preocupar em baixar o número de acções legítimas.
Logo, não nos devemos ralar com a diminuição do número de abortos.
Há algum erro que eu não esteja a ver?
O que é verdade é que, por mais coerente que seja, nunca ouvi ninguém defender algo parecido à conclusão do silogismo. Todos dizem que estão muito empenhados em fazer baixar o número de abortos e toda gente julga que isso é óbvio e nada tem que ver com "lado da barricada" em que se está. Ora isso não é bem verdade.
Se não há nenhum erro em nenhuma das premissas, temos de aceitar a conclusão e, de facto, pode perfeitamente deixar de fazer qualquer sentido continuarmos preocupados com as variações dos números de uma prática que consideramos legítima.
Podemos até cair numa posição tão caricata quanto coerente ao acabarmos por nos preocupar com a diminuição do número de abortos. Se há menos mulheres a praticar abortos então talvez esteja a haver uma pressão social para diminuir uma acção que é perfeitamente legítima, individual e que não deve nunca ser contrariada. Se andamos a fazer menos abortos talvez seja porque a sociedade se anda a meter na vida das mulheres e devemos contrariar esta intromissão inaceitável... ou, ou talvez isto seja ir longe demais.
No entanto é tudo resultado da confusão que mencionei antes.
Ela existe, é clara e baralha legitimidade com conveniência.
Mesmo que a legalização fizesse diminuir o número de abortos ela só deveria ter lugar se fosse legítima.
Uma lei para existir tem de ser legítima e conveniente, ambas as condições são necessárias e só juntas são suficientes para que possamos legislar algo.
São sempre necessárias as duas condições: legitimidade e conveniência.
E é por não ser conveniente que não se despedem centenas de milhares de funcionários públicos para reduzir o défice do estado. Esta medida é tão legítima como cortar dois meses de salários anuais e o nosso parlamento tem toda a legitimidade depois de eleito para poder fazer qualquer uma das coisas. No entanto parecem estar a optar pela segunda hipótese por acharem que, embora tão legitima como a primeira, é mais conveniente para todos. Mais uma vez só quando temos as duas condições satisfeitas é que devemos aceitar uma medida.
O ponto fundamental é saber se o aborto é legítimo ou não. Se é legítimo, a sua legalização resulta do facto de ser legítimo e não do facto de fazer diminuir a sua prática. E se o aborto é ilegítimo, como podemos legitimá-lo? Ou basta dizer que é extremamente conveniente para passar a ser legítimo?
Dizer "vamos legalizar X mesmo sabendo que é ilegítimo porque se o fizermos isso é muito conveniente pois ajuda a diminuir esse mesmo X", não me parece que seja uma boa prática pois deixa a porta aberta a todo o tipo de legalização. Trocando, na frase anterior, "X" por "pedofilia", "infanticídio" ou "aborto até aos 9 meses" talvez ajude a obviar o ridículo da questão.
Concluindo. Fico contente que, se os números do relatório estiverem correctos, desde 1995 até 2003, o número de abortos legais esteja alegadamente a diminuir no mundo mas julgo que as políticas de planeamento familiar e aumento global das condições de vida sejam as verdadeiras responsáveis por esse aparente facto: apesar do aborto ser legal e não por causa de o ser!
Mas continuo muito triste por saber que, todos os anos, morrem mais de 40 milhões de crianças antes de nascerem, porque a sociedade onde todos vivemos apenas tem para oferecer a uma mãe desesperada e grávida um aborto e não uma vida digna para deixar crescer o seu filho.
No final de lerem este texto devem ter sido abortadas a pedido da mãe, mais de 400 crianças!
terça-feira, 25 de outubro de 2011
Fósseis de Moçambique, terra da boa terra.
Desde 2009 que uma equipa de investigadores Portugueses e Moçambicanos tem vindo a desenvolver, com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian, uma campanha de estudo dos fósseis de Moçambique intitulada Projecto PalNiassa (www.palniassa.org).
Há qualquer coisa de diferente na cor e no cheiro de África. Não é fácil saber o quê, mas existe. Quando se chega, há uma ligação com a terra, com as pessoas, com o ar e, sem se saber muito bem porquê, não conseguimos deixar de nos sentir em casa. O título "terra da boa gente" dado por Vasco da Gama após ter aportado em Moçambique no séc. XV é, ainda hoje, justamente célebre. Muito embora a fama da gente tenha vingado, pouco se sabe sobre a terra que essa mesma gente pisa. O solo de Moçambique é fecundo em recursos minerais e quase sempre fértil, mas há ainda muito por descobrir.
África, e especialmente Moçambique, não tem sido alvo de intensas campanhas paleontológicas. Muitas são as zonas com conflitos armados e é comum existirem áreas interditas por estarem minadas. Assim, e pela primeira vez, Moçambique conta com um projecto internacional exclusivamente dedicado ao estudo da paleontologia de vertebrados em todo o seu território - o projecto PalNiassa.
A equipa do projecto é composta por investigadores do Instituto Gulbenkian de Ciência (Rui Castanhinha), do Museu Nacional de Geologia (Maputo), da Universidade Eduardo Mondlane, da Universidade Metodista do Sul (Dalas) e do Museu da Lourinhã. O projecto tem por objectivos fazer investigação, preservar o património paleontológico moçambicano e divulgar a ciência. Este triângulo de investigação, conservação, e educação é central em todo o trabalho desenvolvido pela equipa PalNiassa.
No âmbito da investigação foram recolhidos na província do Niassa mais de meia tonelada de fósseis que foram transportados para Portugal, com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian e da TAP. Os animais descobertos encontram-se em excelentes condições e estão extremamente completos. A sua maioria pertence ao grupo evolutivo de onde surgiram todos os mamíferos: os sinapsídeos. Viveram há aproximadamente 250 milhões de anos, no final do Pérmico, período geológico que antecedeu a maior extinção visível no registo geológico. Julga-se que tenham desaparecido na transição do Pérmico para o Triásico mais de 95% de toda a biodiversidade do planeta, logo, importa compreender a fauna que habitou o sudoeste africano, numa altura em que todos os continentes se encontravam ligados.
Todo o material encontrado é património da República de Moçambique e regressará ao país de origem com técnicos formados, instalações museológicas para os receber e conhecimento científico para enriquecer o património não material moçambicano. Para além de vários artigos em curso e já submetidos a revistas científicas, na passada semana um dos fósseis mais completos foi analisado por tomografia de raios-X nas instalações alemãs do sincrotrão de Hamburgo (www.desy.de) de forma a reconstruir virtualmente o seu interior.
Neste momento existe um estagiário moçambicano (Salimo Mario) a receber formação em preparação de fósseis no Museu da Lourinhã com uma bolsa financiada pela Fundação Calouste Gulbenkian. Este será o primeiro preparador de fósseis da história de Moçambique e estão em curso planos para a construção do laboratório de estudos paleontológicos em Maputo. Alguns destes fósseis podem ser observados no Museu Nacional de Geologia em Maputo bem como, até dia 9 de Outubro, numa exposição temporária do Museu da Lourinhã.
O projecto PalNiassa continuará por mais anos sempre em busca de mais descobertas, mais cientistas e melhores recursos para o desenvolvimento da ciência em Moçambique.
Por: Rui Castanhinha
Publicado na Newsletter da Fundação Calouste Gulbenkian, Outubro de 2011
quinta-feira, 11 de agosto de 2011
Fósseis de África no Museu da Lourinhã
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sexta-feira, 29 de julho de 2011
Projecto PalNiassa: artigo na Newsletter da GSAf (Geollogical Society of Africa)
Saíu na nova Newsletter da Geological Society of Africa um pequeno artigo sobre o Projecto PalNiassa. A interacção com a academia moçambicana, nomeadamente o geólogo Lopo Vasconcelos (mas também Mussa Achimo, João Mugabe, entre outros) tem sido crucial para o desenrolar do Projecto PalNiassa, do qual resultou este pequeno artigo sobre o Projecto. Estamos juntos!
Texto: Ricardo Araújo
terça-feira, 26 de julho de 2011
Reportagem RDP África
segunda-feira, 25 de julho de 2011
Científica Mente 2011
PalNiassa 2011 - Moçambique investe no crescimento da Paleontologia no país
2011-07-23 RUI CASTANHINHA E RICARDO ARAÚJO REGRESSARAM A MOÇAMBIQUE PARA A TERCEIRA EDIÇÃO DO PROJETO PALNIASSA. DESTA VEZ SALIMO MURRULA, O ESPECIALISTA MOÇAMBICANO QUE ESTÁ EM PORTUGAL A FAZER FORMAÇÃO EM PREPARAÇÃO DE FÓSSEIS, ACOMPANHOU-OS. O MUSEU NACIONAL DE GEOLOGIA, EM MAPUTO, RECEBEU O PRIMEIRO VESTÍGIO RECOLHIDO NAS ANTERIORES EDIÇÕES, JÁ TRATADO E ESTUDADO.
A Paleontologia em Moçambique continua a crescer e consolidar-se. Passos seguros estão a ser dados pelo país, a partir de um projeto que começou de forma relativamente modesta em 2009, o PalNiassa. Nessa altura, dois jovens investigadores portugueses, Rui Castanhinha e Ricardo Araújo, foram procurar fósseis no Niassa. Contaram com apoio logístico das instituições moçambicanas e fizeram, logo nessa primeira expedição, descobertas muito interessantes. O esqueleto completo de um sinapsídeo, um pequeno vertebrado, antepassado longínquo dos mamíferos, terá sido a mais entusiasmante, mas outros vestígios da vida do Pérmico, há 250 milhões de anos, foram recolhidos e estão ainda a ser estudados.
Em 2010, na segunda expedição, o projeto cresceu e iniciou-se a ponte em sentido inverso: um técnico moçambicano iniciou uma formação de um ano, em Portugal, no Museu da Lourinhã, como preparador de fósseis, ao abrigo de uma bolsa concedida pela Fundação Calouste Gulbenkian. Salimo Murrula está há sete meses em Portugal e quando regressar será o primeiro preparador de fósseis da história de Moçambique.
O Museu Nacional de Geologia de Moçambique irá receber os fósseis à medida que estejam completamente preparados e estudados. O primeiro vestígio já chegou a casa e muitos outros, espera-se, farão esse mesmo caminho de regresso.
Nesta edição falamos com Rui Castanhinha, nesta altura a fazer um doutoramento no Instituto Gulbenkian de Ciência, em Oeiras em Portugal, com Ricardo Araújo, a fazer um doutoramento na Universidade Metodista do Sul, no Texas, nos Estados Unidos e com Salimo Murrula especialista moçambicano a fazer formação no Museu da Lourinhã, em Portugal.
Em 2010, na segunda expedição, o projeto cresceu e iniciou-se a ponte em sentido inverso: um técnico moçambicano iniciou uma formação de um ano, em Portugal, no Museu da Lourinhã, como preparador de fósseis, ao abrigo de uma bolsa concedida pela Fundação Calouste Gulbenkian. Salimo Murrula está há sete meses em Portugal e quando regressar será o primeiro preparador de fósseis da história de Moçambique.
O Museu Nacional de Geologia de Moçambique irá receber os fósseis à medida que estejam completamente preparados e estudados. O primeiro vestígio já chegou a casa e muitos outros, espera-se, farão esse mesmo caminho de regresso.
Nesta edição falamos com Rui Castanhinha, nesta altura a fazer um doutoramento no Instituto Gulbenkian de Ciência, em Oeiras em Portugal, com Ricardo Araújo, a fazer um doutoramento na Universidade Metodista do Sul, no Texas, nos Estados Unidos e com Salimo Murrula especialista moçambicano a fazer formação no Museu da Lourinhã, em Portugal.
por : Ana Paula Gomes
Tags : Moçambique,Portugal
sábado, 23 de julho de 2011
Robert FitzRoy, Julho 23
Capt. FitzRoy was concern that he may have taken faulty measurements at San Salvador so he ordered the Beagle on a detour back to South America.
A sua personalidade, em muitos aspectos oposta a Darwin, muito deve ter contribuído para a consolidação e revisão de muitas das ideias revolucionárias deste brilhante cientista.
É também o oposto de Henslow, FittzRoy é um personagem carrancudo, autoritário e fundamentalista (Um típico capitão da marinha britânica do séc. XIX). Mas é, em igual medida, um homem forte, leal, honesto e extremamente meticuloso. Ficou para a História como o capitão da viagem que veio a provocar a maior revolução científica no campo da Biologia alguma vez operada na cabeça de um só homem: a teoria da evolução por selecção natural.
Sem a sua personalidade e sem o seu constante temperamento de debate e discussão com Darwin sobre todos os assuntos mais ou menos científicos, teria sido praticamente impossível a este último formular e reestruturar toda a sua visão sobre o mundo durante a viagem do Beagle.
A figura do capitão FitzRoy ensina-nos que os nossos opostos são úteis por nos obrigarem a repensar o que achamos certo e reformular o que está errado, ele é o símbolo de uma viagem de circum-navegação cheia de discussões críticas que, por isso mesmo, abriu caminho a mais e melhor ciência.
quarta-feira, 20 de julho de 2011
Site do MNG
A exposição foi reaberta pelo ex-presidente Joaquim Chissano no dia 21 de Setembro de 1992.
O MNG possui actualmente um total de 5853 amostras, das quais cerca de 800 estão expostas, despertando maior atenção e atracção as pedras preciosas e semi-preciosas, os minerais industriais tecnicamente valiosos e os cristais, invulgares pelas suas dimensões.
Visitando o museu, esta inicia com a sala 1 com a exposição do desenvolvimento da história da terra e alguns fósseis de Moçambique, alguns dos quais descobertos pela nossa equipa em 2009.
O seu actual director é o Dr. Luís Costa Júnior que é ainda um dos lideres do projecto PalNiassa, a ele se deve grande parte do mérito por todo o dinamismo e desenvolvimento do Museu.
segunda-feira, 18 de julho de 2011
Com atraso: Penúltimo dia
"It is not even the beginning of the end."
"But it is, perhaps, the end of the beginning."
sexta-feira, 15 de julho de 2011
quarta-feira, 13 de julho de 2011
Julho, segunda quarta-feira
É sempre presente a voz de quem nos falta.
Julgo que apenas fui uma criança feliz enquanto vivi tudo pela primeira vez e, apesar de ser quase tão óbvio como curioso pensar que houve uma primeira vez que olhei para lua, que comi um gelado ou que ouvi o eco duma pedra a bater no fundo dum poço, parece triste saber que só alguns continuam a sentir esse constante espanto pela maravilha que nos rodeia.
É, é isto.
O universo faz sentido e o nosso tempo deve servir apenas para deixar conhecimento e beleza novos ao mundo, tudo o resto é trivial.
Nada tem maior valor do que o brilho nos olhos de alguém que percebeu algo de novo e nada há de mais generoso do que dedicar a vida a conhecer o mundo para que os outros se maravilhem com isso.
Há memórias que nunca se apagam e continua presente a voz de quem nos falta. Prefiro fazer ciência a ouvir falar dela. É quase sempre assim, em tudo, mas enquanto penso nisto pela primeira vez, sei que é um privilégio nunca desistir de ser criança.
terça-feira, 12 de julho de 2011
Dia 12 de Julho
A realidade é outra num céu diferente, a lua não mente e a moral, essa, revela-se pequena e particular.
Pouco há a fazer quando os costumes nos são estranhos e a surpresa se antecipa a qualquer reacção mais coerente.
Dia de Palestra Pública, com letra maiúscula e no Hotel VIP que tem mais impacto, claro está, com direito a anúncio de meia página, gordo e a cores, no Notícias.
Algumas caras conhecidas por entre outros tantos olhos atentos ouvem sentados a introdução atrasada onde as palavras, simples e claras, são novidade e todos querem saber mais.
Parece que somos mais ricos do que pensávamos e há muito por descobrir.
O Diictodon que ilumina a sala projecta-nos de volta ao nosso passado distante de pedras, ossos e origens. Somos humanos, sinapsídeos e curiosos.
A imagem do bicho, roubada a um colega, serve o propósito estimulando a discussão e aguçando a curiosidade.
Mais algumas respostas intercaladas e uma salva de palmas alegra a sala.
Gostaram, nós também.
De volta ao Turismo o elevador encrava e a sirene de incêndio dispara.
Falso alarme mas o pânico cresce e há já quem se deite no chão para encontrar ar no respirador que roça os nossos tornozelos.
Eu não passo bem, não passo bem.
As portas abrem no décimo e chegamos ao quarto onde uma última lição nos aguarda.
Nunca nos podemos esquecer, a porta não pode estar aberta. O hotel não permite, pode entrar mosquito.